terça-feira, 30 de setembro de 2014

O COLECIONADOR DE POLÊMICAS

O governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), já dirigiu moto sem capacete, colocou o filho no colo quando estava no volante de seu carro – sem cinto de segurança! -, caiu de um skate e atravessou a pista do aeroporto de Salvador correndo. Já nos primeiros meses de governo, em 2007, Cid foi criticado pelo uso de dinheiro público na compra de carros de luxo para a polícia. Outras excentricidades em licitações foram questionadas, como as torneiras “de ouro” do palácio, os buffets com iguarias finas e show de inauguração para hospital com cachê de mais de meio milhão.
O mais recente trata-se das investigações da Polícia Federal sobre seu envolvimento no esquema na Petrobras que abasteceu as campanhas de aliados do governo. Na ocasião, o nome do governador do Ceará apareceu entre os políticos citados pelo ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa.
O Tribuna do Ceará listou as 25 polêmicas envolvendo o governador de 2007 a 2014, confira a lista:
Setembro de 2014 – Cid Gomes X Istoé
Cid Gomes foi citado pela Revista Istoé sobre a delação premiada do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. A notícia foi bastante repercutida e o governador do Ceará pediu para a Justiça suspender a circulação da edição da revista. Ainda enviou ofício ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Polícia Federal e à Procuradoria da União pedindo que se pronunciem e neguem a vinculação de seu nome ao escândalo da Petrobrás, feita pela revista.
A suspensão da veiculação da revista acabou dando mais notoriedade ao caso e em resposta a Cid Gomes, a Istoé garantiu a capa deste fim de semana para dar uma descrição minuciosa sobre a relação entre Paulo Roberto Costa e o governador do Ceará, que teria se estreitado há seis anos, “a ponto de ultrapassar a fronteira do contato institucional”.
No Facebook, Cid afirmou ser injustiçado e definiu a denúncia como uma armação covarde encomendada para confundir a opinião pública com a finalidade de enfraquecê-lo na disputa eleitoral. O governador apoia Camilo Santana (PT) para a sucessão no cargo de governador.
Setembro de 2014 – Maconha liberada?
Durante adesivaço a favor de seu candidato ao governo, Camilo Santana (PT), o governador do Ceará interagiu com motoristas e pedestres, rendendo diálogos curiosos. Um deles veio de um rapaz que agitava bandeira do PT: “O senhor é a favor da legalização da maconha?”. Sorrindo, Cid respondeu: “Rapaz, eu não tenho nada contra não”.
Dezembro de 2013 – Quem dera ser um peixe…
Durante obras de adutora que levaria água a Itapipoca, os canos de PVC rompem em vários trechos, deixando a população sem água. Cid Gomes acompanha os trabalhos durante cinco dias, e chega a mergulhar num tanque para tentar ajudar a fechar a válvula.
Novembro de 2013 – Energia é preciso
Governo contrata nova usina termelétrica só para fornecer energia para Acquário Ceará, em construção. O investimento é de R$ 16 milhões.
Setembro de 2013 – Farra dos shows
Ministério Público de Contas detecta preços até oito vezes maiores em show contratados em 2011 pelo governo. Os gastos com artistas como Gilberto Gil, Vanessa da Mata, Nando Reis, Roberta Sá e Seu Jorge somaram R$ 10 milhões – e os preços estavam acima da média em 15 dos 45 contratados no “Férias do Ceará”.
Agosto de 2013 – Licitação pra quê?
Governo usa uma brecha legal para comprar quatro helicópteros para a segurança pública, sem licitação, no valor de R$ 78 milhões, por meio de programa da Secretaria de Ciência e Tecnologia. Em seu Facebook, Cid Gomes classifica a repercussão de “polêmica artificial”.
Agosto de 2013 – Show da Diva
Para ganhar mais seguidores em sua página, Cid Gomes anuncia o sorteio de 10 ingressos para show da cantora Beyoncé, no Castelão. O ingresso mais barato custava R$ 80 e o mais caro, R$ 600.
 Agosto de 2013 – Sem licença para dirigir?
Cid Gomes publica em sua conta no Facebook foto dirigindo na areia da praia, sem cinto de segurança e com o filho no colo. Diante da polêmica, ele retira a foto e publica uma nova, dessa vez, de acordo com o código de trânsito.
Agosto de 2013 – Buchada que nada!
Governo assina contrato de R$ 3,44 milhões para buffet em festas do gabinete e da residência oficial. No cardápio, estavam lagosta, escargot, caviar e outras iguarias. Após polêmica, ele promete retirar itens exóticos do cardápio.
Julho de 2013 – Viagem a trabalho ou descanso?
Logo após os protestos que tomaram conta do país, Cid Gomes embarcou em viagem oficial de 14 dias a Coreia do Sul, com escala na Europa para descanso. Cid acabou não indo à Coreia e a passagem pela Europa, de 11 dias, teve somente dois compromissos oficiais. Na volta, ele se justificou em seu Twitter: “Eu sou de carne e osso e fisicamente preciso, vez por outra, de um descanso”.
Março de 2013 – Vidros pelos ares
Pouso de helicóptero que transportava Cid Gomes quebra vidraças de loja durante pouso nos jardins do Palácio da Abolição. O Governo assume os custos do prejuízo.
Fevereiro de 2013 – Sai de baixo!
A marquise do hospital de Sobral desaba um mês depois da inauguração, deixando um operário ferido. O caso acende ainda mais as críticas ao valor gasto com o show de inauguração. O hospital foi investimento de R$ 227 milhões.
Janeiro de 2013 – Esclarecer o quê?
Inauguração de hospital em Sobral recebe show de Ivete Sangalo que custou R$ 650 mil. Após investigação ser arquivada no Tribunal de Contas do Ceará, o Ministério Público de Contas insistiu na questão, mas Cid Gomes fez pouco caso. “O que é o Ministério Público de Contas? É um garoto que deseja aparecer”.
Novembro de 2012 – Ô abre alas, eu quero passar!
Cid Gomes provoca a interdição da pista do aeroporto de Salvador, ao ferir as normas de segurança e descer de seu jato em direção ao avião onde estava a presidente Dilma Rousseff. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) abre processo, mas cinco meses depois decide por não punir o governador.
Outubro de 2012- Sem capacete
Governador pilota triciclo para reforçar a campanha do candidato à prefeitura de Fortaleza, Roberto Cláudio. Cid Gomes, porém, esqueceu-se de um detalhe: o capacete. A conduta do governador foi bastante criticada por desrespeitar a lei do Código de Trânsito Brasileiro que obriga o uso do capacete. Veja o vídeo: Governador Cid Gomes pilota triciclo sem capacete.
Agosto de 2012 – Cachê global
Governo gasta R$ 3,3 milhões em show de Plácido Domingo na inauguração do Centro de Eventos do Ceará, para uma plateia de 3 mil convidados. O Ministério Público de Contas pede esclarecimentos sobre o valor pago, sendo R$ 3 milhões só de cachê para o tenor espanhol.
Janeiro de 2012 – Corra que a polícia NÃO vem aí
Agora é o irmão Ciro Gomes quem resolve falar, provocando a ira de uma categoria – no caso, policiais e bombeiros. Durante greve geral de seis dias, uma onda de boatos de saques e arrastões fecha lojas e leva pânico à população. Ciro chama os manifestantes de “marginais fardados e covardes”. O período total de greve bateu mais de 30 dias.
Setembro de 2011 – Trabalho por amor?
Irritado com protesto de professores contra o baixo piso salarial (R$ 1.187), Cid Gomes resolve dar lição de moral nos profissionais: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado. Quem entra em atividade pública deve entrar por amor, não por dinheiro”. A declaração atribuída ao governador repercute negativamente, sobretudo entre professores, apesar de o Governo negar a frase.
Janeiro de 2011 – Relações questionáveis
Cid Gomes viaja de férias em jato de Alexandre Grendene, proprietário de empresa que recebe incentivos fiscais no Estado e doou R$ 1,2 milhão à campanha de reeleição do governador.
Setembro de 2010 – Denúncia nacional
Revistas Veja e Época denunciam que Cid Gomes teria desviado R$ 300 milhões de prefeituras cearenses de 2003 a 2009 para financiar sua candidatura ao governo e do irmão Ciro Gomes a deputado federal, em 2006. Na época, Ciro era ministro da Integração Nacional.
Novembro de 2009 – Torneiras de ouro
Projeto de reforma do Palácio da Abolição, em Fortaleza, incluía torneiras orçadas em R$ 41 mil, vidros espelhados na fachada, elevador panorâmico e heliponto. Atacada por críticos, a licitação teve redução de R$ 37 milhões para R$ 19 milhões. Veja o vídeo: Reforma milionária no Palácio da Abolição.
Julho de 2009 – Engoliu no seco
Na reinauguração da biblioteca da Uece, Cid Gomes enfrenta a ira de manifestantes cobrando melhor estrutura. Convidado por estudantes, ele vai almoçar no Restaurante Universitário. Suando por conta do calor, foi obrigado a comer a seco, pois o restaurante não oferece suco nem refrigerante. Veja o vídeo: Cid Gomes enfrenta protesto na UECE.
Abril de 2009 – Pancada na pleura
Na inauguração de uma pista de skate em Juazeiro do Norte, Cid Gomes se aventura a fazer algumas manobras e acaba levando um tombo.
Janeiro de 2008 – O voo da sogra
Durante o Carnaval, Cid Gomes embarca em jatinho com outras seis pessoas em viagem de negócios pela Europa, com duração de 10 dias. Entre os acompanhantes estavam, além da esposa, sua sogra – presença bastante explorada pelos críticos. O aluguel do jatinho custou R$ 388 mil. No total, os gastos foram de R$ 423 mil. Na volta, o governador pediu desculpas por ter levado a sogra.
Maio de 2007 – Polícia de luxo
No recém-lançado programa de policiamento Ronda do Quarteirão, a segurança pública do Ceará recebe 200 carros de luxo, num valor de R$ 156 mil cada. Único opositor de Cid Gomes na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Heitor Ferrer (PDT) insinua que a licitação tem indícios de direcionamento, já que as exigências só são atendidas pela empresa Toyota, que fabrica a Hilux.
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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

UM DIA, VAMOS RIR DISSO TUDO

Artigo de Fernando Gabeira
Um amigo me contou que muda de canal no horário político gratuito. E sempre para ver “Os Simpsons”. Argumentei que ele acabaria votando no Homer Simpson, e ele respondeu:
— Homer é produto de uma frenética fantasia: no entanto, parece mais real que esses candidatos.
O Brasil não é Springfield, a cidade da família Simpson, reconheço. No entanto, as coisas que acontecem aqui dariam um desenho animado.
Não me refiro só aos candidatos pitorescos, nem àqueles que apontam o dedo para a tela e dizem: “você me conhece”. A própria corrida presidencial, às vezes, me confunde. Há duas candidatas que vieram de uma tradição marxista, teoria que vê a Humanidade em permanente movimento, impulsionado pela luta de classes. Alguns afirmam até que a luta dos opostos é também o motor dos fenômenos naturais.
O irônico é que, banhadas, na juventude, por uma teoria que disciplina as leis do movimento, elas se acusem agora precisamente de terem mudado, não de serem as mesmas. Marina mudou de partido. O PT e Dilma mudaram de projeto ao chegarem ao governo.
O mais interessante ainda, expliquei ao observador de Springfield, é que o outro candidato, Aécio Neves, afirma que é o único que pode mudar, pois sempre foi o mesmo.
Que aventura, essa da palavra “mudança”. Num momento, aparece como um estigma, num outro como subproduto da estabilidade.
Na mesma campanha, os candidatos importantes cortejam as religiões, rezam, comungam, leem a Bíblia, usam quipá nas sinagogas. E criticam Marina porque é religiosa.
Um homem simples como Homer Simpson não entenderia isso. Nem como uma campanha que mobilizou até agora mais de R$ 1 bilhão consegue estigmatizar os banqueiros.
Os candidatos gostam do leite, mas não gostam da vaca. Os banqueiros, no imaginário da campanha, parecem velhas caricaturas: gordos, de casaca, segurando uns sacos brancos com cifrões desenhados em preto.
Talvez Homer Simpson aprovasse essa frase de Albert Camus:
— Se houvesse um partido para aqueles que não têm certeza de estarem certos, eu seria dele.
Vivemos uma época de incertezas, ironicamente agravada pelo grande fluxo de informações. Os dados brotam na tela dos computadores, mas o conhecimento e a sabedoria nem sempre acompanham essa torrente que circula na rede.
Algumas trilhas precisamos encontrar nesse labirinto de signos. O que dizer de gente do governo que se veste de laranja, uniforme da Petrobras, e faz protesto contra supostos inimigos da empresa? E isso na semana em que ficou mais claro o gigantesco esquema de assalto que o próprio bloco do governo montou na Petrobras.
Em Springfield, seria fácil representar isso em desenho animado. Homer Simpson faria melhor que Lula. Mesmo com as mãos sujas de óleo, ele sairia com a bandeira laranja, gritando “pega ladrão”.
E com os recursos do desenho animado, ainda poderia reproduzir aquela cena de “Tempos modernos”, em que Chaplin pega uma bandeira caída de um caminhão e, acidentalmente, é empurrado por uma multidão que grita palavras de ordem. Para a polícia, parece ser um líder comunista marchando à frente da massa.
Quando os assaltantes da Petrobras se vestem de laranja e gritam “o petróleo é nosso”, sabem que vivemos num mundo confuso, soterrado por versões que desprezam as evidências.
Às vezes, os grandes analistas também escorregam. Dizem agora que um presidente sem partido forte não governa bem. Isso não bate com minhas lembranças.
Entrevistei Itamar Franco antes de assumir. Estava inseguro, mas acabou formando uma coalizão que lhe permitiu trabalhar, deixando de fora apenas o PT.
Ele tinha suas manias retrô, queria reviver o Fusca, tomava uma sopinha à mesma hora, mas era um homem correto. Afastou um chefe da Casa Civil até que se apurassem as denúncias contra ele. Voltou atrás na indicação de um ministro, ao descobrir que o candidato se hospedava em hotéis pagos por empreiteiras.
Trabalha-se muito com o medo. Aborto, casamento gay e drogas são usados, de um modo geral, para espantar. É importante que se saiba a posição pessoal de um candidato. Mas alguém precisa lembrar que presidentes não resolvem essas questões. No Brasil, elas dependem do Congresso, que consulta a sociedade.
Sempre tive minhas reservas quando se afirma que o problema econômico determina todos os outros. Mas, neste momento conjuntural do Brasil, saber o que fazer com a economia e quem deve conduzi-la são fatores essenciais.
Meu amigo tem suas razões em emigrar para Springfield e conviver com os Simpsons durante o horário gratuito. Mas, se observar bem, poucos desenhos animados seriam interessantes como as eleições brasileiras.
Há personagens, truques e manobras patéticas. Faltam alguns diálogos inteligentes e irônicos como os de “Os Simpsons”.
Com a permanência da democracia em cartaz, talvez possamos chegar lá. Há sempre uma esperança no ar quando você diz: um dia ainda iremos rir disso tudo.
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sábado, 20 de setembro de 2014

O GOVERNADOR E O DELATOR

Da IstoÉ
Como era a relação entre o governador Cid Gomes e o delator e ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que se estreitou nos últimos seis anos a ponto de ultrapassar a fronteira do contato institucional
ISTOÉ revelou na semana passada que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa incluiu o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), na lista de políticos beneficiados pelo esquema de corrupção na estatal. Ao ser confrontado com a informação, Cid Gomes começou a se encalacrar nas próprias versões. Primeiro disse que não sabia quem era Paulo Roberto Costa. Depois, alegou nunca haver estado com ele na vida. Suas explicações iniciais, porém, foram desmontadas em pouquíssimas horas. No mesmo dia da publicação da reportagem de ISTOÉ, pipocaram nas redes sociais fotografias de encontros e eventos em que Paulo Roberto Costa e Cid Gomes aparecem lado a lado. Numa das imagens, o delator e o político cearense demonstram intimidade.
Sorriem um para o outro. Uma dessas fotos foi tirada no dia 10 de junho de 2008 no Palácio de Iracema, antiga sede do governo do Ceará. Na imagem, Cid está sentado à cabeceira de uma ampla mesa de reuniões, tendo Costa imediatamente a seu lado. No encontro, os dois trataram do ambicioso projeto da refinaria Premium II, anunciada com pompa pelo governo do Ceará como a futura maior refinaria de petróleo do mundo com produção de 300 mil barris por dia e investimentos estimados em R$ 11 bilhões. Foi apenas o primeiro de muitos encontros entre Cid e Costa.
Os dois estiveram juntos participando de reuniões para tratar de negócios privados, mesmo depois de Costa ter deixado a Petrobras em abril de 2012. Em maio de 2013, ambos trataram de um projeto pessoal do delator e ex-diretor de Abastecimento da estatal: a instalação no Estado de uma minirrefinaria de petróleo. Em 17 de janeiro deste ano, Costa esteve em mais um encontro com Cid. Na reunião, o governador do Ceará lhe prometeu uma área de dez hectares no Complexo Industrial e Portuário de Pecém. À imprensa local, na ocasião, o ex-diretor da Petrobras disse que estava otimista e previa construir a minirrefinaria em até 18 meses. Dois meses depois, ele foi preso. Esses fatos derrubam categoricamente a segunda versão apresentada por Cid Gomes. Ao não conseguir desmentir as fotos em que aparece ao lado de Costa, o governador refez sua declaração inicial. Em nota oficial, negou qualquer envolvimento ou tratativas pessoais com o delator. “Todo o meu relacionamento com a Petrobras sempre foi institucional”, disse. Como se vê, a nova versão de Cid também não se sustenta.
O projeto de minirrefinarias de Costa era antigo, mas enquanto ele ocupou a direção de Abastecimento e Refino da Petrobras nunca conseguiu executá-lo. Em 2005, Costa e o então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, tentaram emplacá-lo sem sucesso no Rio Grande do Norte, na ocasião governado por Wilma de Faria (PSB). A ideia era usar a minirrefinaria como uma forma de compensar a construção da refinaria de grande porte em Abreu e Lima, Pernambuco. Naquele momento, o hoje falecido Eduardo Campos gozava de prestígio no Palácio do Planalto. Ao conseguir para seu Estado o investimento bilionário da estatal, Campos buscou alternativas para contemplar os aliados do partido, que se sentiram desprestigiados. Além da governadora Wilma de Faria, era preciso agradar também aos caciques Cid e Ciro Gomes, hoje no PROS, mas que, à época, estavam filiados ao PSB de Eduardo Campos. Para o Ceará, o governo articulou a construção de uma siderúrgica com investimento da Vale e das coreanas Dongkuk e Posco, e Paulo Roberto Costa acenou com a criação da minirrefinaria. Mas os Gomes, naquela ocasião, não acharam suficiente. Queriam algo mais grandioso. Ambicionavam um projeto como a pernambucana Abreu e Lima.
Quando assumiu o governo em 2007, Cid conseguiu o aval de Gabrielli para a realização de seu desejo. O encontro de 10 de junho de 2008 no Palácio de Iracema, registrado pela imagem que ilustra a abertura desta reportagem, selou as tratativas para a construção da refinaria Premium II e também marcou o início de uma longa relação entre Cid Gomes e Paulo Roberto Costa. Depois do encontro com o governador, Costa atravessou a noite em Fortaleza na companhia de técnicos da Petrobras. No dia seguinte, visitaram Pecém e a área que seria disponibilizada para a construção da refinaria. Após sobrevoar o local, o executivo decretou: “O terreno está numa área industrial bem localizada e próximo a um porto com logística capaz de atender nossas necessidades”. Acompanhou a comitiva o então presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Antônio Balhmann, hoje deputado federal pelo PROS e homem de confiança de Cid, e o presidente do Conselho de Desenvolvimento do Ceará (Cede), Ivan Bezerra.
Dois meses depois, em 20 de agosto, Paulo Roberto Costa voltou ao Ceará para a inauguração do Terminal de Regaseificação do Pecém. Além do próprio Cid, estavam presentes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, e Gabrielli. No palanque, Costa sentou-se exatamente atrás do governador do Ceará, como é possível ver em várias fotos oficiais. A construção da Premium II foi confirmada com a assinatura de protocolo de entendimentos e o lançamento da pedra fundamental anunciado para dezembro de 2009, o que só acabou ocorrendo no final de 2010. Em 29 de dezembro, no último ato de governo, Lula participou da cerimônia oficial, assim como Gabrielli, Costa e o presidente da Transpetro, o cearense Sérgio Machado. Àquela altura, porém, ainda não havia terreno, licença ambiental ou estudos de impacto, nem mesmo um projeto técnico concluído ou contrato firmado. Naquele ato, Costa destacou que a produção da refinaria seria destinada ao mercado interno. Ele sentou-se na primeira fileira de autoridades, ao lado de Machado, Lula, Cid, Gabrielli e do senador Inácio Arruda (PCdoB).
Em 24 de abril de 2012, Paulo Roberto Costa, já demissionário, foi a Fortaleza participar como palestrante do Ciclo de Debates do Centro Industrial do Ceará. Disse que a Petrobras estava pronta para iniciar as obras e aguardava apenas a entrega do terreno de dois mil hectares no Pecém. A doação da área foi um dos grandes entraves para a refinaria, uma vez que a posse do local era questionada por índios da tribo Anacé. No dia seguinte, foi à Universidade de Fortaleza, onde palestrou para alunos de engenharia sobre os projetos de refino da estatal. Foi quando revelou que a Petrobras buscava sócios para erguer a Premium II. Costa, então, apresentou o problema a Cid, que se empenhou pessoalmente na busca de um investidor. Iniciou conversas com a coreana GS Energy, mas a parceria não prosperou.
Temendo que a Premium II se transformasse num pesadelo eleitoral, Cid pressionou pelo andamento dos projetos. Costa falava que a refinaria havia sido concebida a partir de detalhados estudos técnicos e econômicos, além de ambientais e sociais da estatal, mas logo seria desmentido. Em auditoria, o Tribunal de Contas da União (TCU) se deparou com uma série de irregularidades graves em relação aos estudos de viabilidade técnica, geotécnicos e topográficos. Sobre a ausência de viabilidade técnica, a Petrobras alegou, por exemplo, que estava reformulando o projeto, cujo orçamento saltou de iniciais R$ 11 bilhões para R$ 20 bilhões. O contrato para o estudo inicial era estimado em R$ 2,5 milhões. O TCU chegou a pedir documentos para uma auditoria, mas nada havia sido feito ainda porque faltava a doação do terreno para a Petrobras.
Uma vez fora da estatal, o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, abriu a empresa “REF Brasil (Refinaria de Petróleo do Brasil), sediada num novíssimo conjunto de edifícios empresariais da Barra da Tijuca, no Rio. A REF Brasil funcionaria como guarda-chuva de quatro minirrefinarias – o velho projeto que ele acalentava desde 2005, mas que, quando estava na direção da Petrobras, não conseguiu viabilizar. No dia 13 de setembro de 2013, depois de tratativas informais com Cid Gomes desde maio daquele ano, Paulo Roberto Costa criou a empresa Refinaria Cearense num edifício empresarial de Fortaleza, em parceria com Francisco José Machado Sant’Anna, do grupo Energio Nordeste. No dia 17 de janeiro de 2014, Paulo Roberto Costa encontra-se novamente com Cid na capital cearense. Após o encontro, anunciou publicamente a construção de uma mini refinaria no Ceará, através de sua empresa REF Brasil. Com produção de 5 mil barris por dia e investimento de R$ 120 milhões, a refinaria deveria ficar pronta em 18 meses. O maquinário seria importado da China. Costa foi preso dois meses depois. Em junho, a empresa foi formalmente dissolvida. Os rastros da relação entre o delator e o governador Cid Gomes, no entanto, não têm como serem apagados.
As trapalhadas de Cid Gomes
Eleito em 2006 com mais de 62% dos votos válidos, Cid Gomes tem uma gestão marcada por denúncias de favorecimento a parentes e gastos milionários injustificáveis. Logo que foi eleito, Cid protagonizou seu primeiro grande escândalo ao patrocinar um tour pela Europa de jatinho oficial com assessores e respectivas mulheres. Estiveram na comitiva europeia a primeira-dama do estado, além da própria sogra de Cid, Pauline Carol Habib Moura. Detalhe, a viagem custou mais de meio milhão de reais. Tudo pago pelos cofres públicos.
As polêmicas não pararam por aí. No ano passado, Cid pagou um cachê de R$ 650 mil para Ivete Sangalo cantar na inauguração do hospital em Sobral, berço político dos irmãos Gomes. O evento gerou repercussão nacional, ainda mais depois que parte da marquise desabou um mês depois da inauguração da unidade hospitalar. Em 2013, Cid Gomes voltou a ser alvo de críticas da oposição devido à contratação pelo governo de um buffet orçado em R$ 3,4 milhões. Destinado a abastecer a cozinha do Palácio da Abolição, sede do governo do Ceará, o buffet previa até 495 pratos diferentes, uma variação de receitas preparadas com caviar, escargots, bacalhau, salmão, presunto de Parma, funghi, vieiras, frutos do mar, pães exóticos, croissants e até trufas. “Enquanto o sertão sofre com a seca, o palácio do governo se banqueteia”, disse à época o deputado estadual Heitor Ferrer. 
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A "GUERRA DOS POSTES" DE LULA

Da Época
No PT em crise com a ascensão de Marina, Haddad culpa Dilma, Padilha culpa Haddad e Dilma culpa Padilha e Haddad. É possível que todos acabem no chão
Na semana passada, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), externou para mais de um interlocutor uma dúvida que não lhe sai da cabeça: se Marina Silva vencer a eleição presidencial, como será o tratamento dela para com a prefeitura da capital paulista? A pergunta, formulada por um dos quadros mais importantes do PT no Brasil, revela o estado de apreensão e angústias que tomou conta do partido em relação ao futuro. Pela primeira vez em 12 anos, o projeto petista de poder está eleitoralmente ameaçado por um fenômeno chamado Marina Silva (PSB), a ex-petista que lidera as pesquisas de intenção de voto empatada com a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição – e aparece à frente de Dilma em todas as simulações de segundo turno.
O desempenho de Marina mudou o roteiro de um filme de final previsível – a permanência do PT no poder. A possibilidade de perder a caneta no plano federal fez com que aflorassem ódios há muito reprimidos. Por causa disso, em vez da superprodução com cara de reprise, entra em cena uma série de TV cheia de emoções fortes. Seu título, parafraseando A Guerra dos Tronos, poderia ser “A Guerra dos Postes”.
Em São Paulo, onde Dilma vai mal  nas pesquisas, o candidato do PT ao governo do Estado, Alexandre Padilha, acusa reservadamente Haddad de boicotá-lo de olho em eleições futuras. Haddad culpa Dilma nos bastidores pela péssima avaliação de sua gestão e já ensaia uma aproximação com o grupo de Marina. O time de Dilma, preocupado com a reeleição, culpa Padilha, que tem apenas 7% das intenções de voto, e também Haddad pelo fraco desempenho dela em solo paulista. Dilma que acusa Padilha que acusa Haddad que acusa Dilma: eis o argumento de “A Guerra dos Postes”.
Em comum entre os postes que brigam, apenas uma certeza: o fenômeno Marina avança com uma motosserra na mão para cima deles. No roteiro prévio escrito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma, Haddad e Padilha – os “postes” sem experiência política ungidos por ele para vencer eleições importantes – representariam a permanência do PT no poder. Tudo caminhava conforme o previsto até junho de 2013, quando multidões tomaram as ruas em protestos contra os políticos – entre eles, Dilma e Haddad. A avaliação positiva dos governos de ambos despencou. O desgaste encontrou em Marina Silva uma porta-voz do que ela própria chama de “nova política”.
Haddad tem como principais conselheiros os secretários Marcos de Barros Cruz (Finanças), Leonardo Osvaldo Barchini Rosa (Relações Internacionais), Luis Fernando Massonetto (Negócios Jurídicos), Nunzio Briguglio (Comunicação) e o chefe de gabinete Paulo Dallari.
Todos têm perfil parecido com Haddad. São mais afeitos aos gabinetes que às ruas, fascinados pelo mundo acadêmico e com pouca inserção partidária. São responsáveis pelo projeto de futuro de Haddad: a tentativa de recuperação nas pesquisas, a reeleição em 2016 e uma possível candidatura ao governo de São Paulo em 2018. Os que se opõem a Haddad dizem que ele só pensa nesse projeto, fica trancado em seu gabinete, não entra na luta política e faz corpo mole para ajudar Padilha.
Assim como Haddad, Padilha também foi ungido candidato pelas mãos de Lula. Ex-ministro da Saúde, médico, Padilha era a grande aposta dos petistas para destronar o PSDB do Palácio dos Bandeirantes, onde os tucanos reinam desde 1995. Para emplacar Padilha, Lula esmagou as esperanças da ex-prefeita Marta Suplicy (ministra da Cultura) e de Aloizio Mercadante (Casa Civil), os preferidos de Dilma para ajudá-la em São Paulo. Para Dilma, os dois seriam mais eficazes na hora de pedir votos, pois são conhecidos. Lula bancou Padilha, garantiu que ele sairia vitorioso e acenou-lhe com a liderança do PT no Estado. Isso bastou para que Haddad se sentisse ameaçado.
Numa reunião recente, um integrante da direção nacional do PT cobrou Haddad. Queria que ele conversasse com fornecedores da prefeitura, em busca de doações para a campanha de Padilha. Entre os candidatos ao governo, Padilha é o que mais gastou dinheiro até agora – mas, como patina nas pesquisas, as contribuições estão abaixo do esperado. Haddad ficou de ajudar, mas até agora pouco se mexeu. No entorno dele, sobram críticas a Padilha e a sua campanha, considerada errática, inconsistente e superficial.
De sua parte, Padilha avalia que seu mau desempenho eleitoral se deve exclusivamente à péssima avaliação da gestão Haddad, rejeitada por 47% dos paulistanos. O grupo de Padilha critica o projeto das ciclovias, lançado pela prefeitura em pleno período eleitoral. “Queríamos um programa mais amplo e de maior inserção na população, não uma ciclovia que atrapalha o eleitor”, diz um dos aliados de Padilha.
Se Padilha tem mágoas de Haddad, Haddad é um pote cheio até a tampa com a presidente Dilma. Acha que sua avaliação ruim é, em larga medida, culpa de Dilma – que o pressionou a manter o congelamento da passagem do transporte coletivo e não socorreu as finanças paulistanas como ele esperava. Nos últimos dias, Haddad disse a interlocutores que seus projetos podem aproximá-lo de Marina, de quem ele foi colega de Esplanada. A amizade de ambos com a educadora Maria Alice Setubal, a Neca, uma das coordenadoras do programa de governo de Marina, também é um fator de aproximação. Assim que venceu a eleição, Haddad consultou Neca em busca de um secretário de Educação.
Haddad se identifica com a pregação renovadora de Marina. Acha que, uma vez eleita, ela reconhecerá que a gestão Haddad em São Paulo tem vários projetos de cunho “marineiro” – como as ciclovias e o Polo Ecológico de Parelheiros. Quem acompanhou o debate entre os presidenciáveis na semana passada disse ser possível perceber a tensão de Haddad durante as falas de Marina. “Só não dava para saber se ele estava com medo ou com orgulho”, afirmou a ÉPOCA um integrante da cúpula do PT. Os assessores de Haddad dizem que a estratégia inicial de Padilha era esconder a gestão municipal. Ainda assim, ambos terão agendas conjuntas na reta final do primeiro turno. Quanto a sua relação com Dilma, eles negam que ambos estejam afastados e afirmam que Haddad é vítima de “fogo amigo”.
O resultado da guerra dos postes é que Dilma, segundo o Ibope, está muito atrás de Marina em São Paulo. Marina tem 39% das intenções de voto entre os paulistas, contra 23% de Dilma e 19% de Aécio Neves (PSDB). Um petista avalia que Dilma, Haddad e Padilha têm mais pontos em comum do que divergências e deveriam se unir para tentar mudar o momento negativo no Estado. “Eles têm um viés iluminista e tecnocrático, quase autoritário”, diz.
As dificuldades do PT nestas eleições – dos cinco maiores colégios eleitorais estaduais, o partido só está bem em Minas Gerais – levaram a campanha da presidente Dilma a radicalizar o discurso. O PT não hesitou em usar o vasto tempo de sua candidata no horário eleitoral de rádio e televisão para atacar Marina. Esse tipo de estratégia serviu para frear a onda Marina, que não chegou a ultrapassar Dilma. Nos próximos dias, uma nova rodada de sondagens eleitorais deverá aferir com mais precisão os resultados dessa guinada do PT. Marina tem afirmado nos bastidores que não descambará para os ataques. Diz que procurará convencer o eleitor de que tem condições de montar um governo e uma base de apoio sem fazer aliança com o que chama reservadamente de “partidos e políticos podres”.
Nas duas campanhas, de Dilma e Marina, cresce a cada dia a convicção de que Lula terá uma participação discreta: gravará programas, participará de eventos e carreatas, dará as declarações de praxe e só. Ele está desgostoso com os rumos da campanha de Dilma e seduzido pela proposta de Marina de, uma vez eleita, não concorrer a um novo mandato. Lula criou os postes – mas, se houver um desabamento coletivo, não quer cair abraçado a eles.
Da revista Época – ilustração de Lézio Júnior
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INVEJA

Via Blog do Alpino
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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A APOSTA DE JOAQUIM

Da coluna Radar On-line
É pouquíssimo provável Joaquim Barbosa declarar seu candidato a presidente preferido – pelo menos no primeiro turno (Leia mais aqui). Mas, como todo mundo, ele tem seus palpites.
A gente próxima Barbosa vem dizendo acreditar que Marina Silva vencerá a eleição e que a saída do PT, permitindo a alternância no poder, faria bem à democracia brasileira.
A propósito, os postulantes ao Palácio do Planalto sequer devem sonhar com o voto do ex-presidente do STF: Barbosa provavelmente estará em viagem ao exterior no dia 5 de outubro.
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A BOLADA DE DILMA

Da Época
Às 19h02 do dia 23 de julho, quando a campanha eleitoral finalmente chegava às ruas e à internet, o publicitário Jeferson Monteiro enviou um e-mail a dois assessores de Franklin Martins, um dos principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff. Monteiro é o criador do personagem Dilma Bolada, um fenômeno digital. Dilma Bolada tem 270 mil seguidores no Twitter e 1,5 milhão de fãs no Facebook – mais que o perfil oficial da presidente Dilma (1,1 milhão de fãs). Monteiro sempre negou – nega até hoje – qualquer relação com o PT e a campanha de Dilma. Na noite anterior, retirara subitamente do ar o personagem Dilma Bolada. Ao público, não dera explicações. Apenas confirmara a decisão de matar a personagem, “sem drama e mimimi”. No e-mail à campanha, deu seu recado ao PT. “Apesar de estarmos do mesmo lado, vejo que, muitas vezes, temos pensamentos divergentes”, escreveu aos jornalistas Laércio Portela e Brunna Rosa, os dois assessores da campanha. “Da forma como tudo anda, vejo uma concentração de esforços muito grande para um resultado efetivamente muito pequeno. Lamento que não tenhamos atingido um consenso, mas desejo sucesso a vocês, e espero que a aposta de vocês com as estratégias hoje usadas e a linha de ideias deem certo.” Não mandou um “beijo n’alma”, como faria Dilma Bolada. Encerrou o e-mail com um seco “Abraços”. Era um e-mail de negócios.
Segundo documentos internos da campanha e entrevistas reservadas com três integrantes do comitê à reeleição de Dilma, todos com conhecimento das tratativas entre Monteiro e o PT, o “consenso” a que ele se referia era, sobretudo, financeiro. Desde o começo do ano, Monteiro recebera do PT a promessa de que ganharia um valor mensal, na casa de dois dígitos, para manter no ar Dilma Bolada. Monteiro também queria manter total controle sobre a personagem – ninguém deveria proibi-lo de escrever as tiradas que quisesse. Franklin, responsável pela estratégia digital da campanha petista, não aquiescia. Detestava Monteiro. Nesse assunto, como em outros, atropelava politicamente quem discordasse dele. No partido, muitos não aprovam a estratégia que ele defende: bater pesado nos outros candidatos – sem ligar para a consequência provável disso, o aumento da rejeição.
Uma eleição disputadíssima não admite erros ou deslizes. E, naquela noite de 23 de julho, um senhor erro acontecera na campanha do PT. Correram para convencer Monteiro a ressuscitar Dilma Bolada. Segundo ele relatou a interlocutores, não aguentava mais ser ignorado. Não era recebido por Franklin. Tinha de tratar com Laércio Portela, o assessor de Franklin que recebeu o e-mail. Nem Laércio respondia a seus pedidos. Fora o mesmo Laércio que, meses antes, prometera a ele um ordenado mensal. Apesar dos apelos de alguns dos integrantes da campanha, Monteiro ignorou o conselho para que jogasse limpo com os internautas e admitisse que tinha relações com o comitê de Dilma. Dizia que isso reduziria a “credibilidade” da personagem. Para dificultar ainda mais, Monteiro não queria receber por fora – por caixa dois.
O impasse durou seis dias. O jornal Folha de S.Paulo chegou a noticiar que dinheiro fora a causa da morte de Dilma Bolada. Em seu perfil pessoal, Monteiro afirmou: “Depois da tal notícia, fiquei esperando o fabuloso convite para ser consultor, mas, como eu previa, não chegou. Reafirmo que a Dilma Bolada é inegociável, mas eu não jamais (sic) hesitaria em trabalhar, sobretudo para quem eu gosto. E, já que o boato e a notícia cuidadosamente plantada tornou-se (sic) um fato e foi tomada como verdade por muitos, até mesmo por pessoas próximas a mim, se acontecesse seria ótimo até porque todos já estariam avisados mesmo, né?”. Monteiro foi convencido a botar Dilma Bolada no ar novamente. Agora, contudo, queria meio milhão de reais, apenas para o primeiro turno, e um contrato. O PT topou. Monteiro finalmente resolveu abrir uma empresa para que o contrato possa ser fechado, e o dinheiro transferido. Procurada, a campanha de Dilma disse apenas que “não mantém relação comercial com Jeferson Monteiro”.
Monteiro, carioca de 24 anos que vive em Mesquita, na Baixada Fluminense, mal completara 20 anos quando inaugurou o empreendimento que transformou seu futuro. Não gastou um tostão. Sua marca, Dilma Bolada, fundada nas redes sociais em abril de 2010, ano de eleição presidencial, é um sucesso. Incorporando a “rainha da nação”, Monteiro dá voz a uma Dilma descontraída e gozadora, o oposto da imagem pública da presidente. Hoje, só com o nome de sua musa, Monteiro tem uma conta no Facebook, com quase 1,5 milhão de seguidores; uma no Twitter, com 270 mil; e uma no Instagram, com 93 mil. Com a fama, largou a faculdade de administração e ingressou no curso de publicidade. Foi até convidado ao Palácio do Planalto em setembro de 2013 para anunciar, ao lado da Dilma real, sua volta às redes sociais: “Foi uma honra imensurável ter vivido esse dia que se torna um marco na minha vida pessoal e profissional como comunicador. Nossa Dilminha é incrível, maravilhosa, espetacular”.
À medida que a eleição se aproxima, Dilma Bolada tem sido mais agressiva com os adversários (leia ao fim desta página). No dia 12 de setembro, tuitou para Marina Silva: “Iludida é você, fia. Achando que vai ser presidente se fazendo de vítima e coitada o tempo todo. Se manca!”. Em agosto, poucos dias depois de reativar sua conta, Dilma Bolada disse que o pai do menino de 11 anos cujo braço foi comido por um tigre num zoológico do Paraná deveria ter levado Aécio Neves no passeio. No dia seguinte, criticada pela violência do comentário, disse: “As forças das trevas reclamando porque eu disse que o tigre tinha que comer o Satanécio. Não vai pq o tigre não merece. Podem latir!!! (sic)”.
No Facebook, em que tem mais de 15 mil seguidores, Monteiro publica fotos com o ex-presidente Lula, com a própria presidente Dilma e reportagens contrárias a Marina e Aécio. As fotos mais recentes, da semana passada, mostram Monteiro num evento da campanha de Dilma em Belo Horizonte, um encontro com jovens. Em seus cumprimentos aos jovens na Pampulha, Dilma registrou a presença de Monteiro: “Ele inventou a selfie”, disse ela. Ela própria passou a usar em seu Facebook uma expressão cunhada por Monteiro, “rousselfie”. É também em sua página pessoal que Monteiro dá explicações “institucionais” sobre Dilma Bolada. Num longo texto, em maio, disse que foi assediado por um colaborador da campanha tucana. Segundo Monteiro, a conversa foi levada adiante apenas para ver até onde os adversários iriam. O tal colaborador, Pedro Guadalupe, nega. Diz que Monteiro já até acertara um valor – R$ 500 mil. O título do texto é “Dilma Bolada: Não está a Venda”.
ÉPOCA perguntou a Monteiro sobre o e-mail enviado a Laércio e Brunna. Ele se contradisse. “Nesse dia, não mandei e-mail algum. O e-mail que mandei foi um que relacionava que eu achava que as coisas como estavam acontecendo e a estratégia que estava sendo tomada era uma estratégia... Na verdade, apesar de não ter nenhuma relação, eu conheço várias pessoas”, disse Monteiro. Questionado sobre o contrato prestes a ser fechado com a campanha petista e sobre os valores combinados, Monteiro afirmou: “O que posso garantir é que nunca existiu nenhum tipo de contrato. Se tiver, ainda vai ser feito. Ninguém nunca pautou a Dilma Bolada”.
Dilma Bolada não é a única arma do PT nas redes sociais. A mais rica e poderosa delas é o site Muda Mais, especializado em atacar os adversários de Dilma. Ele chegou a sair do ar na terça-feira passada por decisão do TSE e, depois, voltou. A equipe do site trabalha em Brasília, num local mantido sob estrito sigilo. A busca pelo bunker começou em janeiro. Marqueteiros de Dilma queriam um lugar discreto, longe das luzes do comitê oficial. Após muito procurar, identificaram o local ideal: uma casa verde no final de uma rua pacata do Lago Norte (QI2, conjunto 9), bairro nobre de Brasília. Um homem que se identificara como Alex Mesquita, acompanhado por duas pessoas, escrutinou a propriedade. A partir dali, iniciou as tratativas com uma imobiliária que funciona num antigo prédio da capital federal para fechar o negócio. Alex gostou do preço: R$ 4 mil por mês, uma pechincha para os padrões de Brasília. Para os proprietários, ele disse que ali funcionaria uma empresa destinada a cobrir a Copa do Mundo.
Como fiador do aluguel, Mesquita apresentara Franklin, ex-ministro do governo Lula e influente conselheiro de Dilma. Os três donos da casa – herdeiros após a morte dos pais – aprovaram a papelada da locatária. “Quando soube que era o Franklin Martins o fiador, até relaxei. Ele é famoso”, afirmou um deles. Àquela altura, só faltava mesmo o pagamento para selar o contrato. No dia 25 de fevereiro, foram feitos três  grupos de depósitos em duas contas bancárias ligadas à imobiliária: o primeiro grupo de depósito somava R$ 17 mil; o segundo, R$ 16 mil; e o terceiro, R$ 7 mil. De acordo com os comprovantes, os R$ 40 mil – relativos ao adiantamento por dez meses de aluguel – foram depositados em dinheiro vivo, em agências do Banco do Brasil, sem identificação do depositante.
Em março, com direito a móveis, computadores e jornalistas, nasceu o Muda Mais, um site parapartidário do PT. Apresentava-se como fruto de uma iniciativa espontânea da militância petista. Na verdade, era pensado, estruturado e financiado pela cúpula da campanha de Dilma. O site e seus filhotes virtuais, como contas no Twitter e no Facebook, foram idealizados em outubro do ano passado, numa reunião no Palácio do Planalto entre Franklin, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma e o marqueteiro João Santana. Franklin ressaltava a importância de montar um time específico para atuar nas redes sociais e enfrentar os adversários. Teria de ser um time diferente daquele que cuidava dos sites tradicionais de Dilma e do PT. Era preciso ter liberdade para enfrentar os adversários. Os ataques se tornaram a marca do Muda Mais (leia no quadro ao fim desta página).
Descontente com os golpes do site, Marina acionou a Justiça para tirar o Muda Mais do ar. Conseguiu. Na terça-feira da semana passada, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral Herman Benjamin mandou tirar o site do ar. Segundo o ministro, o site deveria parar de funcionar porque não estava registrado na Justiça e estava associado a uma empresa (empresas não podem veicular propaganda eleitoral). Dois dias depois, Benjamin reconsiderou sua decisão. Disse que o site poderia voltar ao ar e que os problemas apontados na decisão anterior seriam facilmente sanados. Foi o que bastou para a turma de Franklin voltar ao ritmo.
ÉPOCA acompanhou a rotina da casa por três dias. O movimento começa por volta das 9 horas. Entre 12h30 e 13 horas, a equipe de Franklin sai para o almoço. Retorna entre 14 horas e 14h30. Antes das 18 horas, boa parte das pessoas vai embora. Tão logo escurece, os refletores são ligados. Na terça-feira, ÉPOCA localizou um dos donos da casa. Ao ser informado que ela era usada para a campanha da presidente Dilma, o proprietário tomou um susto. “Meu Deus. Não tinha a menor noção do que eles faziam lá dentro. Achei que tinha alguém morando lá”, disse. “Não pode funcionar um negócio ali. É uma área residencial.” Em Brasília, em razão do projeto urbanístico, existe uma separação entre os setores residenciais e de comércio ou serviços. Não pode haver residência no setor comercial, nem comércio no setor residencial. Quem descumpre a regra fica sujeito a uma multa e até a apreensão do material usado no negócio.
Um carro de Alex Mesquita, uma caminhonete Ford F-250, foi flagrado entrando na casa na terça-feira à tarde. A empresa de Mesquita, a Beta Brasília, atua na área audiovisual e funciona no mesmo endereço de uma das empresas de Franklin, a FM2. Procurado por ÉPOCA, ele disse que quem usa a caminhonete é sua mulher, Tatiane Mesquita. “Ela é produtora. Trabalha num site.” Questionado se era o Muda Mais, ele confirmou. Mesquita afirmou não ter negócios com Franklin. Mas já prestou serviços para uma empresa de Mônica Monteiro, mulher de Franklin. ÉPOCA tentou falar novamente com Mesquita para que detalhasse sua participação no aluguel da mansão. Ele não foi mais localizado.
ÉPOCA encaminhou uma série de perguntas à campanha da presidente Dilma sobre o Muda Mais. Questionou quem banca as despesas do site e quanto é gasto, quantas pessoas trabalham no site, por que o aluguel da casa foi pago em dinheiro vivo e por que não aparece o nome das empresas de Franklin na prestação de contas da campanha. A campanha não forneceu respostas diretas às perguntas. Por meio de nota, afirmou que o Muda Mais é um site de apoio à candidatura à reeleição de Dilma e que, entre suas prioridades, estão divulgar “avanços sociais e econômicos dos governos Lula e Dilma e a disseminação de propostas”. Afirma, também, que atua para “desconstruir boatos e mentiras que circulam nas redes contra a candidata e seu partido”. Ainda segundo a nota, o Muda Mais conta com colaboradores espalhados em vários Estados do Brasil. A nota afirma que não é possível informar quantidades por ser uma questão estratégica. Diz que Franklin é, dentro da campanha, supervisor das ações nas mídias sociais.
Embora Dilma divida a liderança nas intenções de voto com Marina Silva, a campanha do PT tem tomado uma sova digital do PSB. A sova está demonstrada em relatórios internos do próprio PT a que ÉPOCA teve acesso. Dilma perde para Marina em todas as redes sociais nas principais métricas. Uma medida conhecida como “alcance” das ações de cada candidata, correspondente ao número de internautas que clicaram num link ou leram um post, é uma das principais métricas. Nela, Dilma perde desde que Marina virou candidata. Na semana passada, o alcance de Dilma chegou a quase 4 milhões de internautas; o de Marina, a 5 milhões. Na primeira semana deste mês, Marina obteve um alcance de quase 8 milhões – Dilma permaneceu com os quase 4 milhões. Os números de empresas de monitoramento corroboram os números internos (leia nos quadros acima). “Marina, como Lula, tem um carisma imenso. É difícil competir com isso”, diz um dos estrategistas de Dilma. “Com tanto dinheiro investido, nosso resultado é muito fraco.”
O investimento do comitê de Dilma nas ações de internet gira em torno de R$ 25 milhões, de acordo com quem conhece de perto os números. Metade desse dinheiro vai para Franklin. Embora não tenha verbas comparáveis às do PT, a coligação de Marina Silva tem uma equipe de respeito: 41 funcionários dedicados às redes sociais, auxiliados por uma equipe de 15 mil voluntários. Eles têm, entre outros objetivos, a missão de rebater acusações de sites como o Muda Mais (leia acima). Aécio aposta na exploração virtual do apoio de cantores, artistas e esportistas à sua candidatura e em joguinhos para atrair o público jovem. As estratégias de Marina e Aécio – engajar voluntários e tentar conquistar novos eleitores – são mais tradicionais que as da campanha de Dilma. Franklin acha que o negócio é bater pesado. Contra a oposição de parte do PT, ele aposta que pode ganhar a eleição assim.
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DESESPERO NO PLANALTO

Da IstoÉ
Um exército de militantes com cargos públicos se organiza para elevar o tom da Propaganda eleitoral de Dilma e evitar um revés na urnas. Até o ex-presidente Lula entra na briga com um discurso mais radicalizado
A eventual reeleição de Dilma Rousseff para a Presidência marcaria um recorde na história da República: nunca um partido político terá ficado por tanto tempo no poder. Nem mesmo os 21 anos da ditadura militar, com suas divisões internas e troca de grupos de comando, podem ser vistos com um período de direção partidária única, como seriam os 16 anos da era petista. O estilo da ação e a longevidade do PT no Palácio do Planalto claramente já deixaram marcas na máquina administrativa e política do governo. Ao longo de 12 anos, o número de cargos de confiança, por exemplo, saltou de 17 mil para 22 mil. Este universo de servidores, frequentemente nomeados por critérios políticos, criou uma estrutura de petistas aguerridos e abnegados, cujos salários e encargos fiscais consomem mais de R$ 200 bilhões por ano. Isso não é coisa para se desleixar. O risco de não ganhar as eleições já deixa esses servidores-militantes em desespero. A perda de poder em Brasília – ou, vá lá, da chance de praticarem seus ideais – assusta tanto quanto a perda dos cargos comissionados e a perspectiva de terem de a retornar a seus estados de origem para buscarem novos empregos. Hoje, os DAS (cargos de Direção e Assessoramento Superior) podem passar de R$ 20 mil mensais.
Este clima de tensão entre os servidores-militantes contaminou a campanha eleitoral e pode explicar boa parte do tom da propaganda petista, que passou a adotar o jogo bruto, com ataques exagerados aos adversários e alguma falta de discernimento entre o público e o privado. No início do mês, uma reunião na sede do partido, em São Paulo, se transformou em uma acalorada discussão sobre a participação mais efetiva dos funcionários públicos na eleição. No encontro, líderes do PT cobraram mais empenho de servidores comissionados e os exortaram a ir às ruas em favor da reeleição de Dilma Rousseff. O recado estava implícito. Quem não se mexer, tem o emprego ameaçado. Assim, o PT tem organizado caminhadas pelo País, a exemplo da que ocorreu em Brasília no último dia 13, em que grande parte dos cerca de quatro mil participantes era de funcionários públicos. Atos em prol da candidata do PT, como a reunião com artistas brasileiros, no último dia 15, viraram palcos quase exclusivos de ataques a adversários. Dilma aproveitou a oportunidade para, em tom agressivo, repetir diversas vezes que as propostas de Marina Silva, candidata do PSB, apresentariam riscos ao País. No mesmo dia, o exército de internautas petistas divulgava nas redes sociais críticas da classe artística à segunda colocada nas pesquisas.
Na semana passada, uma manifestação de homenagem a Petrobras capitaneada pelo ex-presidente Lula ilustrou bem o atual momento da campanha. Suado e descabelado, Lula esbravejou ao pedir apoio dos militantes. Disse que é preciso proteger a estatal contra Marina Silva, afirmando que ela não conhece e não dá importância às riquezas do pré-sal. Antes do evento, em uma reunião rápida com o líder do Movimento dos Sem Terra, José Pedro Stédile, Lula conclamou o antigo aliado a se engajar na campanha. A resposta veio rápida. Em entrevista, na segunda-feira 15, Stédile prometeu realizar invasões e fazer protestos diários, caso Marina vença a eleição. No comitê da candidata do PSB, a ameaça virou piada. “Entendo o temor deles, que vão ficar sem empregos”, respondeu o coordenador do comitê financeiro do PSB, Márcio França.
Mas o comportamento da campanha de Dilma está longe de ser uma distração eleitoral. De olho num embate no segundo turno das eleições, os petistas voltaram a jogar pesado no horário eleitoral gratuito. Na TV, um locutor apareceu dizendo que, se eleita, Marina Silva vai tirar R$ 1,3 trilhão da Educação e extinguir o pré-sal. A peça publicitária foi exibida dias depois do polêmico vídeo que mostrava uma família com a comida saindo no prato, como conseqüência da proposta de autonomia do Banco Central apresentada por Marina. Diante dos ataques, a candidata do PSB entrou com três representações no TSE contra a veiculação das propagandas do PT. No documento, argumentou que sua imagem fora duramente atingida pela candidata adversária, que teria apresentado um dado fraudulento com o propósito de incutir o medo nos eleitores. O mérito ainda não foi julgado, mas conta com o parecer favorável do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que viu intenção deliberada dos petistas de criarem “artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais”, o que é vedado por lei. Para ironizar também o candidato do PSDB, Aécio Neves, que tem dito que o sonho dos brasileiros é morar no País retratado pela propaganda ilusória de Dilma, os petistas levaram ao ar um personagem denominado Pessimildo, um boneco rabugento que faz troça dos críticos do governo e foi inspirado em figuras conhecidas da televisão com o objetivo de satirizar todas as críticas feitas à petista. A principal linha do discurso do personagem é responder ponto a ponto os programas eleitorais dos adversários.
Enquanto a campanha do PT foca-se no ataque pessoal aos adversários, crises internas afetam a própria candidata do partido. No final da última semana, a presidenta Dilma pediu a suspensão da divulgação de seu programa de governo após impasse com alas do PT que defendem idéias contrárias à posição do Planalto. A intenção inicial dos petistas era a de incluir no texto propostas com grande apelo eleitoral e que pudessem atrair categorias diversas de eleitores, como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho. Dilma, entretanto, resiste em defendê-las. Apesar de não declarar publicamente, o governo evita há pelo menos quatro anos que a proposta do fim do fator previdenciário seja votada no Congresso. O Planalto enfrenta pressão das centrais sindicais, mas nunca se comprometeu com a ideia da redução da jornada de trabalho. Ao saber por assessores das propostas para trabalho e emprego, Dilma pediu o adiamento da divulgação do programa.
Enquanto a campanha montada pelos marqueteiros adere ao radicalismo e reflete parte do desespero de gente agarrada ao poder, Dilma Rousseff segue tentando transparecer tranquilidade e segurança. Na vantajosa posição de atual presidenta, ela usa o Palácio da Alvorada como comitê de campanha sem que a Justiça Eleitoral faça sequer uma advertência. Em uma única semana, recebeu estudantes, reitores de universidades e concedeu duas entrevistas como candidata sentada na cadeira presidencial. O cenário é alentador para os milhares apadrinhados que tratam a estrutura pública como se fosse privada do partido e consideram positivo mostrar uma Dilma forte e em posição de superioridade em relação aos demais concorrentes. 
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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CARA A CARA

A candidata a Presidência da República, Marina (PSB) participa logo mais às 18h00 do Face to Face ( Cara a Cara) com os internautas.
O evento é realizado pelo Facebook Brasil. Os outros candidatos ainda não marcaram presença.
Participe, tire suas dúvidas, veja o que é boato e o que é verdade sobre a candidata do PSB. Faça sua pergunta para Marina.
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terça-feira, 16 de setembro de 2014

NO RASTRO DO DINHEIRO DA PETROBRÁS

Da IstoÉ
Entenda como o esquema na Petrobras abasteceu o caixa de aliados do governo e conheça os novos nomes denunciados pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa na delação premiada
Há duas semanas, uma equipe composta por integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público trabalha arduamente para detalhar como funcionaria o propinoduto instalado na Petrobras para abastecer políticos aliados do governo Dilma Rousseff. Até agora, eram conhecidos trechos da delação do ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa, considerado o maior arquivo vivo da República. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-executivo da estatal entregou nomes de políticos e empresas que superfaturaram em 3% o valor dos contratos da Petrobras exatamente no período em que ele comandava o setor de distribuição, entre 2004 e 2012.
Já se sabia que dessa lista faziam parte figuras graúdas da República, como os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças do PT, Ciro Nogueira, senador e presidente nacional do PP, Romero Jucá, senador do PMDB, Cândido Vaccarezza, deputado federal do PT, João Pizzolatti, deputado federal do PP, e Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades, do PP, e até o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no mês passado. No entanto, a relação de nomes entregue pelo ex-executivo da Petrobras é ainda mais robusta. ISTOÉ apurou com procuradores e fontes ligadas à investigação que, além desses políticos já citados, também foram delatados por Paulo Roberto Costa o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governador do Ceará, Cid Gomes, e os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Francisco Dornelles (PP-RJ).
Na semana passada, as investigações avançaram sobre o rastreamento do dinheiro desviado. Os levantamentos preliminares já confirmaram que boa parte da lista de parlamentares e chefes de governos estaduais contemplada, segundo o delator, pelo propinoduto da Petrobras, tem conexão direta com as empresas envolvidas no esquema da estatal. Levantamento feito na prestação de contas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que cinco empreiteiras acusadas de participar do esquema este ano doaram quase R$ 90 milhões a políticos relacionados ao escândalo. Procuradas por ISTOÉ, as empresas envolvidas respondem em uníssono que as doações “seguem rigorosamente a legislação eleitoral”. A PF, no entanto, apura a origem dos recursos doados e se, além dos repasses oficiais, houve remessas ilegais. Suspeita-se que as doações eleitorais sejam usadas para lavar e internalizar o dinheiro depositado no exterior. Instada a colaborar, a Justiça da Suíça, país por onde circularam receitas provenientes de superfaturamento dos contratos da Petrobras, já deu o sinal verde para a cooperação.
A análise do mapa de distribuição do dinheiro para as campanhas de políticos ligados ao escândalo mostra que os repasses financeiros nem sempre guardam relação com o perfil econômico dos Estados. Essa constatação intriga a PF. É o caso de Alagoas, Estado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos personagens citados no testemunho do delator. Em uma unidade da federação em que as principais atividades são a indústria açucareira e o turismo, as empreiteiras contratadas pela Petrobras não têm nenhum interesse de investimento ou projetos no estado. Mesmo asism, abarrotaram o caixa de campanha de Renan Filho (PMDB), herdeiro político do senador. Cinco empresas relacionadas ao esquema entraram com R$ 8,1 milhões na campanha, o equivalente a 46,8% dos R$ 17,3 milhões arrecadados pelo diretório estadual do partido, presidido pelo parlamentar.
No fim de agosto deste ano, um cheque de R$ 3,3 milhões da Camargo Corrêa irrigou o caixa controlado por Renan. Para que os recursos não saíssem diretamente para a campanha do filho do presidente do Senado, o dinheiro foi pulverizado em campanhas de deputados estaduais de diferentes partidos que compõem a coligação formada em torno de Renan Filho. Partidos como PDT, PT, PCdoB e PROS dividiram os recursos. O senador reagiu indignado ao vazamento do acordo de delação e negou proximidade com a diretoria da Petrobras. “As relações nunca ultrapassaram os limites institucionais”, afirma o parlamentar alagoano. A Camargo Corrêa foi levada à investigação da PF pelo doleiro Alberto Youssef, responsável pela lavagem do dinheiro ilegal da Petrobras. Em uma mensagem interceptada, ele reclamou que adiantou dinheiro à empreiteira e que não sabia como cobrar a dívida, de R$ 12 milhões, por ser amigo de diretores da empresa.
As denúncias do ex-diretor da Petrobras, feitas no depoimento concedido ao juiz Sérgio Moro, especialista em lavagem de dinheiro, atingiram as duas principais autoridades do Poder Legislativo. Além de Renan, Costa também mencionou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), como beneficiário do esquema criminoso. Alves viveu por semanas a pressão de submeter o deputado André Vargas (PT-PR), amigo do doleiro Youssef, às instâncias do conselho de ética da Casa. Agora, ele próprio se vê envolvido na incômoda lista de políticos apontados pelo delator. Alves nega ter recebido recursos de Paulo Roberto Costa, mas, a exemplo de Renan, tem a campanha abastecida por empresas situadas no epicentro do escândalo. Henrique Eduardo Alves lidera a corrida ao governo do Rio Grande do Norte. Até agora, recebeu R$ 6,7 milhões de três empreiteiras apontadas no esquema de desvio de verbas da estatal. A relação do presidente da Câmara com a Petrobras é antiga. Sua influência nos quadros da estatal alcança desde grandes postos no Rio de Janeiro até a gestão da Refinaria Clara Camarão, no seu Estado. Só para alojar um apadrinhado na refinaria, o presidente da Câmara ordenou em 2012 a constituição de uma nova gerência de serviços especiais. Trata-se de Luiz Antônio Pereira. Um ano antes, a refinaria Clara Camarão havia passado por um pente fino do TCU e o tribunal encaminhou a auditoria para o Ministério Público, com o objetivo de esmiuçar indícios de superfaturamento e contratos sem licitações que marcaram a gestão da obra.
Incluído também na lista do ex-diretor da Petrobras, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) viu brotar na conta bancária do diretório partidário que preside em Roraima recursos provenientes das empreiteiras citadas no esquema. A OAS, Andrade Gutierrez e UTC doaram, juntas, R$ 1,6 milhão ao projeto político do PMDB no Estado. O valor que as empreiteiras repassaram à sigla de Jucá é maior do que os recursos transferidos das empreiteiras para o PSB, partido do cabeça de chapa da coligação do PMDB: o comitê do candidato ao governo Chico Rodrigues, que tem o filho de Jucá, Rodrigo Jucá, como candidato a vice, arrecadou R$ 615 mil.
Em seu depoimento à PF, Paulo Roberto Costa revelou que as empreiteiras contratadas pela Petrobras eram obrigadas a fazer doações para um caixa paralelo de partidos e políticos integrantes da base de sustentação de Dilma. Seguindo o rastro do dinheiro, a investigação mostra que, até agora, as empresas contratadas pela Petrobras engordaram o caixa do PMDB em R$ 15,5 milhões. Enquanto os peemedebistas adotam um método pulverizado de doação de campanha, o PT é o que concentra a maior fatia do dinheiro das empresas citadas no escândalo. Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, Engevix e UTC destinaram R$ 28,5 milhões à direção nacional do PT. À candidata Dilma Rousseff, R$ 20 milhões foram repassados pela OAS e outros R$ 5 milhões pela UTC.
A rede de corrupção guarda íntima relação com problemas de gestão identificados pelos órgãos de fiscalização na execução de outras obras de refinarias. No Maranhão, a pressa política do PT em apresentar a pedra fundamental da Refinaria Premium custou R$ 84,9 milhões à Petrobras. O lançamento foi feito sem o projeto básico e o consórcio de empreiteiras contratado atrasou o início das obras, pois os terrenos ainda estavam sub judice. Ainda no Estado maranhense, o filho do ministro de Minas e Energia, integrante da lista de Paulo Roberto Costa, e candidato do PMDB ao governo do Maranhão, Lobão Filho, recebeu para sua campanha R$ 500 mil da empresa Andrade Gutierrez. A PF apura ligações do candidato com a empresa fornecedora de material para a construção da refinaria, no município de Bacabeira. O ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau atua há muito tempo nessa área para a família do ex-presidente José Sarney (PMDB), pai da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Quando saiu do ministério, Rondeau foi trabalhar na Engevix, uma das cinco empreiteiras abraçadas pelo escândalo.
Recém-incluído na rumorosa relação do delator, o senador petista Delcídio Amaral também obteve recursos para sua campanha de empresas mencionadas como integrantes do esquema. A campanha de Delcídio ao governo de Mato Grosso do Sul recebeu R$ 622 mil da OAS, R$ 2,8 milhões da Andrade Gutierrez e R$ 2,3 milhões da UTC. Entre 2000 e 2001, Delcídio ocupou a diretoria de Gás e Energia da Petrobras. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente, em 2002, ele se transferiu do PFL para o PT e apadrinhou a indicação de Nestor Cerveró, primeiro para a área de Gás e Energia, ocupada por Ildo Sauer, e, finalmente, para a área Internacional. Um dos depoentes da CPI da Petrobras no Congresso na última semana, Cerveró encontra-se no rol de investigados no escândalo da estatal.
Outros três políticos que aparecem no escândalo receberam, direta ou indiretamente, dinheiro das empreiteiras acusadas de irregularidades nos contratos com a Petrobras. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi agraciado com R$ 150 mil provenientes da UTC. Já o senador Francisco Dornelles (PP) obteve R$ 400 mil da Andrade Gutierrez e R$ 800 mil da Queiroz Galvão. À ISTOÉ, Dornelles admitiu que conhece Paulo Roberto Costa, mas, segundo o senador, não houve qualquer participação dele nessas doações. “Todas as doações recebidas pelo diretório do PP no Rio tiveram como origem empresas juridicamente aptas a fazê-las”, afirmou. O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte foi contemplado com R$ 200 mil da OAS e R$ 100 mil da UTC. Na delação que fez à PF, Paulo Roberto Costa menciona ainda o governador Cid Gomes, do Ceará, com quem negociou a instalação de uma minirrefinaria no Estado. O projeto seria apenas uma fachada para um esquema de lavagem de dinheiro por meio de empresas que nunca sairiam do papel, conforme ISTOÉ denunciou em abril. “Não sei quem é Paulo Roberto. Nunca estive com esse cidadão e sou vítima de uma armação de adversários políticos”, disse o governador Cid Gomes à ISTOÉ na tarde da sexta-feira 12.
Quando a Polícia Federal iniciou as apurações, os investigadores tentaram abraçar um universo de temas. Sob a guarda do juiz federal Sérgio Moro, a PF buscava provas de crimes de evasão de divisas, contrabando de pedras preciosas e tráfico internacional de drogas, mas tinha dificuldade para amarrar uma linha de trabalho e caracterizar a ação de uma quadrilha. O acordo de delação do ex-diretor da Petrobras contribuiu, e muito, para apontar um rumo. Mas, para se livrar dos 50 anos de prisão que teria de pagar pelos seus crimes, Paulo Roberto Costa terá de trazer provas. Todos os políticos rechaçam as acusações do delator com o argumento de que não foram apresentadas provas. De fato, para que o depoimento do delator tenha relevância na elucidação da rede de corrupção, Costa terá de materializar suas afirmações. Pelo que se pode depreender até agora, as movimentações feitas com os recursos desviados da Petrobras abrangem o caixa formal dos candidatos, como mostra esta reportagem, e também dinheiro de caixa 2. No curso de seu trabalho para desvendar as tenebrosas transações, Sérgio Moro deu uma ordem: não quer depender de grampos ou suposições e vai fugir da “teoria do domínio do fato”, método que permeou o julgamento do mensalão, o maior escândalo de corrupção dos governos do PT.
Da revista IstoÉ, por Mário Simas Filho, Sérgio Pardellas e Josie Jerônimo
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A MENTIRA VIROU VERDADE

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo
Aproxima-se a hora da verdade política do País. Hora da verdade ou hora da mentira? Mentira virou verdade? Nossas "verdades" institucionais foram construídas por 500 anos de mentiras. Portanto, virou uma razão de Estado para o governo do PT a proteção à mentira brasileira inventada pela secular escrotidão portuguesa. Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Por isso, o governo acha que é necessário proteger as mentiras para que a falsa "verdade" do País permaneça. E não é só a mentira que indigna. É a arrogância com que mentem. E a mentira vai se acumulando como estrume durante um ano e acaba convencendo muitos ingênuos de que "sempre foi assim" ou de que "erraram com boa intenção".
Não só roubaram cerca de 2 bilhões de reais desviados de aparelhos do Estado, de chantagem com empresários, de fundos de pensão, de contratos falsos, mas roubaram também nossos mais generosos sentimentos. A verdadeira esquerda se modificou, avançou, autocriticou-se, enquanto eles não arredaram os pés dos velhos dogmas da era stalinista e renegaram todo trabalho de uma esquerda mais socialdemocrata, como aliás fazem desde que não votaram nos 'tucanos' da época e o Hitler subiu ao poder.
"Nunca antes", nunca antes um partido tomou o poder no Brasil e montou um esquema secreto de "desapropriação" do Estado, para fundar um "outro Estado". Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado, aparelhado por mais de 30 mil militantes.
O ladrão tradicional sabia-se ladrão. O ladrão tradicional roubou sempre em causa própria e se escondia pelos cantos para não ser flagrado.
Os ladrões desse governo roubam de testa erguida, como se estivessem fazendo uma "ação revolucionária", se orgulham de fingir de democratas para apodrecer a democracia por dentro.
A verdade está sempre no avesso do que dizem.
São hábeis em criar um labirinto de "falsas verdades", formando uma rede de desmentidos, protelações e enigmas que vão desqualificando as investigações de coisas como a CPI da Petrobrás e todos os crimes de seus aliados. Regozijam-se porque seus eleitores são ignorantes e pobres e não sabem nem o que é "dossiê" - pensam que é um tipo de doce. A verdade do Brasil é coloquial, feita de pequenos ladrões, sujos arreglos políticos, emperramentos técnicos. Hoje, sabemos que somos parte da estupidez secular do País. Assumir nossa doença talvez seja o início da sabedoria.
A verdade é que os petistas nunca acreditaram na "democracia burguesa"; como disse um intelectual emérito da USP - "democracia é papo para enrolar o povo".
O PT que se agarra ao poder degrada a linguagem. Falam de um lugar que é o auge de um baixo voluntarismo aventureiro, de uma ideia de socialismo decaída em populismo.  A esquerda petista não tem memória. Dá frio na espinha vê-la tender para os mesmos erros de 64 e 68.
Na cabeça dessa gente ignorante e dogmática, nada é real; só a ideologia existe.
Todos os erros eram previsíveis por comentaristas e foram cumpridos à risca pelos governos petistas.
Milhares de petistas ocupam o Estado aparelhado e querem que a Dilma ganhe para permanecerem nas "boquinhas".
As Agências Reguladoras estão sendo assassinadas.
Dilma berra que o Banco Central não tem de ter autonomia.
A era Meirelles-Palocci foi queimada, velho desejo dos camaradas.
Qualquer privatização essencial foi esquecida. A reforma da Previdência "não é necessária" - dizem eles - não havendo nenhum "rombo" no orçamento (!). Os gastos públicos aumentaram, pois, como afirmam, "as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública".
Se reeleita, voltará a obsessão do "Controle" sobre a mídia e a cultura. E como não poderá se reeleger, o bolivarianismo vai florir e o passarinho do Chávez vai cantar em seus ouvidos. Nossa maior doença - o Estado canceroso - foi e será ignorada. Tudo o que construíram com sua militância foi um novo "patrimonialismo de Estado", com a desculpa de que "em vez de burgueses mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos".
O perigo que corremos é sua reeleição, porque o país de analfabetos é boçal, espera um salvador da pátria. No fundo, brasileiros preferem uma boa promessa de voluntarismo e populismo, na base do "pau no burro" ou "bota para quebrar". Estamos prontos para ditadores e demagogos; para administradores e reformadores racionais, não.
Enquanto o óbvio se exibe, a covardia de muitos intelectuais é grande. Há o medo de serem chamados de reacionários ou caretas. Continuam ativos os três tipos exemplares de "radicais": os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam e os terceiros zurram.
A "presidenta" vive a missão impossível de ser "socialista e dirigir um país... ah... capitalista". A conclusão é que Dilma perdeu o controle da zona geral que Lula sabia 'desorganizar' com esmero e competência. Dilma não é competente nem para desorganizar. Não é apenas o fim de dois maus governos; é o despertar de um caos institucional que será mais grave do que pensávamos. Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. É uma herança que vai amaldiçoar o futuro. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia.
O Brasil evolui pelo que perde e não pelo que ganha. Sempre houve no País uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Com a história em marcha à ré, estranhamente, andamos para a frente. Como?

O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Chegaremos a uma vida social mais civilizada quando as ilusões chegarem ao ponto zero.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

DO MINISTÉRIO PARA A LANTERNA NAS ELEIÇÕES

Do site de Veja
Em uma eleição na qual a favorita à Presidência tem apenas dois minutos de TV e uma estrutura de campanha muito menor do que a de dois adversários, a correlação entre o uso da máquina e o resultado das urnas parece ser mais fraca do que já foi no passado. E há casos concretos para comprovar isso. Em abril, cinco ministros do governo Dilma deixavam seus postos para participar das eleições. Desses, quatro se candidataram a governador. Três caminham para uma derrota nas urnas. Aparentemente, ter participado de um governo cuja popularidade fica em torno dos 34% não é uma vantagem eleitoral.
Os ex-ministros de Dilma usaram o quanto puderam a estrutura do Estado para aumentar sua exposição sob os holofotes. Alexandre Padilha, da Saúde, Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Marcelo Crivella, da Pesca, usaram seus cargos como plataforma eleitoral.
Padilha intensificou as viagens a São Paulo e aumentou a frequência com que concedia entrevistas. Mais a divulgação do Mais Médicos e a companhia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos palanques não ajudou o petista a ganhar votos. Tanto que partiu do próprio Lula uma recomendação aos correligionários: que reforcem a campanha de Paulo Skaf (PMDB) para tentar derrotar o tucano Geraldo Alckmin.Apesar de ter subido na última pesquisa Datafolha, Padilha tem apenas 7% das intenções de voto.
No Paraná, Gleisi também está em terceiro lugar, muito distante do segundo colocado, Roberto Requião (PMDB) e ainda mais do líder nas pesquisas, o tucano Beto Richa. A ex-ministra da Casa Civil, que chamou a atenção da presidente Dilma Rousseff ainda no início de seu primeiro mandato no Senado, deve passar os próximos quatro anos cumprindo o mandato no Congresso.
Crivella, que sustentava a vice-liderança no Rio, caiu para o terceiro lugar na disputa graças à ascensão do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), dono de uma máquina mais poderosa e de mais tempo na televisão. Ou seja: o ex-ministro da Pesca não tem um prognóstico muito positivo.
Também no Rio de Janeiro, o também ex-ministro Carlos Lupi, que deixou o cargo evolvido em denúncias de corrupção e depois se reabilitou com a presidente Dilma Rousseff, tem apenas 3% das intenções de voto na disputa pelo Senado no Rio de Janeiro. Ele perde até para o candidato do nanico PCB.
A exceção é o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel. O petista lidera as intenções de voto na eleição para o governo de Minas Gerais. O vice dele, Antônio Andrade (PMDB), também fez parte da equipe de Dilma: foi ministro da Agricultura. Na terra de Aécio Neves, entretanto, o tucano Pimenta da Veiga (PSDB) tem crescido nas pesquisas. Com ou sem Pimentel no governo, tudo indica que o saldo dos ex-ministros de Dilma não será dos melhores nestas eleições.
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domingo, 14 de setembro de 2014

ASSUNTO DE CAPA

As quatro principais revistas do país que circulam nesta semana, três delas: IstoÉ, Época e Carta Capital trazem como assunto de capa, o escândalo na Petrobrás, que já foi apelidado de “Petrolão”, as declarações de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da estatal que resolveu abrir a boca em troca da delação premiada.  
Em depoimento ao Ministério Público e a Polícia Federal, Paulo Roberto delatou mais de 60 políticos: entre deputados, senadores, governadores, ministros. O vazamento das declarações do ex-diretor coloca fogo na eleição que acontecerá em 5 de outubro. A delação de Paulo Roberto da Costa tem tirado o sono de muitos políticos.
A revista Veja que tem maior circulação de exemplares no, cerca de 1 milhão de exemplares são impressos toda semana, trouxe como assunto de capa, o bombardeio exagerado do PT contra a candidata do PSB, Marina Silva.
Para tentar minar a disparada de Marina nas pesquisas, o partido da candidata à reeleição, a presidente Dilma, usa  como munição a mentira, calúnia, difamação e o discurso do medo, aquele velho conhecido do PT, do qual foram vítima, principalmente nas três primeiras eleições do Lula.
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MORRE IBERÊ FERREIRA

O ex-governador do Rio Grande do Norte, Iberê Ferreira, de 70 anos, morreu na noite deste sábado, 13, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele lutava contra um câncer desde 2010. O hospital não foi autorizado a divulgar detalhes sobre a causa do falecimento.
Em nota, a família do político classificou o ex-governador como um homem "apaixonado pela vida e pelas questões sociais" e "um pai amoroso e completamente dedicado à família". "Neste momento tão doloroso, nossos corações e nossas orações estão com ele. Que esteja em paz e ao lado do Criador."
O governo do Rio Grande do Norte decretará luto oficial no Estado em função do falecimento. "Solidarizando-nos com os familiares do ex-governador, queremos externar nosso profundo pesar e manifestar os sentimentos de todo o povo potiguar, especialmente aos filhos e netos", diz a nota de pesar divulgada pelo governo local.
Iberê Ferreira nasceu em fevereiro de 1944 e também foi deputado estadual, deputado federal, secretário de Estado dos Recursos Hídricos e vice-governador.

Estadão, via A Tarde
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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

MARINA EM SOBRAL

Galera de Sobral (CE), a candidata a presidente da República, Marina Silva e seu vice Beto Albuquerque estarão amanhã (sábado) em Sobral.
Local: Ginásio Esportivo do SESI/SENAI
Dia: 13/09
Horário: 9h
Endereço: Av. Dr. Arimateia Monte Silva, 1003.
Obs.: Vizinho ao Centro de Convenções de Sobral.
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MARINEIROS VÃO À FEIRA

Amanhã a juventude da campanha de Marina e Beto vai ocupar as feiras e mercados de todo o Brasil e ampliar a onda de mobilização nos espaços públicos das cidades.
Veja em nosso site mais informações e o endereço mais próximo de sua casa.
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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

UMA GUERRA NADA SANTA CONTRA MARINA

Fábio Campos, O POVO
Entende-se por guerra total a mobilização bélica radical cujo objetivo não é apenas derrotar o adversário, mais sim levá-lo ao extermínio. Em política, este tipo de guerra busca, além da vitória, o extermínio moral e psicológico do adversário. Não se faz distinções éticas e morais para se atingir a meta estabelecida. Há evidentes sinais de que a guerra total foi decretada para eliminar Marina Silva.
Um das mais claras sinalizações é a tentativa de pregar na ex-senadora e ex-ministra do PT a pecha de “homofóbica”. Isso, mesmo que não haja um reles fato que sustente a condenação e mesmo que seu programa de Governo diga exatamente o oposto. Quem acompanha de perto a política, sabe bem como este tipo de movimento se evidencia. Hoje, o campo de batalha se dá na guerrilha suja dos soldados “fakes” que se postam nas redes sociais.
Nessa mesma guerrilha, cobra-se da candidata uma posição sobre o matrimônio gay, mesmo que já seja fato pacificado por decisão do Supremo. Curiosamente, essa cobrança não é dirigida nem à Dilma Rousseff e nem ao Aécio Neves. O objetivo é impor à Marina uma agenda para colocá-la em confronto com um setor influente do eleitorado.
O mesmo movimento de ataque ocorre em várias outras frentes. Ler a Bíblia, ora vejam, passou a ser apontado como um problema. Como se, uma vez presidente, Marina fosse buscar no livro a resposta para a compra ou não de, por exemplo, aviões de guerra. Além do preconceito religioso, aí há uma esperteza: passar a ideia de que a candidata é uma fanática obscurantista.
Agora, acabar de surgir uma mobilização sindical, obviamente relacionada ao PT, que programa fazer manifestações a favor do pré-sal. Algo tipo “o pré-sal é nosso”. Como o programa de Marina dedicou poucas palavras a essa fonte de petróleo, a ideia é martelar que Marina é contra o pré-sal, mesmo que não seja. Percebem?
Não importa a verdade. O que importa é fazer desmoronar a concorrência. Novas ondas serão criadas artificialmente. A guerra será longa. O segundo turno já começou. A oponente de Dilma não tem estrutura partidária, não tem tempo de TV e não tem militância ativa para se contrapor com desenvoltura aos duros ataques que estão sendo e serão desferidos.
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