terça-feira, 21 de janeiro de 2014

UM MACUMBÓDROMO PARA O RIO

Por Mariana Brugger, revista ISTOÉ
Num dia, bela oferenda. No outro, um monte de lixo. Perseguidas por seguidores de outras crenças e por ecologistas em função dos rituais nos quais depositam frutas, bebidas e flores para suas divindades, a umbanda e o candomblé vão ganhar o primeiro espaço público para realizar suas práticas sem poluir o meio ambiente. A Curva do S, no Alto da Boa Vista, zona norte do Rio, ganhará agora status de Espaço Sagrado. O local será pavimentado para não gerar incêndios e ganhará central de tratamento de resíduos religiosos e recantos para cada divindade (leia quadro). As obras começam em fevereiro e devem ficar prontas no segundo semestre.
Para dar forma ao Espaço Sagrado, a Secretaria de Meio Ambiente (SEA) do Estado do Rio de Janeiro, que está à frente do projeto, discutiu com representantes religiosos o que seria possível fazer para manter os rituais e preservar a natureza. Entre as sugestões estão o uso de folhas em vez de alguidar para depositar oferendas e coités em vez de taças de vidro. “O reconhecimento de um espaço para a gente por parte das autoridades acaba com aquela ideia distorcida de que estamos fazendo algo irregular”, explica Mãe Fátima Damas, presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil (CEUB).
Entretanto, a experiência ainda é vista com desconfiança. “Apoiamos, desde que não encurralem a gente em um canto cercado e pequeno, sem policiamento”, pontua Dayse Freitas, diretora cultural da Federação Brasileira de Umbanda. Mãe Fátima lembra que, no projeto original, o local para acender velas será distante do espaço para oferendas. “Essa permissão só não pode significar a impossibilidade de uso de outros espaços públicos para rituais”, explica Sônia Giacomini, antropóloga do departamento de ciências sociais da PUC-Rio.
O projeto pioneiro carioca poderá se multiplicar. Carlos Minc, secretário estadual de Meio Ambiente, já foi procurado por autoridades de outros Estados para compartilhar a experiência. “Outras duas áreas do Rio deverão receber Espaços Sagrados também”, afirmou. Dessa forma, será possível fugir de santuários e parques privados que cobram pela entrada para a prática de cultos. O Brasil conta com 589 mil praticantes de religiões de matriz africana, segundo o Censo 2010 do IBGE.
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