quarta-feira, 7 de novembro de 2012

OS COMUNISTAS E AS ELEIÇÕES

Diante do que se pode observar, nas eleições recém-findas, pode-se afirmar consoante o ditado popular: já não temos mais comunistas como antigamente. Os comunas perderam a vermelhidão, como que amarelaram diante da possibilidade de participar de uma luta político-eleitoral de enfrentamento com forças tendentes ao absolutismo, ainda que arrimadas em discurso democrático, que não passa de sofisma. Falo, especificamente, do caso de Fortaleza, onde o Partido Comunista do Brasil-PCdoB, o mais visível dos nanicos que ainda se arvoram em seguir os postulados marxistas, não se achou disposto a abandonar o oportunismo governista, optando por apoiar um projeto claramente hegemônico no Estado, em vez de aliar-se ao partido com o qual está historicamente mais afinado do ponto de vista ideológico, o PT.
Ensina a Ciência Política, desde Nicolau Maquiavel e Montesquieu, que não se deve conceder poder total a quem quer que seja, sob pena de vermos as liberdades tolhidas e, consequentemente, a democracia esvair-se em discursos demagógicos, projetos festivamente anunciados, mas jamais realizados. No Ceará, de fato, já temos um exemplo acabado do perigo que configura para a democracia um projeto de governo, cujo mando vai além do que preconiza a clássica repartição de poderes. A Assembleia Legislativa do Ceará não passa de um apêndice do governo do Estado. E até ontem, quando a bancada do PT aliava-se ao governador, a situação era simplesmente risível, para não dizer degradante. Só o deputado Heitor Férrer encarnava o quixotesco papel de oposição.
O rompimento do PT da prefeita com o PSB do governador é algo saudável para a democracia. Neste cenário, cavalgando um discurso piegas e caudatário do poder, os comunas abandonaram definitivamente a revolução. Esqueceram por completo a lição de Lênin: “Só os velhacos e patetas podem acreditar que o proletariado deve primeiro conquistar a maioria nas votações realizadas sob o jugo da burguesia, sob o jugo da escravidão assalariada, e que só depois deve conquistar o poder. Isto é o cúmulo da imbecilidade ou da hipocrisia, isto é substituir a luta de classes e a revolução por votações sob o velho regime, sob o velho poder”. Claro está que o texto leninista nada mais vale para os comunas dos dias hodiernos, os quais, aburguesados, preferem refestelar-se nos gabinetes de ar condicionado a adotarem uma postura de enfrentamento com forças oligárquicas ou tendentes a tal.
Pelo que se nos foi dado observar nas eleições, em Fortaleza, como em muitas cidades brasileiras, os comunas, definitivamente, perderam a validade ideológica em relação ao pensamento marxista-leninista. Transformaram-se melancolicamente em grupelhos eleitoreiros sem qualquer expressão vanguardista. Mais do que para os partidos europeus da década de 1980, vale para os comunas, que militam entre nós, cujo discurso não se coaduna com a prática, a conceituação do filósofo francês Jean Baudrillard: eles viraram paraísos artificiais da política...
Artigo de Barros Alves, publicado no O Estado.
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