Temido pela baixa audiência, o horário reservado à segunda
linha de shows da sexta-feira na Globo pena para emplacar uma produção que
reviva os tempos de grandes índices e repercussão de Os Normais (2001). Depois
de experiências que não resultaram o esperado, como O Dentista Mascarado
(2013), Macho Man (2011) e Como Aproveitar o Fim do Mundo (2012), a emissora
exibe agora A Mulher do Prefeito.
Sem exageros e histrionismo, a série conta a história de
Aurora Rangel (Denise Fraga), uma adestradora de cães que, depois de ver o
marido prefeito metido em um escândalo de corrupção, é obrigada a assumir a
prefeitura da fictícia cidade de Pitanguá, da qual era, teoricamente, a
vice-prefeita. Reinaldo Rangel (Tony Ramos), seu marido, é detido em regime de
prisão domiciliar, mas mesmo assim não deixa de dar ordens e continuar mandando.
Para isso, precisa driblar a ingenuidade da esposa, que descobre, ainda, sua
infidelidade e as mentiras que contou durante os anos de casamento.
Além da administração da cidade, Aurora tem também a tarefa
de não deixar o casamento naufragar. A graça de A Mulher do Prefeito é
involuntária, não esculachada como em Os Normais. O riso ali é provocado por
ironias e piadas pontuais no texto, que não chega a ser completamente cômico,
visto que beira a dramaticidade em certos momentos. Talvez seja nessa lacuna o
problema da série, que não causou o “boom” esperado.
É complicado classificar A Mulher do Prefeito apenas como
cômica. A série também não chega a ser uma comédia de costumes, a exemplo de A
Grande Família. É, sim, uma produção que passeia pela comédia crítica, com
alusões a situações vividas na vida pública brasileira, como o superfaturamento
de obras em tempos de Copa do Mundo, os mandos e desmandos de figurões das
elites locais e as regalias que figuras políticas brasileiras têm quando são
presas no mesmo regime que o prefeito da série.
O grande atrativo da série, sem dúvida, é o elenco. É
justamente nos pontos mais dramáticos da história que Denise Fraga tem a chance
de mostrar outro lado desconhecido do grande público: o seu talento para papéis
mais densos. Ela imprime graça à sua personagem, é óbvio, mas isso é
secundário. Contida, ela mais emociona pelo drama do que pelo riso solto. Tony
Ramos está bem, mas qualquer elogio a ele é chover no molhado. Ramos poderia
fazer papel de japonês mudo e, ainda assim, convenceria o telespectador. Destaque
também para Felipe Abib, na pele de Seixas, o assessor atrapalhado e apaixonado
por Aurora.
A direção de Luiz Vilaça traz um respiro de novidade. Não
chega a ser conceitual, mas nem de longe lembra o padrão visto nas novelas. As
locações, que fogem dos cenários produzidos, ajudam a dar um ar de realidade à
história, mas a trilha sonora, com hits de outros tempos, e o figurino country
destoam do restante, o que pode causar estranhamento.
Por trazer um registro crítico não carregado da vida pública
brasileira, a A Mulher do Prefeito vale a atenção, mas dificilmente será a
salvação do horário. Sua fraca repercussão é sintomática da maneira como a
sociedade trata a politicagem brasileira: com desdém.
Por Raphael Scire, da coluna Notícias da TV, de Daniel Castro
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