quarta-feira, 30 de abril de 2014

PACOTE DE BONDADES

Do Blog do Kennedy Alencar
No pronunciamento de 1º de Maio, a presidente Dilma Rousseff antecipou um pacote de bondades com o objetivo de acuar a oposição e tentar recuperar popularidade. E disse que seus adversários “defendem a adoção de medidas duras, sempre contra os trabalhadores”.
Dilma faz uma jogada política ousada. O reajuste de 10% do Bolsa Família vale já a partir de maio para ser pago em junho. A correção da tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas terá efeito só no ano que vem, porque termina nesta quarta, 30/04, o prazo de declaração.
O compromisso em manter a política de reajuste real do salário mínimo é parte do debate econômico que o governo já está colocando em curso. Esse debate pode ser resumido na seguinte frase presidencial: “Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial”. Ou seja, ela insinuou que os eventuais governos da oposição seriam duros em relação aos trabalhadores.
Se a oposição critica o reajuste do Bolsa Família, fica mal na foto perante os beneficiados. Se elogia, chega atrasada. Se a oposição ataca o reajuste da tabela do IR dizendo que só vale para o ano que vem e que isso acarretará menos receita para o Tesouro, fica mal na foto perante os assalariados. Se elogia, também chega tarde. Se a oposição combate a manutenção da atual fórmula de reajuste real do salário mínimo, corre o risco de ouvir novamente Dilma dizer que os adversários políticos são contra os trabalhadores. Se se comprometem com essa medida, chegam atrasados. A atual regra vale até 2015.
Aliás, não está claro se Dilma bancará essa fórmula do mínimo somente no ano que vem, se reeleita, ou se proporá em breve ao Congresso a manutenção dessa política até 2018 (fim do próximo mandato presidencial) ou 2019. Se optar pelo segundo caminho, vai deixar os principais candidatos da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) numa sinuca de bico. Como votar contra em ano eleitoral?
A jogada de Dilma, porém, deverá ter um custo político perante o mercado financeiro e os empresários. Vai minar o discurso de que ela faria um ajuste econômico em 2015, pois antecipou medidas que resultarão em aumento de despesa e queda de arrecadação.
*
Tática da surpresa
“A gente estava só apanhando. Tivemos de reagir”, resumiu um auxiliar da presidente logo após o pronunciamento, que foi, na prática, uma peça de campanha.
O Palácio do Planalto optou pela tática da surpresa e pelo potencial de maior audiência para levar o discurso de Dilma ao ar nesta quarta e não no feriado de quinta.
O Planalto detectou nas redes sociais uma articulação da oposição para que televisores e rádios fossem desligados na hora da fala de Dilma. Isso também pesou para a antecipação do pronunciamento.
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VOLTA, LULA !

Charge do Aroeira
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terça-feira, 29 de abril de 2014

AUMENTO SALARIAL

Conforme Maria de Souza: “um momento traumático tende a voltar, via repetição, até que ele seja ‘resolvido’.” Neste mesmo diapasão podemos compreender que, um contexto e experiência vivenciada tende a se reconstituir, e/ou, mesmo ser pautado na ordem do dia, até que se obtenha uma resolução definitiva.
Neste dia 1º de maio de 2014 se rememora os 60 anos em que o governo de Getúlio Vargas aumentou em 100% o salário mínimo no Brasil. “Vargas em 1º de maio de 1954... anuncia o aumento de 100% do salário mínimo.” (Souza; 2004, pg.208. Saberes Brasileiros). Os intelectuais, Historiadores, cientistas políticos conhecem bem qual o contexto social e político que influenciou, ou, seria, forçou o Presidente Getúlio Vargas, por orientação do Ministro do Trabalho, João Goulart. Contudo, ater-se-á ao fato propriamente dito do reajuste salarial.
Entrementes, Em tempos em que se “onera” em 5%, 7%, 10% o salário base do país, pensar que há 60 anos o brasileiro obteve o significativo reajuste do dobro de seu valor real, se se constitui mito, utopia, quimera. Ver-se em momentos atuais, governos se utilizarem os subterfúgios que não se pode oferecer o subsídio maior do salário base do brasileiro. Ao termos a experiência real, que a própria História nos faz tomar conhecimento de que num dado momento de nossa memória isto foi plenamente possível. Do mesmo modo, por que não seria possível em um novo momento um aumento ao menos semelhante ao que foi possibilitado por Vargas em 1º de maio de 1954? Que forças estariam ocultas que não se permite um ganho significativo para os recursos financeiros do trabalhador?
Sabe-se que, na atualidade o valor do aumento do salário base, está ligado aos índices do crescimento econômico e da inflação. Desta feita, não seria estas uma das razões para se ver nos últimos tempos, um crescimento pífio da economia do país? Uma inflação “controlada” pelo governo? Contudo, nestes 60 anos desses 100% citado, estabelecido por Vargas, e, pelo ministro João Goulart, que o fez ser visto como populista, comunista e reacionário pelos militares, faz a turba refletir que um aumento real e significativo do salário do trabalhador brasileiro se faz plenamente possível e, de fato, não quebraria o país –como muitos argumentam-, que não se faz necessário ter que esperar o “bolo” crescer para se prover uma equidade econômica.
Portanto, já se foram 60 anos desde que o brasileiro recebera o maior dos “presentes” por parte de um governo do Brasil. Um aumento de 100% do salário base dos trabalhadores, mesmo que em termos de poder real de compras e independência financeiras, um reajuste semelhante poderia apenas, ver-se uma qualidade mais simbólica da cadeia alimentar dos cidadãos brasileiros –passar-se-ia de 724 reais para1448 reais ainda um salário irrisório-, haveria um alento para a vida e o cotidiano do povo brasileiro. Enfim, resta-nos sonhar com um “novo” Vargas? Ou, pensar nesse índice de reajuste salarial se constitui uma quimera, e nada mais. Enquanto, não se ver está História se repetir, vai-se apenas continuar a se rememorar este período, este recorte da História do Brasil. “AVE VARGAS, A POPULI TE SALUTANT.”
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segunda-feira, 28 de abril de 2014

SAÚDE NA POLÍTICA

Por Heráclito Aragão Pinheiro e Vivi Martins
Recentemente, em virtude das diversas pressões sofridas em decorrência da sucessão estadual, o governador Cid Ferreira Gomes passou mal algumas vezes, até que por fim se licenciou para cuidar de sua saúde. A saúde do governador não é o foco do interesse aqui, mas a maneira como a mídia tratou o assunto, principalmente em comparação a forma como, fato semelhante, foi tratado há não tanto tempo assim.
Quando a prefeita Luizianne Lins, também sujeita a pressões e cobranças semelhantes as que, hodiernamente, sofre Cid, passou mal e teve que se ausentar do cargo para cuidar da saúde, a imprensa tratou de insinuar que o estado de saúde da prefeita era resultado do abuso de drogas ilícitas. Cid, assim como Luizianne, quase desmaiou em um evento público, mas diferente da prefeita, o governador não teve que se defender de acusações maldosas, ou foi vítima de “disse me disse”.
Poucos gestores foram tão atacados pela imprensa quanto Luizianne. É certo que sua gestão é passível de críticas, e a crítica é uma ferramenta indispensável à democracia, mas o alvo dos ataques foi sempre a própria prefeita. Luizianne teve, antes de assumir o executivo municipal, uma longa e vitoriosa carreira no legislativo, tanto na câmara municipal quanto na assembléia. Por essa época não se disseminavam os rumores maldosos, mas a frente da prefeitura ela teve que lidar com esse fardo.
Uma mulher, mãe solteira, independente e ainda por cima petista, não poderia escapar incólume, em um estado tão machista quanto o nosso, por ocupar um cargo de destaque. Não podemos, por certo, reduzir os acontecimentos ao preconceito de gênero, mas é inegável que ele desempenhou papel importante nos ataques a Luizianne. Seus opositores, de maneira perversa, souberam jogar com os ressentimentos fanáticos e preconceitos afetivos arraigados no coração de nossa gente, para desgastar a imagem pública de um dos mais importantes quadros políticos do PT.
Cid, por seu lado, pode tranqüilamente ter problemas de saúde – por sinal estimo melhoras ao governador, o fato de me opor a ele não significa que lhe desejo mal – sem ser vítima de uma campanha de difamação. O pior desse tipo de ação perversa é que os preconceituosos em geral, esquecem de que o onus probandi cabe a quem acusa, e que somos todos inocentes até prova em contrário. Na lógica nefasta do boato, todavia, tudo aquilo que é solidário aos nossos preconceitos deve ser verdade, mesmo sem prova alguma.
Goste-se ou não de Luizianne, sua ousadia na política e sua coragem de suportar tantos ataques, pavimenta um duro caminho para outras mulheres de fibra e coragem que desejem se aventurar na política.
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domingo, 27 de abril de 2014

PROCESSANDO...

O governador petista do Acre, Tião Viana, decidiu processar por danos morais Eloisa de Souza Arruda, secretária de Justiça e Defesa da Cidadania do governo tucano de São Paulo. Ela o acusou de agir como “coiote” ao facilitar a viagem de imigrantes haitianos para São Paulo.
“Não posso aceitar o chilique dessa senhora, essa violência verbal que revela uma pessoa despreparada”, disse o governador acreano ao blog. “Ela não tem estatura pessoal nem política para ofender gratuitamente um governador de Estado que não cometeu nenhum erro. Entrarei com o processo na segunda-feira.”
Viana disse não compreender o silêncio do colega Geraldo Alckmin. “Estou estranhando muito que o governador de São Paulo esteja silente diante de uma agressão tão violenta e tão inaceitável por parte dessa secretária. Minha relação política com ele, que era ótima, a partir de agora será outra. Entendo que ele é conivente com essa agressão.”
Deve-se a polêmica à chegada de cerca de 400 imigrantes haitianos a São Paulo. Procedentes do Acre, alguns deles tiveram as passagens custeadas pelo governo de Viana. Para Eloisa Arruda, o governador acreano portou-se como “coiote” porque, na sua opinião, ele facilita a ação de aliciadores de trabalho escravo ao “soltar nas rodoviárias” de São Paulo refugiados que “não falam a língua nem têm documentação trabalhista”.
“Eles se tornam vulneráveis para aliciadores”, disse Eloisa ao Painel da Folha. “Um governo não pode patrocinar uma ação dessa, não pode agir como coiote.” Viana diz que Eloisa “fala sem conhecimento do problema.'' Acrescenta que os haitianos começaram a chegar ao Acre em dezembro de 2010. Desde então, já cruzaram a fronteira mais de 20 mil. “Eles não querem ficar aqui. Vão para outros Estados. Não posso segurá-los.''
Por ordem de Tião Viana, o secretário de Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, divulgou uma nota. No texto, ele realça:  “Coiote é traficante de seres humanos, que ganha dinheiro com o tráfico e a exploração de imigrantes. Declaração tão grave como essa não pode ser ignorada.”
“A secretária é órfã de qualificação e moral para agredir o governador de um Estado que, durante mais de três anos, vem dando atenção humanitária a mais de 20 mil estrangeiros que ingressaram no Brasil pela nossa fronteira.” Vai abaixo a íntegra da nota:
“Por suas declarações infelizes à coluna Painel da Folha de S.Paulo, na edição de 26 de abril de 2014, a secretária de Estado de Direitos Humanos de São Paulo, Eloisa Arruda, será acionada judicialmente. Ela declarou que o governador do Acre, Tião Viana, agiu como ‘coiote’.
‘Coiote’ é traficante de seres humanos, que ganha dinheiro com o tráfico e a exploração de imigrantes. Declaração tão grave como essa não pode ser ignorada. A secretária é órfã de qualificação e moral para o agredir o governador de um Estado que, durante mais de três anos, vem dando atenção humanitária a mais de 20 mil estrangeiros que ingressaram no Brasil pela nossa fronteira.
Entendemos que as declarações partiram de uma assessora do governo do PSDB paulista, com atuação apagada, mas que tornou-se conhecida nacionalmente por sua incompetência ao ter que lidar com apenas 400 imigrantes. Se a secretária quiser ajuda do governo do Acre para aprender a fazer alguma coisa pelos imigrantes, estamos à disposição. Mas segue a primeira regra: reclamar menos e trabalhar mais.
Lamentamos que a neta de imigrantes nordestinos tenha negado as suas origens. Está agora na Casa Grande. Deveria ler o seu conterrâneo Gilberto Freire.”
Nilson Mourão
Secretário de Estado de Direitos Humanos
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SE PUXAR MAIS, RASGA !

Por Daniel Pereira e Adriano Ceolin, Veja
A presidente Dilma Rousseff enfrenta um momento inédito de fragilidade. Além de ter problemas na economia, como o crescimento baixo, a inflação persistente e o desmantelamento do setor elétrico, ela perdeu apoio popular e força para barrar, no Congresso, iniciativas capazes de desgastá-la. A aprovação ao governo caiu a um nível que, segundo os especialistas, ameaça a reeleição. Partidos aliados suspenderam as negociações para apoiá-la na corrida eleitoral. Já os oposicionistas conseguiram na Justiça o direito de instalar uma CPI para investigar exclusivamente a Petrobras. Acuada, Dilma precisa mais do que nunca da ajuda do PT, mas essa ajuda lhe é negada. Aproveitando-se da conjuntura desfavorável à mandatária, poderosas alas petistas pregam a candidatura de Lula ao Planalto e conspiram contra a presidente. O objetivo é claro: retomar poderes e orçamentos que foram retirados delas pela própria Dilma. A seis meses da eleição, o PT está rachado entre lulistas e dilmistas — e, para os companheiros mais pragmáticos, essa divisão, e não os rivais Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), representa a maior ameaça ao projeto de poder do partido.
Com carreira política construída na resistência à ditadura militar e posteriormente no PDT, Dilma nunca teve alma petista. Ao assumir a Presidência, ela herdou boa parte da cúpula do governo Lula, como ministros, dirigentes de estatais e até a então chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha. O governo era de continuidade mesmo nos nomes escalados para comandar o país. O plano de Dilma era dar uma feição própria à sua gestão de forma gradativa, reduzindo a influência do antecessor ao longo do tempo. Antonio Palocci, seu primeiro chefe da Casa Civil, ilustrou a estratégia: “No primeiro ano de mandato, será um governo Lula-Dilma. No segundo, um governo Dilma-Lula. No terceiro, será Dilma-Dilma”. Esse cronograma, no entanto, foi atropelado pelos fatos. Já em 2011 a presidente foi obrigada a demitir seis ministros acusados de corrupção e tráfico de influência — quatro deles egressos do governo anterior. Dilma se mostrava intransigente com os malfeitos, ao contrário de Lula, acostumado a defender políticos pilhados em irregularidades. Com a chamada faxina ética, ela atingiu recordes de popularidade e conseguiu força para tirar das mãos de notórios esquemas partidários setores estratégicos da administração. Nem mesmo o PT foi poupado nessa ofensiva.
O partido perdeu terreno em fundos de pensão e na Petrobras, que teve sua diretoria reformulada em 2012. A faxina ética era acompanhada da profissionalização da gestão. Com essas mudanças, muitos petistas estrelados, como o mensaleiro preso José Dirceu, perderam influência. Havia um distanciamento crescente entre a presidente e a engrenagem partidária, mas Lula mantinha o PT unido e silencioso. Ele alegava que a “mídia conservadora” — ao exaltar as demissões promovidas pela sucessora, com o intuito claro de atacá-lo — ajudava Dilma a conquistar eleitores que historicamente tinham aversão ao PT. Ou seja: a comparação entre os dois beneficiava o partido. Se alguns petistas registravam prejuízos em casos isolados, o conjunto estava sendo fortalecido. Esse discurso manteve a companheirada sob controle até 2013, quando a popularidade da presidente despencou devido à inflação e às manifestações populares de junho. Petistas, então, passaram a criticar Dilma, conspirar contra ela no Congresso e defender a candidatura de Lula. A cizânia interna se desenhava, mas ainda era incipiente e restrita aos bastidores. Esse dique foi rompido pelo escândalo da Petrobras.
Hoje, o PT testemunha uma batalha pública e cruenta entre a soldadesca dos dois presidentes. Palocci não previu, mas o último ano de mandato também tem seu epíteto: governo Dilma versus Lula.
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sábado, 26 de abril de 2014

A GRANDE FAMÍLIA PETISTA

Editorial de O Estado de S.Paulo
Nem é preciso fazer escavações profundas. Arranhe-se apenas a superfície do sistema petista de poder e, certo como a noite que se segue ao dia, se encontrará um escândalo, uma maracutaia, uma armação, uma negociata, um vexame, um ato mal explicado ou inexplicável à luz da ética pública. E não se diga que é intriga da oposição em ano eleitoral.
Para ficar apenas na safra da semana, ora é uma auditoria da Petrobrás que afirma que em 5 de fevereiro de 2010 alguém foi autorizado verbalmente a sacar US$ 10 milhões de uma conta da Refinaria de Pasadena, na qual a empresa ainda tinha como sócia a Astra Oil. A revelação foi publicada pelo Globo. Quem autorizou, quem sacou, o porquê do saque e o que foi feito com a bolada, isso a Petrobrás não conta. Diz, burocraticamente, que o procedimento seria "uma atividade usual de trading" e nele "não foram constatadas quaisquer irregularidades".
Ora, para variar, são as sucessivas apurações da Polícia Federal (PF) sobre a amplitude da rede de conveniência recíproca em que se situam as ligações do deputado André Vargas, do PT paranaense, com o doleiro Alberto Youssef. O cambista foi preso no curso da Operação Lava Jato, que expôs um esquema de branqueamento de dinheiro, por ele comandado, da ordem de R$ 10 bilhões. O monitoramento, com autorização judicial, das comunicações do já agora réu Youssef trouxe à tona uma história de tráfico de influência que reduz a mera nota de rodapé o pedido de Vargas ao parceiro para que lhe arranjasse um jatinho para levá-lo numa viagem de férias ao Nordeste - descoberto, o favor custou ao favorecido o cargo de vice-presidente da Câmara, ao qual teve de renunciar.
A traficância, essa sim, era coisa graúda. Prometendo a Vargas que, se fizesse a parte dele, os dois conquistariam a "independência financeira" - palavras textuais do doleiro captadas pela PF -, ele acionou o deputado para que o Ministério da Saúde, então chefiado pelo também petista Alexandre Padilha, contratasse com o laboratório Labogen, de que Youssef é controlador oculto, o fornecimento de uma partida de medicamentos contra a hipertensão. O negócio renderia R$ 31 milhões em cinco anos. Quando a tratativa foi noticiada pela Folha de S.Paulo, Padilha imediatamente tirou o time de campo. Deu-se o dito pelo não dito, nenhum contrato foi assinado, nenhum real desembolsado.
Mas Padilha, pré-candidato ao governo paulista, era muito mais do que, digamos, o polo passivo do arranjo. Relatório da PF praticamente sustenta que, em novembro passado, ele ofereceu a Vargas um nome para dirigir o Labogen. Numa mensagem de celular lida pelos federais, o deputado identifica o apadrinhado para o doleiro e lhe dá o número de seu telefone, antes de arrematar: "Foi Padilha que indicou". Dois dias antes, Vargas tinha escrito a Youssef: "Falei com Pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo". Naturalmente a PF não pode afirmar com todas as letras de que Padilha, ou Pad, se tratava. Mas quem mais poderia ser?
Afinal, o indicado pelo interlocutor de ambos para ser o executivo da Labogen, Marcus Cezar Ferreira de Moura, o Marcão, tinha sido nomeado pelo ministro, em 2011, coordenador de promoção e eventos da Saúde. No ano anterior, ele trabalhara na reta final da campanha de Dilma Rousseff. Só achando que o ministro era um rematado nefelibata, o suprassumo da ingenuidade, para imaginar que ele considerasse o Labogen um laboratório sério. A sua folha de pagamento não soma mais do que R$ 28 mil. A polícia apurou que foi uma das firmas de fachada usadas por Youssef para remeter ilegalmente ao exterior US$ 444,7 milhões.
Vargas, a PF também averiguou, não é o único petista das relações do doleiro. Outros citados, por ora, são os deputados Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido, de São Paulo. Um admite ter se encontrado com o cambista no prédio onde ele e Vargas moram. O outro diz que o conheceu - em Cuba, ora vejam - em 2008 ou 2009. Em suma, formam todos uma grande família com parentes de sangue e por afinidade que às vezes brigam, mas em geral se ajudam a conseguir poder, prestígio e riqueza. Há mais de dez anos o solar da família fica em Brasília. Na sua fachada se lê: "Tudo pelo social".
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UMA NOITE ESPECIAL...

A noite da última sexta-feira (25) foi muito especial para o blog Sou Chocolate e Não Desisto. Finalista – Top3 – do Prêmio TopBlog 2013, ficou em 3º lugar na categoria Política/Blog Pessoal. Essa conquista é o reconhecimento de muitas horas de trabalho, principalmente na madrugada.
A conquista desse prêmio nos mostra que estamos no caminho certo. A responsabilidade aumenta e nos impulsiona a melhorar cada vez mais, pautado pela verdade e a imparcialidade como deve ser o jornalismo.
O Prêmio TopBlog foi criado em 2009 pela Mix Mídia com objetivo de incentivar e premiar os blogs mais populares do Brasil, por meio de votação popular e acadêmica. O Prêmio é uma referência para blogueiros de todo o país. Tornou-se uma espécie de Oscar da blogosfera brasileira.
Em 2009, 2010 e 2012 o blog Sou Chocolate e Não Desisto ficou entre os 100 blogs mais votados – Top100 – na categoria Política/Blog Pessoal. Em 2011 tivemos a honra de ficar em segundo lugar: Top2 pelo Júri Acadêmico.
Nesta 5ª edição (2013) tivemos a grata surpresa de ficarmos em terceiro lugar – Top3 – pelo voto do júri popular – são os votos dos internautas. Em primeiro lugar ficou o Blog da Dilma e em segundo, Olho Aberto Paraná, do amigo Cesar Minotto.
Muito obrigado a todos que votaram.
Atenciosamente,
Valério Sobral.
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QUERO SEMPRE MAIS

A proposta para aumentar o salário do prefeito de Sobral Veveu Arruda, do PT, ainda depende de aprovação e está gerando polêmica no Legislativo Municipal. O vereador Zezão, do PP, justificou a proposta. “Um salário de R$ 13,6 mil para uma pessoa que representa o município de Sobral, não é exorbitante”.
Já o vereador Gilmar Bastos, do Pros, discorda do aumento. “Ano passado já foi realizado um aumento de 10,5%. Não podemos agora dar um aumento de mais 25% para o prefeito”. No próximos dias, a Câmara de Vereadores de Sobral deve votar a proposta de aumento salarial dos servidores públicos municipais. De acordo com o projeto enviado pelo Executivo, o aumento geral da categoria fica limitado em 5,7%.
Confira mais informações na matéria de Leonardo Pedreira, da Tribuna BandNews
Por Thamiris Treigher, da Tribuna Bandnews FM
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QUEIMA DE ARQUIVO

O coronel Paulo Malhães, 74 anos, ex-agente do Centro de Informações do Exército, foi encontrado nesta sexta-feira (25) morto em sua casa, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. De acordo com os relatos iniciais, ele foi assassinado por asfixia.
Malhães prestou, há cerca de um mês, um dos depoimentos mais fortes à Comissão Nacional da Verdade, no qual reconheceu envolvimento em torturas, mortes e ocultação de corpos de vítimas da ditadura militar.
De acordo com Nadine Borges, membro da Comissão Estadual da Verdade do Rio que conversou com uma das filhas do militar, a casa de Malhães foi invadida por três homens. Segundo o relato, a mulher do coronel foi amarrada e ele, morto por asfixia. Todas as armas do militar foram roubadas.
"A polícia tem que investigar a fundo esse crime. Tudo indica que é uma queima de arquivo", disse Borges.
O depoimento de Malhães chocou familiares de vítimas da ditadura. Ele detalhou como os corpos eram lançados no rio e dilacerados para evitar a identificação.
"Naquela época não existia DNA, concorda comigo? Então, quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais são as partes que, se acharem o corpo, podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária e digitais, só. Quebravam os dentes e cortavam os dedos. As mãos, não. E aí, se desfazia do corpo.
O coronel morava com a família na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.
Folhapress
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sexta-feira, 25 de abril de 2014

40 ANOS DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS

Do blog do Mário Magalhães
Hoje faz 40 anos que os portugueses derrubaram a ditadura salazarista. Tim-tim.
Com a Revolução dos Cravos, a ponte sobre o rio Tejo que homenageava o ditador Salazar mudou de nome. Passou a se chamar 25 de Abril.
Depois os “portugueses'', no sentido preconceituoso de pouco sábio, são eles, e não nós, viventes de um país em que escolas, ginásios e até uma ponte mantêm o nome de próceres da ditadura.
Em 2004, em jogo de legenda, a seleção portuguesa dirigida por Felipão venceu a Inglaterra nas quartas-de-final da Eurocopa. Em casa, acabaria perdendo a final para a Grécia.
Então colunista esportivo da “Folha'', escrevi as maltraçadas abaixo.
* * *
Dona Luísa, seu Júlio e Felipão
O nome dele, com certeza, era Júlio. O dela, se a memória por uma vez não trai, Luísa. Beiravam os 80 anos. Viviam em um apartamento de quarto andar na rua Santa Marta, Lisboa. Pertinho da avenida da Liberdade, onde ontem multidões de portugueses festejaram o triunfo.
Seu Júlio falava pouco. Dona Luísa compensava -falava pelos dois. Tinha uma obsessão desde meio século antes, quando o tipo pacato do marido a ninguém causava impressão. “O Júlio não é parvo, não é parvo'', repetia.
Eu adorava provocar-lhes: “Passei hoje pela Ponte 25 de Abril''.
“Ponte Salazar!'', retrucavam, furiosos, insistindo no velho nome já trocado.
Ela subia a escadaria em espiral, do prédio antigo sem elevador, e suspirava cansada: “Ai, que saudade do António''.
O dito cujo, ditador António de Oliveira Salazar, um dia parecera-lhe imortal. Morrera muito tempo atrás.
Depois de 16 anos de Revolução dos Cravos, ganhavam uma pensão magra. Em compensação, o aluguel, congelado, saía mais barato que um engradado de garrafinhas de um sumo de maçã chinfrim e saboroso cuja marca o tempo apagou da lembrança. Não poderiam ser despejados enquanto vivessem.
Alugavam dois quartos para engordar as finanças. Passei semanas morando ali. Quando me assentara em Cascais, fui assistir com eles a um confronto célebre da Copa de 90: Inglaterra e Camarões, 2 a 2 no tempo normal, 1 a 0 para os europeus na prorrogação. Conosco estava um jovem engenheiro do interior, o Miguel, que continuava por lá.
Dona Luísa e seu Júlio torciam pelos ingleses. Miguel e eu, pelos camaroneses. Os velhinhos foram calando. Olharam-se.
Até que ela, incrédula, constatou, na única vez que a ouvi falar baixinho: “Ê, pá! Vocês estão a torcer para os pretos…''.
“Claro'', confirmamos.
“Por quê?''
Não resisti: “Quem sabe não é por isso mesmo…''.
Odiavam os africanos que acorriam a Portugal em busca de trabalho. Também encrencavam com brasileiros, de todas as raças. “Isso tudo já foi nosso'', comentou seu Júlio, quando a TV exibiu reportagens sobre colônias de antanho.
Outros tantos portugueses não iam com a cara dos brasileiros que desembarcavam onde outrora haviam embarcado seus antepassados. Era uma reticência atávica. Por séculos, mandaram gente sem fim para além-mar. A nação que construiu a Escola de Sagres acostumou-se com seus emigrantes. Não com os imigrantes que agora acolhia com pé e meio atrás. Os brasileiros não contribuíam. Nos jornais, éramos mais assíduos nas páginas de polícia.
O sucesso de Luiz Felipe Scolari na seleção portuguesa talvez indique que as coisas tenham mudado. Pelo menos um pouquinho. Nos tropeços, não falta dedo a acusar sua condição de estrangeiro. Mas, já por mais de uma semana, um país inteiro, Portugal, se comove com seu time dirigido por um técnico brasileiro.
Felipão diminui o oceano entre almas, no fundo, semelhantes. O que pensariam seu Júlio e dona Luísa?
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INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA

Do jornal O Povo
Filho do dono da Diógenes Bayde é casado com filha do secretário da Casa Civil do Estado, Arialdo Pinho. Para vereador, empresa teve "informação privilegiada"
O vereador Ronivaldo Maia (PT) apontou ontem possível favorecimento da Prefeitura de Fortaleza a uma empresa cujo dono, o empresário Salim Bayde Filho, é sogro da filha do secretário da Casa Civil do Estado, Arialdo Pinho (foto). O contrato com a Diógenes Bayde Importadora e Exportadora, no valor de 12,6 milhões, foi suspenso na semana passada e está sob análise do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Ao examinarem o edital do pregão vencido pela Diógenes Bayde, para prestar serviços de integração da prefeitura à rede metropolitana de Fortaleza, técnicos do TCM entenderam que faltaram publicidade e transparência à licitação.
Conforme os técnicos, o aviso da licitação foi publicado na edição do Diário Oficial do Município de 27 de janeiro deste ano. Mas essa edição só foi tornada pública em 7 de fevereiro, dia em que se realizou o certame, o que teria impossibilitado a formulação de propostas de outras empresas.
“Como é que a Diógenes Bayde tomou conhecimento da licitação, se o edital só saiu no dia 7?”, disse Ronivaldo. “Por coincidência ou não, o filho do dono dessa empresa é casado com a filha do Arialdo. A empresa de alguma maneira foi favorecida, teve informação privilegiada da prefeitura”.
O líder do prefeito Roberto Cláudio na Câmara, Evaldo Lima (PCdoB), prometeu levar a Ronivaldo todos os esclarecimentos sobre o certame. A prefeitura afirmou que todo o procedimento para a contratação da empresa seguiu a legislação. Por meio de assessoria, Arialdo Pinho definiu como “absurda” qualquer suposição de favorecimento.
Na semana passada, além de determinar a suspensão do contrato com a Diógenes Bayde, o auditor David Matos, conselheiro substituto do TCM, ordenou à prefeitura que suspendesse os pagamentos à empresa Alusa, contratada para gerenciar a iluminação pública de Fortaleza. As decisões cautelares ainda terão de ser analisadas pelo pleno do TCM, que poderá derrubá-las ou homologá-las. A prefeitura destacou ontem que enviou todas as informações solicitadas por David Matos referentes às duas licitações e aguarda a manifestação do tribunal.
O POVO tentou entrar em contato, na noite de ontem, com a Diógenes Bayde, mas as ligações feitas para um número disponível na Internet, de Juzeiro do Norte, não foram atendidas.
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BOM DIA, CINDERELA

Artigo de Fernando Gabeira, publicado no jornal O Estado de S.Paulo
As pesquisas eleitorais recentes mostram Dilma Rousseff em queda. Quando se está caindo, a gente normalmente diz opa!. Não creio, porém, que Dilma vá dizer opa! e recuperar o equilíbrio. Além dos problemas de seu governo, ela é mal aconselhada por Lula nos dois temas que polarizam a cena política: Petrobrás e Copa do Mundo.
São cada vez mais claras as evidências de que se perdeu muito dinheiro em Pasadena. Lula, no entanto, não acredita nas evidências, mas nas versões. Se o seu conselho é partir para a ofensiva quando se perdem quase US$ 2 bilhões, a agressividade será redobrada quando a perda for de US$ 4 bilhões e, se for de US$ 6 bilhões, o mais sábio será chegar caindo de porrada nos adversários antes que comecem a reclamar.
Partir para a ofensiva na Copa do Mundo? Não é melhor deixar isso para os atacantes Neymar e Fred? Desde o ano passado ficou claro que muitas pessoas não compartilham o otimismo do governo nem consideram acertada a decisão de hospedar a Copa.
O governo acha que sufoca as evidências. O próximo passo desse voluntarismo é controlar as evidências. O papel do IBGE e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, começa a ser deformado pelo aparelhamento político. Pesquisas que contrariam os números de desemprego são suspensas. E o Ipea foi trabalhar estatísticas para Nicolás Maduro, que acredita ver Hugo Chávez transmutado em passarinho e, com essa tendência ao realismo mágico, deve detestar os números.
Controlar as evidências, determinar as sentenças pela escolha de ministros simpáticos à causa, tudo isso é a expressão de uma vontade autoritária que vê a oposição como vê os números desfavoráveis: algo que deva ser banido do mundo real. A visão de que o País seria melhor sem uma oposição, formada por inimigos da Petrobrás e por gente que torce contra a Copa, empobrece e envenena o debate político.
Desde o mensalão até agora o PT decidiu brigar com os fatos, e isso pode ter tido influência na queda de Dilma nas pesquisas. O partido foi incapaz, embora figuras como Olívio Dutra o tenham feito, de reconhecer seus erros. Está sendo incapaz de admitir os prejuízos que sua política de alianças impôs à Petrobrás ou mesmo que a Copa do Mundo foi pensada num contexto de crescimento e destinava-se a mostrar nossa exuberância econômica e capacidade de organização a todo o planeta. Gilberto Carvalho revelou sua perplexidade: achava que a conquista da Copa seria saudada por todos, mas as pessoas atacaram o governo por causa dela.
Bom dia, Cinderela. O mundo mudou. Dilma e o PT não perceberam, no seu sono, que as condições são outras. Brigar com os fatos num contexto de crescimento econômico deu a Lula a sensação de onipotência, uma crença do tipo "deixa conosco que a gente resolve na conversa". Hoje, em vez de contestar fatos, o PT estigmatiza a oposição como força do atraso. Ele se comporta como se a exclusão dos adversários da cena política e cultural fosse uma bênção para o Brasil. A concepção de aniquilar o outro não é vivida com culpa por certa esquerda, porque ela se move num script histórico que prevê o aniquilamento de uma classe pela outra. O que acabará com os adversários é a inexorável lei da história, eles apenas dão um empurrão.
Sabemos que a verdade é mais nuançada. O governo mantém excelentes relações com o empresariado que financia por meio do BNDES e com os fornecedores de estatais como a Petrobrás. Não se trata de luta de classes, mas de quem está se dando bem com a situação contra quem está ou protestando ou pedindo investigações rigorosas contra a roubalheira, na Petrobrás ou na Copa.
A aliança do governo é aberta a todos os que possam ser controlados, pois o controle é um objetivo permanente. Tudo o que escapa, evidências, vozes dissonantes, estatísticas indesejáveis, tudo é condenado à lata de lixo da História. Felizmente, a História não se faz com líderes que preferem partir para cima a dialogar diante de evidências negativas, tanto na Petrobrás como na Copa ou no mensalão. Nem com partidos incapazes de rever sua tática diante de situações econômicas modificadas.
Dilma, com a queda continuada nas pesquisas, sai da área de conforto e cai no mundo em que os candidatos dependem muito de si próprios e não contam com vitória antecipada pelo peso da máquina. Será a hora de pôr de novo em xeque a onipotente tática de eleger um poste. Nem o poste nem seu inventor hoje conseguem iluminar sequer um pedaço de rua. Estão mergulhados no escuro e comandarão um exército de blogueiros amestrados para nublar as redes sociais. Com a máquina do Estado, o prestígio de Lula, muita grana em propaganda e na própria campanha eleitoral, o governo tem um poderoso aparato para enfrentar a realidade. Mas essa abundância de recursos não basta. Num momento como este no País, será preciso horizonte, olhar um pouco adiante das eleições e estabelecer um debate baseado no respeito às evidências.
Esse é um dos caminhos possíveis para recuperar o interesse pela política. No momento, a resposta ao cinismo é a indiferença com forte tendência ao voto em branco ou nulo. Embora a oposição também seja parte do jogo, a multidão que dá as costas para a escolha de um presidente é uma obra do PT que subiu ao poder, em 2002, prometendo ampliar o interesse nacional pela política, mas conseguiu, na verdade, reduzi-lo dramaticamente. Para quem se importa só com a vitória eleitoral, essa questão da legitimidade não conta. Mas é o tipo de cegueira que nos mantém no atraso político e na ilusão de que adversários são inimigos. O PT comanda um estranho caso de governo cujo discurso nega o próprio slogan: Brasil, um país de todos. De todos os que concordam com a sua política.
Até nas relações exteriores o viés partidário sufocou o nacional, atrelando o País aos vizinhos, alguns com sonhos bolivarianos, e afastando-o dos grandes centros tecnológicos. Contestar esse caminho quase exclusivo é defender interesses americanos; denunciar corrupção na empresa é ser contra a Petrobrás; assim como questionar a Copa é torcer contra o Brasil.
Bom dia, Cinderela, acorde. Em 2014 você pode se afogar nos próprios mitos.
Fernando Gabeira, jornalista, escritor e ex-deputado federal.
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PROBLEMA NOSSO

Artigo de Marina Silva publicado na Folha de S.Paulo
Um dia, alguém escreverá uma "História da Corrupção no Brasil", de tão antiga que é essa modalidade de crime, comparada a um câncer devorando as entranhas do país. Compartilho com milhões de brasileiros a esperança de que essa história tenha fim.
Hoje, porém, vivemos um capítulo trágico, em que a corrupção tornou-se sistêmica, naturalizando-se no sistema político e administrativo. É o que o delegado Jorge Pontes, ex-diretor da Interpol, chama de "crime institucionalizado", diferente do crime organizado por não estar exposto em atividades claramente ilegais –tráfico e violência, mas "dentro da lei" e apoiado nas plataformas oficiais.
Quando fui ministra do Meio Ambiente, vi que a punição de casos pontuais de crimes ambientais não tinha efeito duradouro na redução da devastação. Então recorri à Polícia Federal e ao Ministério Público para deflagrar operações que desmontaram um sistema vigente em todo o país, desarticulando inúmeras empresas ilegais e punindo centenas de pessoas, inclusive servidores que se desviaram de suas funções.
Percebi, também, que a reforma política precisa ser profunda: democratizar o Estado e abrir o controle social à participação das comunidades e organizações civis.
Daí a conclusão, que já expus nesta Folha: a corrupção será erradicada quando não for considerada problema só do governo, mas um mal na vida de cada cidadão.
Foi assim com a escravidão, a ditadura, a inflação, a exclusão social, males históricos de que ainda não estamos totalmente livres, mas já passamos o pior momento. Foi preciso o engajamento do povo e a compreensão de que eles afetavam nosso cotidiano, nossa saúde e segurança, a educação dos filhos, a qualidade da vida.
É o que acontece com a corrupção. Há estimativas de que os recursos públicos desviados seriam suficientes para dobrar o investimento em educação. E não há dúvidas de que ela provoca um grande atraso econômico e social no país.
Paradoxalmente, governantes que ascenderam com a bandeira do fim da corrupção foram por ela envolvidos. Ancorados no jargão udenista, anunciaram a intenção de varrer, limpar, caçar, derrotar os inimigos que estariam no governo da época ou nas elites, marajás e ladrões. Mas preservaram a máquina, o sistema e a divisão de poder que oculta a doença ao invés de erradicá-la. E, principalmente, quiseram ser heróis da história deixando o povo na condição de mero espectador.
Hoje temos a indignação do povo saindo às ruas e batendo à porta das instituições. Generaliza-se a compreensão de que a responsabilidade é de todos nós.
É um período propício para o Brasil escrever os capítulos finais dessa triste história.
Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula e candidata ao Planalto em 2010. Escreve às sextas na versão impressa da Folha de S. Paulo.
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CPI EXCLUSIVA

A ministra Rosa Weber acatou pedido da oposição e a CPI Exclusiva da Petrobras será instalada. Direto da Itália, onde se encontra em férias, por meio de uma nota o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) promete recorrer da decisão.
O PT afirmou que não vai recorrer, está se fingindo de morto... Nos bastidores a manobra é outra; colocar o PMDB como defensor do governo – aliado que sempre esteve para o que der e vier – e juntos, os petistas pretendem dar uma resposta ao PSDB.
O principal objetivo do governo com essa pseuda desistência é cavar uma CPI para investigar o escândalo do metrô paulista. Os tucanos comandam o estado de São Paulo há quase 20 anos.
Charge do Izânio
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PEZÕES

Charge do Aroeira
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quinta-feira, 24 de abril de 2014

20 ANOS DEPOIS...

Brasília - O ex-presidente da República Fernando Collor de Mello viu nesta quinta-feira, 24, ser encerrado no Supremo Tribunal Federal o último capítulo do escândalo de corrupção que culminou no seu impeachment, em 1992. De lá para cá, o hoje senador pelo PTB de Alagoas enfrentou 14 inquéritos, 8 petições criminais e 4 ações penais. Collor foi absolvido em todos os casos, incluído o processo decidido ontem pelo STF.
Por falta de provas, Collor foi absolvido da acusação de envolvimento num esquema de desvio de verba pública por meio de contratos de publicidade. Conforme a denúncia, o dinheiro beneficiava empresários que, em troca, pagavam despesas pessoais do presidente, como a pensão alimentícia a um filho que Collor tivera fora do casamento.
O dinheiro seria depositado na conta de sua secretária Ana Acioli e em contas pessoais. De acordo com as acusações, esses valores seriam repassados por Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor à Presidência, morto em 1996. Em troca, pessoas ligadas a PC Farias tinham liberdade de ação para buscar em órgãos públicos federais e na iniciativa privada contribuições também ilegais.
O ex-presidente era acusado de falsidade ideológica, corrupção passiva e peculato por fatos ocorridos em 1991 e 1992. Em razão da demora na investigação e no julgamento do caso, estavam prescritos os crimes de falsidade ideológica (desde 2008) e corrupção passiva (desde 2012). Collor só poderia ser condenado por peculato (desvio de dinheiro por agente público), cuja pena vai de 2 a 12 anos.
Apesar da prescrição, parte dos ministros insistiu no julgamento do mérito de todos os crimes, a começar pela relatora do processo, Cármen Lúcia. Em seu voto, a ministra afirmou não ter o Ministério Público produzido provas suficientes para comprovar o envolvimento de Collor nos crimes denunciados. E chegou a criticar o trabalho do MP neste caso. "Não é um primor de denúncia", disse.
Pelos crimes de falsidade ideológica e corrupção passiva, cinco ministros votaram pela absolvição por falta de provas – Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski. Outros três ministros apenas declaravam a prescrição dos crimes, sem analisar as provas e argumentos da acusação e da defesa. Pelo crime de peculato, todos os ministros votaram pela absolvição.
Demora. A ação penal julgada nesta quinta foi aberta em 2000, oito anos depois dos fatos suspeitos. Inicialmente, o processo tramitou na primeira instância. Com a eleição de Collor ao Senado, em 2006, o processo foi desmembrado. Os demais investigados continuaram a responder às denúncias na primeira instância.
As acusações contra Collor foram remetidas ao STF em 2007. Inicialmente, o caso foi relatado pelo ministro Menezes Direito. Com sua morte, o caso foi redistribuído para Cármen Lúcia.
De outubro de 2009 a novembro de 2013, o andamento do processo não indica nenhuma movimentação. Somente depois de quatro anos, a relatora liberou o processo para ser revisado pelo ministro Dias Toffoli. Um dia depois de receber o caso, ainda em novembro passado, Toffoli liberou o processo para ser julgado.
"Os fatos são de 1991 e 1992 e a denúncia foi recebida oito anos depois. Apenas faço essa referência porque se alega demora excessiva no julgamento. Isso não foi do Supremo. A própria apresentação da denúncia do Ministério Público já datou de quase uma década depois dos fatos", justificou a relatora do processo no STF.
A demora em todo o processo, conforme Barroso, evidencia as falhas na justiça criminal. "Punir alguém em 2014 por fatos ocorridos em 1991 é quase como punir outra pessoa", afirmou o ministro.
Último. Advogado desde a primeira ação penal julgada no Supremo, Fernando Neves afirmou não haver mais nenhum processo relativo a irregularidades na Presidência de Collor. A principal dessas ações foi julgada em 1994. "Esse era o último", confirmou o advogado.
Por Felipe Recondo - O Estado de S.Paulo
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A GRANDE FINAL

Caros amig@s, amanhã, 25, a partir das 18 horas estaremos transmitindo a cerimônia de entrega do Prêmio TopBlog 2013, considerado o Oscar da blogosfera brasileira.
Meu blog Sou Chocolate e Não Desisto está entre os três blogs mais votados na categoria Política/ Pessoal pelo júri popular.
Direto do anfiteatro da Universidade Paulista - UNIP campus Paraíso, em São Paulo, acompanhe a transmissão pela TV CHOCOLATE, o canal do meu blog.
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SARNEY, 84 ANOS

O político brasileiro com maior longevidade política e que está na ativa, Sarney completa hoje 84 anos de vida e há 59 anos está no poder. José Sarney de Araújo Costa, nascido José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa, (em 1965 adotou o ‘Sarney’ para homenagear o pai, Sarney de Araújo Costa) nasceu em 24 de abril de 1930, em Pinheiro, Maranhão.
Sarney foi o 31º presidente do Brasil (1985-1990). Anteriormente, fora também governador do Maranhão (1966-1971) e senador pelo mesmo estado (1971-1985). Depois de deixar a presidência, foi novamente senador, em 1991 (dessa vez pelo recém criado estado do Amapá, por não ter conseguido apoio da cúpula do PMDB do Maranhão à sua candidatura),2 tendo presidido a câmara alta brasileira por três vezes.
José Sarney é o político brasileiro com mais longa carreira (59 anos) no plano nacional, superando o senador Limpo de Abreu (53 anos de carreira política e 36 como senador vitalício). Ruy Barbosa, o mais duradouro político no período republicano, foi senador por 31 anos contra os 36 de Sarney e Limpo de Abreu.
Durante sua vida pública José Sarney atuou sob quatro constituições (1946, 1967, 1969 e 1988, esta última convocada por ele, no exercício da Presidência da República) e quatro governos sob a Constituição de 1946, seis no governos militares e, depois de seu mandato presidencial, cinco sob a Constituição de 1988 — 15 governos.
Como parlamentar integrou 13 legislaturas, quatro como deputado federal e seis como senador. Era parte da oposição ao governo antes de 1964 e, a partir daí, parte das forças de apoio ao regime militar. Paradoxalmente, acabou sendo o primeiro presidente civil após o regime militar, em razão da morte de Tancredo Neves.
O blog Sou Chocolate e Não Desisto indica a leitura de dois livros sobre a paradoxal carreira política de Sarney, esse brasileiro que é um mito da política. Os livros: Honoráveis bandidos – um retrato do Brasil na era Sarney, do jornalista Palmério Dória e a biografia autorizada por ele escrita pela jornalista Regina Echeverria Sarney – a biografia.
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quarta-feira, 23 de abril de 2014

PARECER DEFENDE CONDENAÇÃO DE CID

A Procuradoria Geral Eleitoral emitiu parecer favorável a recurso especial contra Cid Gomes e o vice-governador Domingos Filho, encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após os gestores terem sido absolvidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). As sanções vão de multa à cassação do diploma. Quem assina a ação - que questiona os gastos com publicidade institucional em 2010, na reeleição de Cid - é a coligação Para Fazer Brilhar o Ceará, que apoiou a candidatura de Lúcio Alcântara ao Governo do Estado.
De acordo com a legislação eleitoral, a administração pública não pode autorizar, no primeiro semestre em véspera de eleição, despesa com publicidade superior à média dos três anos anteriores nem acima do que foi gasto no último ano no mesmo período. A coligação afirma que a verba gasta pelo Governo Estadual, nos primeiros semestres de 2010, ultrapassa o limite estabelecido por lei.
Equilíbrio
A Corte Regional Eleitoral do Ceará teve entendimento diferente e rejeitou o recurso, justificando que os gastos com comunicação institucional não teriam interferido no equilíbrio do pleito de 2010. "Não configurado no caso concreto o abuso de poder econômico e afastada, por conseguinte, a conduta vedada imputada aos representados, restando incólume a igualdade de condições e oportunidades entre os candidatos nas eleições de 2010, a improcedência dos pedidos formulados na petição inicial é medida que se impõe", conclui.
Descontente com a decisão do TRE, a coligação Para Fazer Brilhar o Ceará recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília. Além de Cid Gomes e Domingos Filho, são citados no recurso especial eleitoral o chefe da Casa Civil, Arialdo Pinho. Em resposta, o vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio José Guilherme de Aragão, opina que a decisão em favor do governador deve ser reformada. O parecer foi emitido no dia 31 de março.
O vice-procurador argumenta que, mesmo sem comprometer a igualdade do pleito eleitoral, o descumprimento à legislação por si só já imputa aos réus as sanções previstas em lei. Segundo a ação, no primeiro semestre de 2010, o Governo do Estado gastou 22,8% a mais com publicidade institucional do que a média dos semestres anteriores.
"Segundo jurisprudência deste Tribunal Superior (...), não se examina a potencialidade ofensiva, bastando a simples ocorrência da conduta", diz Eugênio Aragão. O processo está no gabinete da ministra Laurita Vaz, aguardando para ser analisado.
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FORTALEZA TÁ UM LIXO !

Funcionários da Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) inciaram greve na manhã desta quarta-feira (23) por tempo indeterminado. Os primeiros pontos atingidos pela paralisação serão as zonas 14 e 15 das 25 zonas de geração de lixo do município, segundo o Sindicato dos Servidores da Emlurb (Sindilurb).
Os bairros atingidos nestas zonas são: Pan-Americano, Couto Fernandes, Demócrito Rocha, Damas, Bom Futuro, Vila União, Aeroporto, Montese, Benfica, José Bonifácio, Jardim América e Fátima. Segundo o presidente do Sindilurb, Fernando Cassiano, cerca de "70% do quadro de trabalhadores da empresa já aderiram à paralisação das atividades".
O grupo realizou uma assembleia geral nesta quarta-feira (23) na sede do órgão e seguiu para a Câmara de Vereadores. De acordo com o Sindilurb, até a próxima sexta-feira (25), o sindicato pretende atingir 100% de grevistas.
Entre os motivos da paralisação estão o "esvaziamento" da empresa, "péssimas condições de trabalho" dos 1.300 garis de Fortaleza e falta de equipamentos de proteção individual tais como fardamento, luvas e botas.
Entre os pedidos do grupo estão o reajuste salarial de acordo com a inflação de Fortaleza (6,38%), a realização de concurso público e a alteração da jornada de trabalho de 6 para 8 horas diárias, "com o acréscimo proporcional de 33% no salário base".
Segundo o presidente do Sindilurb, "o sindicato não realizou nenhum tipo de negociação com a empresa". A Emlurb informou, através de nota, que todas as demandas apresentadas pelos empregados da empresa serão levadas para as Mesas Setoriais do Sistema de Negociação Permanente (Sinep).
Com informações da repórter do Diário do Nordeste, Vanessa Madeira. Foto: Fabiane de Paula.
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A CRISE VOLTA AO PLANALTO

Editorial de O Estado de S.Paulo
Bem que o ex-presidente Lula reclamou da sua afilhada Dilma Rousseff por "trazer para dentro do Planalto" a crise, até então restrita à Petrobrás, da compra da metade da Refinaria de Pasadena, em 2006. O que motivou o desolado comentário do mentor, em conversa com petistas, foi a já afamada nota da presidente ao Estado, em 17 de março passado, na qual confirmava que, na condição de titular do Conselho de Administração da estatal, aprovara a transação, que anos depois daria um prejuízo de US$ 530 milhões, apenas com base em um parecer de página e meia, "técnica e juridicamente falho", preparado pelo diretor da área internacional da empresa, Nestor Cerveró. Só mais tarde, segundo a sua versão, ela teria descoberto que o texto omitira duas cláusulas potencialmente lesivas à petroleira. Se delas tivesse tido conhecimento à época da decisão, garantiu, "seguramente" teria se oposto à compra.
Na semana passada, em depoimentos distintos na Câmara e no Senado, Cerveró, recém-demitido de um cargo na BR Distribuidora para o qual tinha sido removido, e a presidente da Petrobrás, Graça Foster, cuidaram, cada qual a seu modo, de manter a chefe do governo longe do fogo. Ela, por sua vez, saiu alegando que, ao propor uma CPI sobre esse e outros casos suspeitos, a oposição iniciara uma "campanha negativa" contra a empresa para, ao fim e ao cabo, promover a sua privatização. A blindagem de Dilma não estava, porém, completa. Faltou combinar - se é que teria sido possível - com o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, o primeiro defensor da parceria com o grupo belga Astra Oil, proprietário da refinaria. Numa entrevista a este jornal, publicada domingo, disse deliberadamente: "Não posso fugir da minha responsabilidade (pelo negócio), do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela".
Assim como a nota oficial de Dilma, as palavras de Gabrielli são uma defesa prévia diante dos eventuais desdobramentos da admissão de Graça Foster de que a Petrobrás enterrou US$ 1,249 bilhão em Pasadena, segundo as contas oficiais. Com o argumento de que, em última análise, foi induzida a erro ao endossar a primeira parte da desastrosa transação, a presidente tentou resguardar-se da acusação de negligência, ou de ter cometido um ato de gestão temerária. Já Gabrielli, ao compartilhar a responsabilidade com Dilma, alvejou quem não gostava de sua gestão e tampouco disse uma palavra em sua defesa desde que o caso eclodiu. Ele não se limitou a isso. Reconhecendo que o Conselho não teve acesso às cláusulas citadas pela presidente, considerou-as irrelevantes. Por fim, na contramão do que ela escreveu sobre o que seguramente faria se as conhecesse, disse acreditar que o colegiado, ainda assim, "teria aprovado" a operação.
A diferença entre a manifestação de Dilma e a de Gabrielli é que a dela foi uma decisão solitária, temperamental - e, afinal de contas, contraproducente. Já a dele decerto resultou de conversas com seu bom companheiro Lula, que foi quem lhe entregou o comando da Petrobrás. Talvez Gabrielli tenha sido um pouco mais incisivo do que o ex-presidente apreciaria - a única concessão a Dilma na entrevista foi achar "legítimo que ela tenha dúvidas". Mas demarcou o seu território para o que der e vier e reiterou que a compra da refinaria "foi um bom negócio para a conjuntura de 2006, um mau negócio para a conjuntura de 2008 a 2011 e voltou a ser bom em 2013 e 2014". Só que, em 2007, a Petrobrás teria se recusado a revender à sua antiga proprietária, como esta queria, a metade que dela havia comprado, conforme noticiou ontem a Folha de S.Paulo. Coisas assim explicam o ostensivo empenho do governo em impedir a abertura de uma investigação parlamentar sobre, antes de tudo, as possíveis malfeitorias escondidas no subsolo de Pasadena.
Outras dúvidas pairam sobre a conduta da então dublê de ministra da Casa Civil e conselheira chefe da Petrobrás. Não é crível que, numa função ou na outra, ela tenha ignorado um ano das negociações com a Astra Oil, sabendo apenas acerca do seu desfecho o que constava no tal resumo executivo. E se, mesmo assim, aprovou a transação, foi - a palavra é esta - irresponsável.
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BATE-BOCA NO SENADO

Pré-candidato à Presidência da República, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) bateu boca nesta terça-feira (22) no plenário do Senado com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) durante análise do projeto do marco civil da internet, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para internautas e provedores de rede.
Na confusão, o senador Mário Couto (PSDB-PA) saiu em defesa do correligionário, partiu para cima de Lindbergh e foi contido pelo senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) para não trocar agressões físicas com o petista, que é pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro. “Não bote o dedo na minha cara, não. Não bote o dedo na minha cara, não”, reagiu Lindbergh, diante do dedo em riste de Mário Couto.
Ao chegar ao plenário para a discussão da proposta, Lindbergh afirmou que Aécio Neves não estava dialogando com a maioria da sociedade ao se colocar contra a aprovação rápida do marco civil. Disse que o PSDB vai cometer um “erro histórico” e vai “pagar nas redes sociais” por ser contra a urgência na aprovação do projeto.
“Eu acho que hoje ele e o PSDB aqui deram um tiro no pé. O senador [Aécio] tem dito na televisão que quer conversar com os brasileiros, mas, se estivesse escutando os brasileiros, saberia que nenhum outro projeto mobilizou tanto a juventude do nosso Brasil como esse marco civil da internet. Foram anos de discussão. Vossa excelência diz que quer aprimorar o projeto? Aprimorar o projeto significa voltar para a Câmara dos Deputados  e nós sabemos o que foi para esse projeto sair da Câmara”, criticou Lindbergh.
O tucano retrucou dizendo que o petista “chegou mais uma vez atrasado” na discussão e não tem “autoridade política e moral” para criticá-lo. “Vossa Excelência quer fazer graça em uma Casa que deveria ter o seu respeito. Vossa Excelência está trazendo para cá uma disputa eleitoral. Não apequene uma discussão tão importante para a sociedade brasileira”. Aécio prosseguiu: “Não tem estatura política nem moral para debater comigo. Cuide dos seus problemas e dos seus processos. Não venha fazer qualquer ataque a mim, senador”.
Por orientação do Palácio do Planalto, a base aliada quer aprovar ainda hoje o projeto para que a presidenta Dilma Rousseff o apresente na conferência internacional “NetMundial”, a ser realizada amanhã e na quinta-feira em São Paulo (SP). Até o momento, os governistas já conseguiram aprovar a inversão de pauta da Casa para garantir a votação do marco nesta noite. A oposição questiona a urgência da votação.
Apesar de concordar com a proposta, a oposição é contra votá-la com urgência porque quer mais tempo para discutir sobre o tema no Senado. Clique aqui e veja o vídeo.
Conteúdo do site Congresso em Foco.
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VITÓRIA CONTRA A INTOLERÂNCIA

Talvez você não se lembre. Mas há quase dois anos, eu, o PSOL e o conjunto da população LGBT fomos duramente atacados por um semanário local. A coluna do comunicador João Francisco da Silva – o qual não conheço nem nunca vi na vida – disparava ofensas contra mim e contra os LGBT em geral. O motivo: a exibição, no horário eleitoral do PSOL, de uma cena de dois segundos, exibindo um beijo entre dois homens .
Parece loucura dizer isso hoje, depois do Brasil vibrar com o beijo de Mateus Solano e Thiago Fragoso, que representavam o casal Niko e Félix na novela Amor à Vida, da Globo. Mas há dois anos, isso gerou a ira de alguns setores da sociedade joinvilense.
No dia 3 de setembro de 2012, em plena campanha eleitoral, eu e o PSOL fizemos uma denúncia à Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público de Santa Catarina. A denúncia gerou uma ação judicial por dano moral coletivo à população LGBT.
O deputado Jean Wyllys, do PSOL-RJ, escreveu uma carta de solidariedade a mim e à nossa campanha e o caso ganhou repercussão nacional.
Um ano e nove meses depois, recebi com satisfação a notícia de que João Francisco da Silva e o Jornal da cidade foram condenados em decisão do juiz Roberto Lepper. Ambos – jornal e colunista – deverão pagar multa de R$ 25 mil, corrigidas com juros e correção monetária. Leia a decisão na íntegraaqui.
Esta é uma vitória importante aos que lutam pelos direitos humanos e contra a homofobia. É uma vitória de toda a população LGBT. O juiz Roberto Lepper entendeu, de maneira acertada, que a liberdade de expressão e de imprensa não são absolutas, e não dão o direito de ofender e achincalhar quem quer que seja por ser dono ou funcionário de uma empresa de comunicação.
A argumentação de Lepper para justificar a condenação compara João Francisco aos deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ), o qual classifica como “fundamentalistas”, “mediavais” e pregadores de ideias misóginas.
Ouço até hoje, de simpatizantes nas ruas, que não devería ter exibido a cena na TV, que perdi votos, entre outras coisas. Pode ser verdade. Mas nossa campanha não iria deixar de dizer o que quer que seja apenas para ganhar mais votos. A igualdade, o respeito à diversidade cultural, étnica, religiosa, sexual e de gênero são princípios da nossa atuação política. Não poderíamos esconder isso apenas para ganhar votos. Seria enganar o eleitor e enganar a nós mesmos.
Seguimos em frente, de cabeça em pé, na luta contra o fundamentalismo, contra o pensamento medieval e pela ampla difusão dos direitos humanos e das pessoas LGBT. Obrigado a todos e todas que acreditaram e acreditam nesses ideais e nos deram todo o suporte necessário à época para passarmos por isso.
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terça-feira, 22 de abril de 2014

VERSÃO DESCARTADA

Brasília - A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta terça-feira, 22, um relatório que indica que o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o motorista dele, Geraldo Ribeiro, morreram em consequência de um acidente de trânsito na rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, em 1976. A pesquisa sobre o caso descarta versões de que eles teriam sido assassinados.
A polêmica em torno do assunto começou ainda nos anos 80, quando peritos encontraram, durante uma exumação, um fragmento metálico no crânio do motorista, que depois se constatou se tratar de um cravo usado no revestimento do caixão. Essa polêmica voltou à tona em dezembro do ano passado, quando a Comissão da Verdade instalada na Câmara Municipal de São Paulo apresentou uma pesquisa segundo a qual JK e seu motorista teriam sido vítimas de homicídio doloso.
Integrantes da comissão paulista chegaram a pedir ao Palácio do Planalto que o governo reconhecesse oficialmente "os assassinatos". A pesquisa foi considerada uma jogada política dos vereadores paulistas, sem bases históricas.
"O ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e seu motorista, Geraldo Ribeiro, morreram em decorrência de lesões contundentes, sofridas quando da colisão frontal entre o veículo Chevrolet Opala, em que viajavam, e o Scania Vavis", destaca o relatório apresentado nesta terça-feira pela Comissão Nacional da Verdade. "Não há nos documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados vítimas de homicídio doloso".
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BRASIL, 514 ANOS

Via Facebook de Eduardo Campos
Há exatamente 514 anos, caravelas portuguesas chegaram aqui pela primeira vez. Milhões de índios de cultura milenar já habitavam essas terras. Mesmo assim, os livros de história convencionaram chamar este dia como sendo o dia do descobrimento do Brasil.
Em seu belíssimo trabalho "O Povo Brasileiro", o antropólogo Darcy Ribeiro nos diz que o Brasil não foi descoberto, foi feito, foi inventado. O "fazimento do Brasil", como diz Darcy, foi o nascimento de um povo mestiço, a fusão de culturas originais, a mistura de religiões e a construção de uma nova língua: o português brasileiro.
Hoje, pouco mais de cinco séculos depois, o Brasil precisa se reinventar. Quem sabe, se redescobrir. Nossa sociedade exige o resgate de valores essenciais, como ética e transparência, e o aprofundamento de ideais modernos como sustentabilidade, respeito ao meio ambiente e a cada um de seus cidadãos.
É um Brasil onde todos têm oportunidade de se desenvolver junto com o País. Um Brasil que investe em Educação, que garante Saúde, que cuida do Transporte, que mantém a Segurança, respeitando as diferenças entre cada região, entre cada cidade, entre cada brasileiro.
Este novo Brasil que estamos inventando agora traz consigo uma nova forma de se fazer política. É um País onde o poder público caminha lado a lado com a sociedade, rumo a objetivos comuns. É um novo Brasil que, ao invés de continuar cometendo os erros do passados, ergue os olhos para o futuro e planeja seu caminho de forma equilibrada e estratégica.
É um novo Brasil, onde um partido nunca será maior que um governo, e onde um governo jamais será maior que seu povo. É um País que se baseia em ideias e ideais, não em cargos ou na manutenção do poder.
Darcy Ribeiro conclui seu trabalho dizendo "Nós temos que inventar o país que queremos". Esta é a essência da minha luta e dos meus sonhos. Que o Brasil seja redescoberto – desta vez, pelos próprios brasileiros.
Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, presidente nacional do PSB e pré-candidato a presidente da República.
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segunda-feira, 21 de abril de 2014

BRASÍLIA, 54 ANOS

Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, Brasília é a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. A transferência dos principais órgãos da administração federal para a nova capital foi progressiva, com a mudança das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais.
O plano urbanístico da capital, conhecido como "Plano Piloto", foi elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, o adequou ao projeto do lago Paranoá. O lago armazena 600 milhões de metros cúbicos de água.
Sob as linhas retas e curvas do arquiteto Oscar Niemeyer, nasce Brasília. Um grande desafio; a cidade foi construída na velocidade de um mandato, e Niemeyer teve de planejar uma série de edifícios em poucos meses para configurá-la.
O Sou Chocolate e Não Desisto indica dois livros biográficos sobre Juscelino Kubitschek: JK – O artista do impossível, do jornalista Cláudio Bojunga e Juscelino Kubitschek – O presidente bossa-nova da jornalista Marleine Cohen com prefácio de Maria Adelaide Amaral.
Além dessas biografias, uma ótima opção é o filme Bela Noite Para Voar, de Zelito Viana, lançado em 2005, baseado no livro de Pedro Rogério Moreira que tem como pano de fundo duas conspirações contra o governo 50 anos em 5, de Juscelino Kubitschek.
Se preferir uma obra mais extensa, a minissérie JK, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira com cinco discos (DVD), aproximadamente 230 minutos em 47 episódios; é uma excelente opção para quem gosta de história e política.
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29 ANOS SEM TANCREDO NEVES

Tancredo de Almeida Neves, nasceu em 4 de março de 1910, em São João Del Rei, Minas Gerais. Advogado, empresário e político foi casado com Risoleta Guimarães Tolentino, com quem teve três filhos.
Em 1985 foi realizada a primeira eleição (indireta, via Colégio eleitoral) para presidente desde o golpe militar de 1964.
Tancredo Neves foi indicado por uma coligação de partidos, com apoio de Ulysses Guimarães (a figura mais importante no período de redemocratização do país).
Tendo como candidato a vice na mesma chapa José Sarney, venceu o pleito em 15 de janeiro de 1985, por 480 votos contra 180 de Paulo Maluf.
A articulação que elegeu a dupla Tancredo e Sarney é tida ainda hoje como uma das mais complexas e bem-sucedidas na história política do país.
Tancredo temia que os militares mais rigorosos se recusassem a passar o poder ao vice-presidente. Porém não resistiu, e na véspera da posse (14 de março de 1985), foi internado em Brasília com dores abdominais.
José Sarney assumiu a presidência aguardando o restabelecimento de Tancredo, que a partir de então, já em São Paulo, sofreu sete cirurgias. No entanto, em 21 de abril (mesma data da morte do mártir nacional Tiradentes), Tancredo faleceu vítima de infecção generalizada, aos 75 anos.
Vinte anos após, o corpo médico revelou que não divulgou o laudo correto da doença, que não teria sido diverticulite, porém um tumor. Embora benigno o anúncio de um tumor poderia ser interpretado como câncer, causando efeitos imprevisíveis no andamento político no momento.
Em seu lugar, assumiu a presidência da República o vice José Sarney, encerrando o período de governos militares chamado de Anos de chumbo iniciado com o Golpe de 1964.
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domingo, 20 de abril de 2014

MANTIDA ORDEM DE PRISÃO

Paulo Maluf (PP/SP) sofreu novo revés, desta vez na Suprema Corte de Nova York (EUA), que rejeitou outro pedido do deputado brasileiro de anulação do processo pelo qual foi decretada a prisão dele e de um de seus filhos, o empresário Flávio Maluf.
Na ação, a promotoria americana acusou Maluf e Flávio de manterem em uma conta bancária US$ 11 milhões supostamente desviados dos cofres públicos municipais de São Paulo.
Maluf foi prefeito da Capital paulista entre 1993 e 1996. O dinheiro depositado nos EUA, segundo a acusação, seria apenas uma parte de montante relativo a fraudes em obras viárias de grande porte por ele contratadas em sua gestão, como a construção da Avenida Água Espraiada, na zona Sul da cidade.
Maluf nega a prática de malfeitos. Por sua assessoria, sempre que questionado sobre as acusações do Ministério Público, reitera que “não tem e nunca teve dinheiro no exterior”.
A ação da Promotoria de Nova York provocou uma grave consequência para Maluf – seu nome foi inserido na difusão vermelha da Interpol, organismo que aloja as polícias de quase 200 países.
A difusão vermelha é o índex dos mais procurados. Maluf até pode sair do Brasil, mas corre o risco de ser capturado em um aeroporto qualquer.
Fausto Macedo, O Estado de S.Paulo 
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sábado, 19 de abril de 2014

ENTREVISTA: EDUARDO CAMPOS

O presidenciável do PSB, Eduardo Campos, acha que Dilma Rousseff emite sinais de que fugirá dos debates que estão sendo organizados por emissoras de tevê e portais de internet. Farejou o desejo de fuga nos relatos que recebeu dos assessores que o representam nas reuniões preparatórias. “Considero lamentável que a presidenta Dilma sinalize que fugirá dos debates”, disse ele, em entrevista ao blog.
Nas palavras de Campos, Dilma e seus operadores se equipam apostando “na construção de uma campanha completamente conservadora e reacionária”. Avalia que, além de esquivar-se do confronto de ideias, disseminam a “descrença em relação à participação da sociedade” e recorrem ao “terrorismo político” contra os que defendem mudanças.
“Quando você precisa correr do debate, apostar no desânimo do povo e disseminar o medo é porque alguma coisa está errada”, declarou. “O que eles não estão considerando é o seguinte: uma aparente desmotivação pode virar uma grande grande mobilização. O liame entre o desânimo absoluto e a mobilização é tênue. Basta uma fagulha”, acrescentou noutro trecho da conversa.
Após formalizar a chapa que terá Marina Silva como candidata a vice-presidente, Eduardo Campos mudou-se para São Paulo. Instalou-se num flat no bairro paulistano de Moema, onde passa o feriadão da Páscoa com a família. Despachará provisoriamente na sede do PSB estadual. Procura uma casa ou um conjunto de salas para montar o seu quartel general em junho, depois da convenção que formalizará sua candidatura.
Vai abaixo a íntegra da entrevista. Nela, Campos fala da agressividade de Dilma —“precisa se habituar à ideia de que tem pessoas que não concordam com ela”—, avalia o desempenho da supergerente —“não há dúvida de que fracassou”—, faz promessas —“vamos blindar a Petrobras contra ações fisiológicas”—, diz o que planeja fazer com os políticos tradicionais que apoiam qualquer governo —“vou mandá-los para a oposição”— e explica porque prefere não se aliar ao tucano Geraldo Alckmin no primeiro turno —“precisamos ter a nossa identidade em São Paulo, a nossa cara.” Leia:
— No lançamento de sua chapa com Marina Silva, o senhor disse que, sempre que o povo se animou, obteve avanços. Na última pesquisa do Ibope, somando-se os indecisos aos que dizem votar nulo ou em branco, chega-se a 37% do eleitorado. Não lhe parece que há muita gente desencantada com a política? Nossa primeira tarefa é chamar a sociedade para participar do debate. De fato, a gente só conseguiu fazer mudanças importantes no Brasil quando o povo se aproximou da política. Foi assim para fazer a transição democrática, as eleições diretas, o impeachment —que permitiu alcançarmos as condições políticas para a estabilidade econômica —, foi assim também para garantir a vitória do Lula em 2002. Eu me pergunto: a quem interessa tirar a sociedade da participação política? Só interessa aos conservadores, a quem quer manter privilégios. Venho dizendo desde as manifestações do ano passado que a nossa grande tarefa é fazer o debate, que não foi feito em 2010, sobre as novas circunstâncias históricas em que estamos inseridos. Queremos fazer esse debate.
— No Planalto e no PT, celebra-se o fato de que a taxa de intenção de votos da presidente cai, mas seus antagonistas, o senhor e Aécio Neves, não sobem. Imagina-se que, nesse cenário, a reeleição não estaria ameaçada. Nesse cenário, acha que Dilma Rousseff participará de debates durante a campanha?
Infelizmente, o que a gente percebe é que a presidenta Dilma e as pessoas mais próximas dela têm procurado dar sinais, nas reuniões com os veículos de comunicação, de que ela não vai querer participar de debates. Acho terrível que pessoas com a origem política que a presidenta tem possam apostar na construção de uma campanha completamente conservadora e reacionária.
— Por que reacionária? Considero lamentável que a presidenta Dilma sinalize que fugirá dos debates. Falo à vontade sobre isso, porque disputei a reeleição para governador. Tinha mais de 70 pontos nas pesquisas. E participei de todos os debates, com candidatos que tinham um ponto, dois pontos, três pontos nas pesquisas. Então, falo de algo que já pratiquei, não da boca pra fora. Não fugi do debate. Eu já vinha sentindo que eles fugiriam do debate. É a partir do debate que se constroem os consensos importantes para o país, independentemente do candidato A, B ou C. Além disso, não se pode apostar no desânimo.
— Como assim? É terrível verificar que tem gente apostando no desânimo, na descrença em relação à política e à participação da sociedade. Isso vai contra tudo o que nós pregamos a vida inteira. E não é só isso. Estão lançando mão de algo que sempre foi usado por nossos adversários, que é o terrorismo político do medo eleitoral, do medo da mudança.
— Isso está acontecendo? Fico verdadeiramente chocado quando vejo gente que acha que ainda é progressista fazendo o discurso que foi feito pela reação contra a gente. Um discurso que historicamente foi usado contra todas as lutas e os governos progressistas. Isso foi usado duramente contra Lula, por exemplo. Quando você precisa correr do debate, apostar no desânimo do povo e disseminar o medo é porque alguma coisa está errada.
— Acha que já está claro que Dilma não participará dos debates? Basta ouvir os assessores que têm participado das reuniões de organização dos debates. Ouça os nossos assessores e os de Aécio. Verá que, nessas reuniões, os representantes da presidenta Dilma deixam nas entrelinhas, às vezes na linha mesmo, a indicação de que não vão participar. O que eles não estão considerando é o seguinte: uma aparente desmotivação pode virar uma grande grande mobilização. O liame entre o desânimo absoluto e a mobilização é tênue. Basta uma fagulha.
— Acha mesmo que a oposição conseguirá acender essa fagulha? Minha impressão é de que ela já está foi acendida nas rua. Vivemos um tempo que, pela lógica, é o tempo da presidenta Dilma. Era para ela estar crescendo nas pesquisas. Os outros estão ausentes da mídia e ela está 100% presente. Tem a possibilidade de fazer mobilizações Brasil afora, inaugurações, isso e aquilo. A oposição não tem espaço pra se colocar. Num momento como esse, em que tudo favorece a presidenta Dilma, ela cai nas pesquisas. Imagine como será quando começar o tempo mais duro para ela.
— Como será esse tempo duro? Daqui a pouco a populaçãoo vai se dar conta de que vai ter eleição para presidente. E vai checar as promessas dela. As pessoas vão querer saber se o governo dela melhorou a vida da família, se melhorou as condições da cidade. Todo mundo vai ficando mais exigente. É natural. O tempo da cobrança sobre o governante chega mais forte na época da eleição. Quando o governo tem falhas, elas aparecem mais durante a campanha. E as falhas do atual governo são evidentes. As pesquisas variam conforme a metodologia, mas trazem três dados coincidentes: 1) caem a avaliação do governo e também a avaliação dela; 2) há uma variação bem pequena entre o percentual dela no primeiro e no segundo turno; e 3) o desejo de mudança.
— Que avaliação faz desses dados? Para a presidenta Dilma, esse é um tripé muito duro de ser enfrentado. As pessoas a qualquer hora vão procurar uma alternativa. Tem 70% de eleitores que não querem a continuidade. Quando você quer um alimento diferente, às vezes o que você procura não está visível na gôndola do supermercado. Você vai ao gerente diz: ‘meu amigo, aqui só tem carne? Você não teria um peixe? Não quero comer dobradinha nem feijoada, quero uma coisa mais leve’. Essas variáveis têm que ser consideradas. As pessoas vão procurar alternativas. E vão achar, não tenha dúvida.
— Na hipótese de Dilma fugir dos debates, ela perde mais do que ganha? Creio que, até o dia da eleição, ela vai perder em qualquer circunstância. Mas, sem dúvida, ela perderá mais com a ausência. Por um lado, isso vai passar uma impressão de arrogância, de desconsideração com o eleitor. Por outro, ficará patente que ela não tem o que dizer. Qualquer justificativa que for criada vai levar as pessoas em casa a se perguntarem: porque ela não foi? Acha que já está eleita? Por que esse salto alto, essa arrogância? Ninguém gosta disso. E também fica mal para ela a sensação de que não tem o que dizer. Ou não tem preparo para enfrentar o debate. A ausência é sempre muito ruim.
— O modelo político favorece a fisiologia. Quem está no poder e pode conceder benesses forma coligações de dimensões amazônicas. Dilma deve ter entre 12 e 13 minutos de propaganda na tevê e no rádio, o senhor terá algo como dois minutos. O Aécio, pouco mais de 4 minutos. Como fazer para levar a mensagem ao eleitor com uma vitrine tão pequena? É mais difícil, mas não é impossível. Fiz uma eleição majoritária com pouquíssimo tempo de televisão, cerca de três minutos. Tem que ter mobilização. Hoje as mídias sociais são um diferencial em relação às eleições de 2006 e 2010. Elas têm agora uma expressão maior do que tinham. O Brasil tem hoje 100 milhões de pessoas com smartphones. E temos de contar com a cobertura da própria mídia tradicional, que deve começar tão logo as convenções aconteçam, porque aí já existirão candidatos formais. Você passa a ter espaço na televisão aberta, no rádio. Além disso, é preciso andar muito, mobilizar a militância e participar dos debates.
— Ao discurar no ato que formalizou sua chapa com Marina Silva, o senhor mencionou a Petrobras. Disse que não vai permitir que a estatal se transforme em caso de polícia. No mesmo dia, em Pernambuco, sua terra, a presidente Dilma dizia que não vai permitir que ninguém destrua a Petrobras. Acha que essa será uma campanha encarniçada? Eu não vou entrar nessa. Vou fazer uma campanha limpa, respeitosa com a presidenta e com Aécio. Farei minha campanha com ideias. Mas também não vou me intimidar. Farei o debate com franqueza. O que eu achar que está errado direi que está errado. Ela precisa entender que o debate é democrático. Precisa se habituar à ideia de que tem pessoas que não concordam com ela. Tem hora que a intolerância e a arrogância não resolvem nada. É preciso ter tranquilidade.
— Portanto, continuará falando de Petrobras. Disso e de muito mais. Tenho enorme respeito pela Petrobras. Cresci vendo meu avô [Miguel Arraes] dizer que participou da campanha ‘o petróleo é nosso’. Tenho muito respeito pela empresa e sei que a gente precisa de uma Petrobras forte, que possa ajudar na retomada do desenvolvimento brasileiro. Então, ninguém vai conseguir dizer agora que fizemos alguma coisa contra a Petrobras. Estamos prontos para defender a Petrobras.
— O que significa defender a Petrobras? Significa separar as coisas boas que existem na Petrobras das coisas ruins que colocaram lá. Defender a Petrobras é garantir uma direção profissionalizada, sem nenhum tipo de ingerência partidária e ideológica. É preciso respeitar o planejamento da empresa.
— Isso inclui respeito ao planejamento tarifário? Claro. É preciso ter uma política para o preço dos combustíveis. Algo que não fique ao sabor da inflação do mês seguinte, mas que garanta à maior estatal brasileira condições para que ela ajude o Brasil. O problema é que o Brasil não está ajudando a Petrobras que, por consequência, também não ajuda o Brasil.
— Se entendi direito, o senhor acha que há dois tipos de problema na Petrobras, um econômico e outro ético-moral. É isso? Tem uma questão de conjuntura econômica que, sozinha, jamais justificaria o que está acontecendo na Petrobras. E tem a constatação óbvia de que uma empresa como a Petrobras não pode continuar sendo palco de arranjos fisiológicos e partidários. Como sou candidato à Presidência e acho que vou ganhar a eleição, quero assumir publicamente um compromisso com o país: a Petrobras não terá interferência política do meu partido ou de qualquer partido. Vamos profissionalizar a direção da Petrobras, blindando a empresa contra ações fisiológicas. Vamos garantir o planejamento estratégico da empresa e, sobretudo, dar a ela condições de realizar seus projetos. Devo dizer que tenho respeito pela Graça Foster. Tenho ela como uma pessoa séria. Mas não é uma pessoa sozinha que vai resolver o problema.
— Esse seu compromisso de blindagem vale para todas as estatais? Sem dúvida nenhuma. Vale para todas. Alguém tem que botar a cara nessa eleição para dizer algo definitivo: meus amigos, nós vamos mudar esse jeito de fazer as coisas. Não é desrespeito à política. Não posso falar contra a política. Já nasci numa família de perseguidos políticos, sentindo os efeitos da política. Tenho muito respeito pela atividade política. E é isso o que me anima a dizer que chegou a hora de compreender que há um novo paco político na sociedade. É preciso elevar o padrão político do país. Essa é uma tarefa de todos.
— O diagnóstico da doença é bom. Como chegar à cura? Eu citei no discurso que fiz nesta semana o exemplo de Teotônio Vilela. Ele era eleito por uma base latifundiária, conservadora, atrasada. Esse cara virou um arauto da redemocratização no Brasil. Tornou-se o porta-voz do que havia de mais avançado em termos políticos no Brasil. Ele chegou a segurar a onda do Lula preso, no ABC Paulista. Quando disseram que a anistia iria excluir Prestes, Brizola e Arraes, ele foi a voz que discursou a favor da anistia ampla, geral e irrestrita. Isso depois que ele e as forças que representava haviam figurado numa articulação que ia matar meu avô em 1963. Tem uma hora que a pessoa precisa olhar em volta e dizer: isso aqui não dá mais para mim. Nós chegamos nessa hora.
— Nesse mesmo discurso em que o senhor citou Teotônio Vilela, disse que, se eleito, mandará para a oposição esses partidos que ficam de plantão para apoiar qualquer governo. Entendi que falava de legendas como o PMDB. Se for eleito, fará isso mesmo? Ah, é isso mesmo. Vou mandá-los para a oposição. Do contrário não faz nada, amigo. Se não fizermos isso, a energia da sociedade não servirá para ajudar nas mudanças que são necessárias. O trabalhador sai de casa, pega um trem, leva duas horas e meia para ir até o trabalho, mais duas horas e meia para voltar, rala o mês inteiro, fica devendo ao agiota… Chega em casa, liga a televisão e vê que a política está sendo conduzida pelas mesmas pessoas que estão aí há mais de 30 anos. Se você estiver do lado dessa gente, como é que as pessoas vão acreditar que algo de novo vai acontecer nesse país? O povo toda razão quando desconfia.
— Esses políticos que gravitam ao redor do Estado há mais 30 anos, como o senhor diz, podem atrapalhar um bocado. Como governar com eles na oposição? Essas bases de apoio gigantescas são uma ficção. Quando não querem, não votam. Isso é tudo uma ficção. É hora de trazer o conteúdo e chamar a sociedade para participar. A internet está aí, as redes sociais. Confio também que vai haver uma mudança no perfil do Congresso que será eleito.
— Como governador de Pernambuco, o senhor praticou a política tradicional, governou com uma grande coligação partidária. Antes de sua aliança com Marina Silva, buscava o apoio de partidos que integram a coligação de Dilma. Ao falar em ‘nova política’, está fazendo uma autocrítica? Nós fizemos um governo completamente inovador em Pernambuco. Em 2010, disputei com Jarbas Vasconcelos e Sérgio Xavier. Tive 83% dos votos e chamei o Sérgio Xavier para comandar a área do Meio Ambiente. Ele fez uma campanha mostrando insuficiência do nosso governo nessa área. E eu o chamei para o governo. Fizemos um entendimento em cima de 14 pontos.
— Sérgio Xavier é da Rede? Sim, ele hoje está na Rede. Era fundador do PV. Não me apoiou em 2006. E disputou a eleição contra mim em 2010. Fez a campanha falando dos desafios ambientais que tinham que ser mais bem cuidados. E eu o chamei para o governo.
— E quanto à sua grande base de apoio? Tivemos uma base ampla porque nosso apoio popular é amplo, não porque a gente foi cooptar os partidos. São duas coisas diferentes. Uma coisa é um governo ter pouco mais de 30% de apoio, como no caso do governo da Dilma, e ter 90% do Parlamento. Outra coisa é o governo ter 90% na rua e ter 70% do Parlamento, como é o nosso caso em Pernambuco. São caminhos distintos. Tive um amplo apoio político-partidário porque construí um amplo apoio junto à população, não o contrário. Eu comecei a minha primeira campanha com 4%, em cima de um caixotinho, na Praça do Diário de Pernambuco.
— E sobre a reorientação política do seu projeto a partir da chegada de Marina Silva, como se deu? Nós tínhamos um cenário em que teríamos a nossa candidatura, a de Marina e a de Aécio. Na hora em que a candidatura de Marina foi inviabilizada pela decisão do TSE, que negou o registro à Rede, ela veio para o nosso lado. Nós agora temos que representar um conjunto mais amplo. E nesse conjunto, temos que expressar os valores que estão sendo reclamados pela nossa base. Por isso estamos elaborando um programa. Temos histórias construídas no mesmo campo político, mas somos diferentes. Então, nossa aliança tem um programa. Que será cumprido. Logicamente, esse programa tem que estar sustentado numa aliança política que o traduza adequadamente. As pessoas que olham para nós precisam enxergar um eixo que dê consistência ao nosso projeto. Não queremos ganhar por ganhar. Estamos em busca de disputar uma eleição e ganhar para fazer um governo inovador. Algo que dê conta desse novo ciclo político que a sociedade reclama.
— O senhor tem defendido a tese segundo a qual o país precisa de um líder, não de um gerente. Acha que a fórmula da supergerente, associada a Dilma em 2010, fracassou? Não há dúvida de que fracassou. As pessoas percebem que, nesses últimos três anos, as coisas pararam de acontecer e o Brasil perdeu o rumo estratégico. Em muitos aspectos as coisas pioraram. Há um testemunho generalizado de quem trabalha próximo ao serviço público de que o padrão de eficiência piorou. Isso acontece na relação com prefeitos, governadores e prestadores de serviço. Governar um Estado ou um país não é coisa para gerente. Um governo pressupõe o trabalho de vários gerentes, sob a coordenação de um líder —tudo girando em torno de um projeto. Não pode ser só um gerente. Muito menos um gerente que não ouve ninguém e faz o que lhe dá na telha. Essa visão é ultrapassada.
— Hoje, o senhor diz que não se fez na campanha de 2010 um debate sério sobre o país. Nas suas palavras, ‘a anulação do debate político descambou para temas religiosos’. No entanto, o PSB poderia ter lançado Ciro Gomes naquela eleição e, a pedido de Lula, optou por integrar a coligação pró-Dilma. Foi um erro? Na verdade, eu e Ciro defendemos durante todo o ano de 2009 a tese de que deveríamos ter mais de um candidato, porque [José] Serra estava muito acima nas pesquisas, mais de 40%. Estava mais alto do que a Dilma está agora. Por isso defendíamos duas candidaturas. E o Lula fazia o apelo reiterado para que não lançássemos candidato. Definimos que avaliaríamos até março de 2010. E fomos até março. Nessa fase, ela já tinha crescido e Serra começava a cair. O crescimento dela se deu sobretudo engolindo o Ciro. Aí, muitos Estados tinham seus interesses nas composições de chapas. Isso se contrapunha à posição de Ciro ser candidato. Os Estados começaram a balançar. E o Ciro tinha delegado ao Lula, talvez por delicadeza política, a atribuição de coordenar o processo. Chegou uma hora que nós fomos para o voto. Em 24 Estados, o partido decidiu a favor do apoio a Dilma já no primeiro turno. Na Executiva, foram na mesma linha todos os votos, exceto dois. Então, se à época foi um erro, esse erro foi coletivo. Mas mesmo com uma candidatura só o debate sobre o país deveria ter acontecido durante a campanha. E esse debate não houve.
— O senhor já se mudou para São Paulo? Já estou em São Paulo.
— Mudou-se para um flat? Isso, estou em Moema.
— Sua estrutura de campanha já está montada em São Paulo? Já estamos com uma pequena estrutura na sede do PSB. Mas só a partir de junho, depois da convenção, teremos uma casa ou um conjunto de salas maior onde dê para montar um estúdio. Estamos vendo tudo isso.
— Podemos concluir que o senhor atribui a São Paulo uma importância estratégica. São Paulo sempre teve esse relevo. E vai continuar a ter. A diferença é que dessa vez não há nenhum candidato paulista disputando as eleições. Esse dado da realidade precisa ser considerado.
— Nesse contexto, o senhor já está convencido de que o melhor para o seu projeto é não fazer uma aliança com o governador tucano Geraldo Alckmin ou essa questão ainda está em aberto? Estamos discutindo a questão de São Paulo já há algum tempo. Essa será uma eleição em dois turnos em São Paulo, todos sabem. E eu acho que nós precisamos ter a nossa identidade em São Paulo, a nossa cara. Nossa campanha aqui precisa falar as mesmas coisas que vamos falar nacionalmente. Acho importante que a gente tenha essa identidade própria. Mas se a gente puder somar outros partidos, será melhor. Por isso temos que ter a paciência habitual para conversar, como estamos conversando. Há outros partidos que podem se somar, tanto na aliança nacional como na aliança aqui em São Paulo.
— Acha mesmo que irá atrair novos parceiros? Ao que se sabe, o último partido que havia disponível, o PV, optou por uma candidatura presidencial própria, não? Eu sempre tenho esperança. O PV tem identidade programática com o nosso conjunto. Eles estão na tese da candidatura própria, mas continuamos dialogando. Tem muito chão pela frente até a data das convenções.
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