terça-feira, 18 de setembro de 2012

CARREIRA SOLO

Russomanno esteve com Maluf por 14 anos até carreira solo
Abril de 2011. Celso Russomanno discursa no auditório Petrônio Portella, no Senado Federal, e se lança pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. O evento é um dos pontos altos da convenção nacional de seu partido, o PP, de Paulo Maluf.
Setembro de 2011. Russomanno é protagonista de outro ato de lançamento de pré-candidatura. Agora, na capital paulista. Dessa vez pelo PRB, legenda controlada por membros da Igreja Universal e pela qual ele agora lidera a corrida pela prefeitura com 32% das intenções de voto.
Primeiro ato de Russomanno no novo partido: criticar Maluf, que naquele instante havia acabado de fazer um acordo com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para participar do governo estadual e apoiar um candidato tucano à prefeitura.
Veja a íntegra das sabatinas de candidatos à Prefeitura de São Paulo Russomanno diz que texto criticado pela Igreja é 'opinião de blogueiro' Na TV, candidato do PRB diz sofrer os 'ataques mais baixos' Russomanno usou Câmara para pagar mais uma funcionária.
Foi o acordo Maluf-Alckmin que, semanas antes, tinha inviabilizado a candidatura de Russomanno pelo PP.
No PRB, o ex-deputado federal e apresentador de TV conseguiu o palanque que tanto queria. E Maluf, alguns bons meses depois, acabou aliando-se à chapa de Fernando Haddad (PT).
Desde então, Russomanno tem recorrido a um mantra para evitar falar sobre os 14 anos que serviu ao partido do ex-prefeito: "Quem tem que explicar o Maluf é o candidato petista", repete.
Ao longo de quase uma década e meia no PP, Russomanno já havia pleiteado a candidatura a prefeito de São Paulo em outras duas ocasiões: 2004 e 2008. Maluf ficou com a vaga nos dois anos.
Apesar dos embates com o líder da legenda, Russomanno sempre continuou no partido --que ainda se chamava PPB quando ele se filiou, egresso do PSDB, em 1997.
Russomanno disputou cinco eleições pelo PP. Obteve mandato de parlamentar em 1998, 2002 e 2006, tentou se eleger prefeito de Santo André, no ABC paulista, em 2000 e, em 2010, candidatou-se a governador.
Ele costuma falar do pleito de dois anos atrás como "um inferno", devido a sua alegada relação conflituosa com Maluf. Mesmo assim, fizeram campanha juntos desde o final de 2009, quando foi definida a pré-candidatura.
"Começamos a levá-lo a todas as regiões do Estado. Quando iniciava reuniões com lideranças do interior, ele rasgava elogios: dizia que o Maluf foi o melhor governador que São Paulo já teve", diz o secretário-geral do PP paulista, Jesse Ribeiro, aliado de Maluf.
Em entrevistas e debates, Russomanno defendia projetos e obras de Maluf, inclusive quando questionado sobre as acusações de corrupção contra o então colega de partido. Em debate da TV Record, em setembro de 2010, afirmou: "Ninguém pode negar as coisas boas que ele fez. Ninguém circularia em São Paulo se não fossem todas as avenidas que ele fez".
"Era uma defesa diplomática", diz o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), recém-incorporado ao "núcleo duro" da campanha de Russomanno. "Ele foi marginalizado pelo Maluf, sempre teve divergências pelo comando do PP."
À Folha Maluf disse "colecionar" os elogios que recebia do agora desafeto. "A relação pessoal nunca foi ruim. Ele sempre foi uma pessoa que me elogiou muito. Tenho aqui uma coleção de testemunhos das palavras generosas que ele disse para mim, que eu nem mereço tanto. Ele era um puxa-saco."
No fim de 1999, Russomanno apenas ensaiou uma mudança para o PMDB. Alguns de seus aliados afirmam que a relação teria se deteriorado em razão do aumento das denúncias contra Maluf.
Há controvérsias. No ano seguinte, ele foi apoiado pelo ex-prefeito na eleição de Santo André.
Um integrante do PP brinca que, até 2004, a relação dos dois era "beijo na boca".
MALUF 'EM BAIXA'
"No começo, ele sempre acatava as ordens da liderança. O Maluf era a estrela do partido", afirma Jesse Ribeiro. "Quando Maluf entrou em baixa, ele começou um movimento contra ele."
Em 2004, quando pleiteava disputar a Prefeitura de São Paulo, Russomanno, que presidia o PP municipal, bancou a instauração de uma comissão de ética no partido para investigar as supostas contas de Maluf no exterior.
O objetivo era tirar o ex-prefeito da sigla. Maluf lançou-se candidato e foi homologado em convenção boicotada por Russomanno.
Um acordo pôs fim ao impasse, mas as divergências voltaram depois que Maluf ficou de fora do segundo turno. Russomanno apoiou o tucano José Serra --hoje seu adversário--, enquanto Maluf defendeu Marta Suplicy (PT).
Após a eleição, o PP municipal votou pelo afastamento de Maluf da legenda até a apuração as denúncias contra ele. Não deu em nada.
Dois anos depois, foi Maluf quem mobilizou aliados para pedir à Justiça Eleitoral o afastamento de Russomanno, que à época já era presidente estadual do PP. Uma liminar o manteve no cargo.
Malufistas reclamam da aliança que Russomanno havia firmado com o PMDB em 2006, colocando o irmão Attila, vereador na capital, como candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Orestes Quércia.
"Vínhamos daquele momento do Maluf preso. Ele conduziu o processo como queria", diz Jesse Ribeiro.
Em 2005, Maluf e seu filho Flávio passaram 40 dias detidos na carceragem da Polícia Federal em São Paulo, acusados de tentar interferir em um processo movido contra eles por evasão de divisas.
Ainda em 2006, candidato a deputado federal, Maluf elegeu-se com 739 mil votos. Celso Russomanno se reelegeu com 573 mil.
O ex-deputado Vadão Gomes (PP-SP) diz ter sido "mediador" de boa parte dos desentendimentos entre Russomanno e Maluf. Mesmo hoje, ele minimiza as refregas: "Os dissensos foram coisas naturais de dois grandes líderes".
A deputada Aline Corrêa (PP-SP) diz lamentar até hoje a saída de Russomanno: "Vejo com muito pesar. A gente queria trazer o PP um pouco mais para atualidade. O Celso reclamava muito disso, era natural que procurasse outro partido", afirma.
Aline e Russomanno tiveram uma discussão acalorada em 2008, tendo novamente como pano de fundo a eleição municipal.
Ele havia perdido a vaga de candidato para Maluf. Ela fora indicada para vice. Em reunião em Brasília, pouco tempo depois de ela ser oficializada na chapa de Maluf, Aline teria sido ofendida por Russomanno e o empurrou.
Na versão dele, a deputada o "estapeou" e arrancou botões de seu paletó. Hoje, dizem ser amigos.
Russomanno, que ficaria no PP por mais três anos e receberia o apoio de Maluf na eleição estadual, afirmou na época que não quis e "nem aceitaria" ser vice dele "porque quero a minha imagem bem longe da dele".
Para Vadão Gomes, apesar de estar fora do PP, Russomanno "leva sem dúvida um pouco do malufismo com ele". Uma evidência, diz, é o foco que tem dado à segurança pública em seus discursos.
O cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, parece concordar. Para ele, a herança dos votos do malufismo é um dos fatores que ajuda a explicar o bom desempenho de Russomanno nas pesquisas.
"É um eleitorado conservador, que se alinha numa crítica mais forte aos partidos de esquerda. Ele está surfando nessa onda", resume.
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