sábado, 31 de janeiro de 2015

UM CLIENTE VIP

Por Murilo Ramos, da Época
Em 18 de novembro de 2013, o então governador do Ceará e atual ministro da Educação, Cid Gomes, deixou Fortaleza rumo a Sobral para participar da inauguração da segunda agência do Banco do Nordeste, o BNB, em sua cidade natal. No palanque da foto acima, improvisado em frente à nova agência, Cid elogiou a política de juros baixos do banco. “Se a gente não tiver crédito e um crédito bom, um crédito barato, um crédito que estimule quem está começando, de nada vai adiantar o saber fazer ou a boa vontade. É aí que entra o Banco do Nordeste. É aí que entra essa segunda nova agência aqui em Sobral”, disse. Tão logo terminou a cerimônia, Cid comentou com alguns dirigentes do banco que ele poderia largar a política depois de deixar o governo estadual. Disse que queria se tornar um empreendedor. Precisava pensar no futuro. Sem delongas, Cid correu ao guichê da gerente do banco recém-inaugurado. Queria informações sobre linhas de crédito, taxas de juros e prazo de pagamento de empréstimos – e confirmar se tudo o que falara no discurso minutos antes era verdade mesmo. Começava ali a aventura de Cid rumo ao empreendedorismo.
Dois meses depois, Cid pediu ao BNB mais informações sobre as condições de empréstimos. Sem pestanejar, no dia 21 de janeiro, a gerente do banco em Sobral, a mesma que atendeu Cid solicitamente na cerimônia de inauguração da agência, transmitiu por e-mail ao superintendente do banco no Ceará, João Robério Messias, informações sobre um pedido de financiamento para a construção de galpões numa região remota de Sobral. A gerente cobrava celeridade do chefe para dar pronta resposta ao cliente. Messias logo mostrou a eficiência do BNB. No dia seguinte, encaminhou as informações do pedido a dois diretores do banco. Num e-mail, Messias fez questão de frisar: “Esse pleito é de empresa no nome do governador Cid Gomes, que iniciou negociação esta semana” (leia o e-mail). Não precisava dizer mais nada. O BNB, banco do governo federal voltado para financiar o desenvolvimento do Nordeste, estava pronto para financiar a empresa do governador Cid.
O governador ficou animado. Não estava fácil empreender em Sobral. Cid finalmente arranjara uma serventia para um terreno que comprara em 1996 – e estava abandonado. Em 2013, já mandara asfaltar uma estrada que dava acesso ao lote. Nada de buracos e curvas acentuadas. A estrada ficou um tapete, bem sinalizada. O dinheiro para a obra? Veio do governo do Estado, então administrado por Cid Gomes. Foram quase R$ 2 milhões para pavimentar os 2 quilômetros da estrada.
Tudo caminhava bem, mas Cid esbarrou num problema que pôs em risco seu sucesso no mundo dos negócios. Não havia previsão no zoneamento de Sobral para que seu terreno pudesse abrigar o empreendimento pretendido. Cid, então, teve de apelar ao Conselho Municipal do Plano Diretor, ligado à administração de Veveu Arruda, do PT, prefeito de Sobral e seu antigo aliado. Veveu, marido da atual vice-governadora, também comparecera à festa de inauguração da segunda agência de Sobral. A despeito da contestação de um integrante do conselho, que questionou a legalidade do projeto de Cid ser discutido por aquele órgão, o obstáculo do governador foi superado rapidamente. Poucos dias depois, Cid recebeu a licença para tocar o empreendimento. 
No final de maio do ano passado, superadas as burocracias, Cid se tornou sócio do engenheiro Ricardo Sérgio Farias – amigo antigo dos tempos do colégio primário – na empresa Corte Oito Gestão e Empreendimento. No mês seguinte, a Corte Oito pediu oficialmente o empréstimo ao BNB. Em agosto, veio a boa notícia para Cid e seu sócio. O BNB aprovara um pedido de R$ 1,3 milhão para que a Corte Oito erguesse os galpões e os alugasse. E o melhor: juros de 6,5% ao ano, abaixo do valor de mercado – como é normal num banco de fomento. E com a primeira parcela de pagamento da dívida só em março de 2016. As parcelas também são a perder de vista. Se tudo correr bem, Cid só acabará de pagar o empréstimo em 2023. ÉPOCA perguntou ao presidente do BNB, Nelson de Souza, se ele considerava normal um governador pedir dinheiro emprestado a um banco público. Ele titubeou e disse: “Prefiro não responder a essa questão... Mas não é proibido”. O superintendente do BNB no Ceará, João Robério Messias, que estava na festa de inauguração da segunda agência em Sobral, é mais cordato com políticos. “Como se trata de uma operação do governador do Estado, eu acompanhei de perto até a sua concretização. Ele não teve privilégio. Eu acompanho todas as operações do banco. Mas você há de convir da representatividade da pessoa. É uma empresa do governador do Estado”, disse. “Não existe nenhum problema. É relacionamento.” 
Chegara o momento de a empresa de Cid receber o dinheiro, aplicar no projeto e lucrar com o retorno do investimento. No caso, com o aluguel do galpão. Cid e seu sócio já tinham acertado o aluguel meses antes, em janeiro de 2014, para a Cervejaria Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava. A despeito de o terreno de Cid ficar numa área isolada e pouco urbanizada, a Itaipava preferiu alugar seu galpão a se instalar no distrito industrial, localidade atendida por infraestrutura de qualidade, onde outras grandes empresas ficam. A Itaipava ainda topou pagar R$ 36 mil todos os meses para a empresa de Cid.
Há cerca de 60 dias, a Itaipava assumiu o galpão e o pintou com as cores da cervejaria. Só não começou ainda a pagar o aluguel por reclamar de alguns problemas na obra, principalmente no acabamento.
Na edição da semana passada, ÉPOCA mostrou como a Cervejaria Petrópolis foi beneficiada pelo Banco do Nordeste, durante as eleições do ano passado. Após ter recebido o benefício, a cervejaria, pertencente ao empresário Walter Faria, fez doações de R$ 17,5 milhões à campanha da presidente Dilma Rousseff. Tornou-se, assim, o quarto maior doador da campanha petista. Um outro empréstimo, de R$ 472 milhões, destinado à construção de uma unidade da cervejaria em Pernambuco, também deverá dispensar a garantia da carta-
fiança. Após a publicação da reportagem, a Procuradoria da República no Estado do Ceará abriu uma investigação para apurar possíveisirregularidades na concessão dos dois empréstimos à cervejaria, que somaram quase R$ 830 milhões – e na operação que dispensou a fiança. Os procuradores também solicitaram à Polícia Federal a abertura de inquérito e ao Tribunal de Contas da União uma investigação aprofundada.  O TCU já identificara anteriormente outras irregularidades no BNB.
Procurada pela reportagem, a Cervejaria Petrópolis afirmou, por meio de nota, que seu proprietário, o empresário Walter Faria, não conhece o ministro Cid Gomes. Confirmou ter uma revenda em Sobral alugada pela Corte Oito e que as negociações para a instalação do centro de distribuição foram feitas por uma equipe técnica. O prefeito de Sobral, Veveu Arruda, afirma que Cid jamais pediu a ele que interferisse na mudança de destinação de seu terreno nem que incentivasse a Cervejaria Petrópolis a se instalar na cidade. Arruda disse que a ideia de asfaltar a estrada que dá acesso à cervejaria surgiu na prefeitura. “O trecho encurta em 40% o acesso a uma estrada estadual, beneficiando a população de algumas localidades e tornando o trânsito mais seguro.” O presidente do Banco do Nordeste, Nelson de Souza, disse que jamais tratou do empréstimo com o ministro Cid Gomes e que ele foi aprovado dentro das regras do banco. O diretor Luiz Carlos Everton e o ex-diretor Fernando Passos, copiados no e-mail, negaram favorecimento no caso do pedido de Cid. Por duas semanas seguidas, a reportagem de ÉPOCA tentou entrevistar o ministro. Diante da negativa, encaminhou perguntas relativas ao empréstimo. O ministro afirmou que não iria se pronunciar e pediu que seu sócio, Ricardo Sérgio Farias, fosse procurado. Farias disse que conduziu o acerto do aluguel com a Itaipava e submeteu o pedido de empréstimo ao BNB. Afirmou que a operação é absolutamente regular.
Em entrevista ao jornal O Povo, em setembro do ano passado, Cid disse que estava pensando no futuro: “Tem um terreno que comprei quando era deputado estadual, peguei um financiamento do Banco do Nordeste, fiz uma estrutura e aluguei, e isso vai dar uma tranquilidade para minha vida futura”. Nada como ser amigo do gerente.
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É PRECISO IR PARA AS RUAS

Por Adriano Ceolin, da revista Veja
No mês passado, a tribuna do Senado foi palco pela última vez da oratória iflamada do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Depois de quase sessenta anos na política, 32 deles no Senado, o gaúcho de Caxias, do Sul se despediu do Congresso com um discurso de quatro horas, ao fim do qual chorou e foi aplaudido de pé por seus pares.  Fundador do MDB e um dos lideres da campanha pela volta das eleições direta, em 1984, ele apoiou a candidatura de Lula à Presidência e, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, chegou a montar um bloco de parlamentares que daria suporte às medidas saneadoras da presidente no campo ético. Hoje, afirma que o petista foi “a maior decepção” de sua carreira e que Dilma se vergou ao toma lá dá cá e ficou “igual aos outros”. Em entrevista a Veja, Simon diz por que considera que a política brasileira vive “um momento dramático” e o que, na sua opinião, poderá mudar essa situação.
O senhor está se aposentando depois de quase sessenta anos na política. Nessa área, o país está melhor hoje do que no passado?
Nunca vi um momento tão dramático como este que o país vive hoje. Estamos diante de um dos maiores escândalos de corrupção do mundo, o petróleo. Eu era menino quando Getúlio Vargas se matou. Mais tarde, vi Jânio Quadros renunciar com sete meses de mandato. Tivemos crise para tudo o que é gosto. Mas nunca vi uma situação tão complicada quanto a de agora.
Por quê?
Vimo o fim de um governo melancólico e agora assistimos ao começo de outro governo igualmente melancólico.  Achamos de ter uma eleição democrática. O povo se manifestou. Um candidato ganhou e o outro perdeu, mas há uma interrogação no ar. A presidente da República teve dificuldade ate para montar o ministério porque estava na expectativa do término da Operação Lava Jato. E se o ministro fulano estiver na lista de envolvidos na operação? E se beltrano estiver  também ? Uma Situação que nunca havia acontecido. Acabamos o ano com dois ministros da Fazenda. Saiu a notícia de que a presidente da Petrobras pediu demissão, mas a presidente da República não a deixa sair. Parece que a Dilma não tem quem colocar no lugar. É muita desgraça. A presidente acaba de ser eleita e a impressão que dá é a de que não tem comando.
O senhor chegou a apoiá-la no início do primeiro mandato.
Lula soube vender tão bem a imagem da Dilma que eu acreditei na capacidade dela. E o começo do seu primeiro mandato de fato impressionou. Ela mandou embora seis ministros em seis meses, porque haviam sido citados em casos de corrupção. Eu fiquei solidário a ela. Cheguei a articular um bloco de parlamentares com os quais ela pudesse contar, para que não ficasse à mercê de chantagens do Congresso. Mas, principalmente após as manifestações de junho, ela se entregou e voltou a fazer de novo o troca-troca por cargos. Ficou igual aos outros.
Dos presidentes que o senhor conheceu, algum surpreendeu?
O (José) Sarney é uma força da natureza, nasceu para estar no poder. Sempre esteve e sempre vai estar, mesmo fora do Senado. Talvez só dom Pedro II tenha ficado ais tempo no poder do que ele.  Com o (Fernando) Collor tive uma passagem curiosa. Fomos eleitos para o cargo de governador no mesmo ano, em 1986, ele por Alagoas e eu pelo Rio Grande do Sul. Logo em seguida, ele me procurou, propôs que eu saísse do PMDB para criar um partido e disputar a Presidência da República. Achei-o louco. Itamar Franco era muito humilde, tímido até, mas sabia dizer não. Na verdade, gostava muito de dizer não. Fernando Henrique era o contrário. Não sabia dizer não e achava que era a melhor cópia de Deus na Terra. Já o Lula foi a maior decepção de toda a minha carreira.
Por quê?
Porque ele tinha uma bandeira, tinha uma história, e agora está morrendo abraçado ao José Dirceu, aos mensaleiros e aos ladrões da Petrobras. Quando ele apareceu, todos  ficamos encantados com sua liderança no sindicato dos metalúrgicos e, em seguida, na criação do PT. Depois de perder três eleições, chegou lá, fez um governo com ações importantes, especialmente na área social. Ele era a grande esperança do povo brasileiro. Mas, infelizmente, fechou os olhos para a corrupção. Deixou acontecer mensalão, petróleo. Todos esses escândalos têm uma origem – que é ele, por ação ou omissão. Se não tivéssemos tido tudo isso, se tivéssemos feito um governo austero, o Brasil hoje seria diferente, muito melhor. Por tudo isso, Lula e a grande decepção da minha vida pública.
O governo recentemente atropelou o Congresso impondo um novo cálculo do superávit fiscal. Como o senhor avalia a relação do Congresso com a presidente Dilma?
A manobra fiscal foi um ato absurdamente irresponsável. Dilma conseguiu fazer isso, e ainda obter a aprovação pelo Congresso, porque mantem vivo o troca-troca por cargos, por emendas. É lamentável esse tipo de relação. E o governo ainda teve a audácia de condicionar a aprovação da meta ao aumento de 700 000 reais no valor das emendas parlamentares. Isso foi quase que oficializar a corrupção. Infelizmente, não há perspectiva de melhora. Nenhum dos últimos três presidentes teve uma relação republicana com Parlamento. Tudo ficou na base do toma lá dá cá. Dilma manteve isso agora, ao montar seu ministério. Ela, que havia sido apresentada como uma técnica competente, dividiu seu governo entre partidos, pois sabe que vai precisar do Congresso neste ano, quando veremos o aprofundamento das investigações da Petrobras.
O senhor concorda com o que dizia Ulysses Guimarães, que um novo Congresso é sempre pior que o último?
Costumo dizer que não se podem esperar iniciativas do Congresso Nacional. O povo precisa pressionar os parlamentares. O Congresso é um ajuntamento de corporações – sindicatos, empreiteiras, multinacionais. Ninguém ali fala pelo povo. Se deixar tudo calmo, não fazem nada, ou só fazem coisas de interesse de determinados grupos. Por isso, sempre digo: não esperem nada do Congresso. Só tem mudança com povo na rua. Foi assim nas grandes questões.
Como a campanha das diretas já, por exemplo?
Sim, quando acabamos com a ditadura. O povo foi para as ruas pedir eleições diretas para presidente. Não conseguimos, mas tiramos os militares e elegemos o Tancredo, um democrata, no Colégio eleitoral. No impeachment foi a mesma coisa. A mocidade foi para a rua, vestiu preto, e o Collor foi cassado. O julgamento do mensalão aconteceu porque o povo debateu, discutiu e pressionou. Teve gente que foi para a frente do Supremo Tribunal Federal. Teve gente que reclamou pela internet, mandou carta para os ministros. E todo mundo acompanhou pela TV, pela imprensa. O resultado foi extraordinário, com a prisão da cúpula do PT – um partido que eu vi nascer tão bonito, cheio de ideias, de gente boa. Eu acreditava muito no PT, achava que poderia ser o que o MDB deixou de ser após chegar ao poder. Mas me enganei. O partido deixou de representar a ética na política. Hoje as pessoas votam no PT porque têm medo de perder o Bolsa Família. É por isso que o Lula não deixa transformar o programa em política de Estado permanente.
O senhor sempre disse que no Brasil “só ladrão de galinha vai para a cadeia”.  O julgamento do mensalão essa convicção?
Na verdade, é só o começo. É preciso avançar, e é o povo que tem qde fazer acontecer. Tem de ir para a rua, tem de cobrar, tem de usar a internet e as redes sociais. Só com o povo é que faremos as mudanças. Agora, o mensalão parece brincadeira de criança perto do que foi o roubo na Petrobras. Meu Deus do céu! A Petrobras era uma das dez maiores empresas do mundo, um orgulho nacional. E ela acabou sendo usada para fazer o maior escândalo de corrupção que o Brasil já teve. E, se você acompanhar a imprensa internacional, vai ler análises que dizem que se trata do maior escândalo que já aconteceu em qualquer país democrático e desenvolvido. É uma vergonha para nós. E infelizmente o governo do PT ganhou a eleição. Valeu o Bolsa Família do que um escândalo desse tamanho.
A oposição tem responsabilidade nisso?
Sim. O PT, quando estava do outro lado, fez uma oposição brilhante. Não deixava escapar uma vírgula. Já no governo, o PT foi muito pior que o PSDB. Os tucanos não souberam fazer oposição, eles não conseguem.
O senhor estava apoiando Eduardo Campos na última eleição. Tinha esperança de que ele pudesse fazer diferente?
Em primeiro lugar, eu achava que tinha de quebrar um pouco essa polarização PT-PSDB. O Eduardo mostrava que queria fazer a política de um jeito novo, sem ficar negociando carguinho de quinta categoria com o Congresso. Depois que o partido da Marina (Silva) foi vetado pela Justiça Eleitoral, eu disse a ela que se filiasse ao PSB e formasse uma chapa com ele. Além disso, Eduardo tinha escola, a escola de Miguel Arraes, com quem eu convivi no PMDB. Como gestor, também havia se mostrado competente ao fazer um grande governo em Pernambuco. Então, o Eduardo e a Marina como vice, eram a minha grande esperança.
Ao fim das atividades do Congresso em 2014, o senhor  devolveu 1,4 milhão de reais da sua cota de passagens aéreas, algo incomum no Congresso.
Esse dinheiro não era meu. É um dinheiro que eu podia ter usado para exercer minhas atividades  como parlamentar. Mas, como não houve necessidade, eu tinha de devolver.
Quando se tornou vereador em Caxias do Sul no ano de 1958, o senhor imaginava que chegaria aonde chegou?
Jamais. Eu era um professor de direito e atuava no tribunal do júri. Modéstia à parte, eu era bom. Entrei na política por acaso. Nasci em Caxias, mas morava em Porto Alegre. Meu título era de lá. Colocaram-me para ser candidato e eu ganhei. O vereador é o político mais importante que existe, pois fica mais perto do povo. Eu gostava de ser vereador – sobretudo de fazer atividades culturais com debates. Era um sucesso, toda a cidade participava. Em seguida, fui candidato a deputado estadual com pouco mais de 30 anos. Um ano depois veio a ditadura e mudou toda a minha vida. Cassaram e mataram tanta gente no Rio Grande do Sul que praticamente só sobrou a mim para ser o presidente do partido. A partir daí, eu não mais conduzi, fui conduzido.
Como político, qual é sua principal característica?
O que me caracteriza é a coerência. Sou o que sou. Para fazer meu discurso de despedida do Senado, usei como esboço meu discurso de formatura na faculdade. As linhas gerais eram as mesmas. Eu não mudei.
Qual o legado que o senhor deixa para a política?
Não deixo legado. Eu não sou ninguém. Sou apenas velho, com quase 85 anos. Quero continuar fazendo política. Pretendo ir a debates, palestras. Estamos passando por um momento delicadíssimo. Vou procurar a Ordem dos Advogados do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A gente tem de fazer uma pauta de discussões para levar ao governo. Não preciso de mandato no Congresso para isso.
Vai sentir saudade do Senado?
Está acontecendo muita coisa no Brasil. O Senado vai ser quente neste ano que está começando. Dá até vontade de adiar minha saída. Essa história da Petrobras, de empreiteiros presos, de Estados Unidos e Cuba retomando relações... É tanta coisa. Mas vou para casa numa boa.
Entrevista publicada na revista Veja - Páginas Amarelas, edição 2 408, de 14 de janeiro de 2015.
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UM TRIO QUE PÕE MEDO

Por Gustavo Des, via Facebook
Ainda sem as expulsões necessárias e perdendo seu valor a cada dia, a Petrobras (qua anda mais desvalorizadas que as notas do Lula no primário) poderia muito bem abrir suas portas para outra finalidade, que tal dar vida a um "Castelo do terror",  já temos protagonistas certos do horror a ser proporcionado: Graça Foster, Cerveró e Dilma Rousseff. É ou não é um trio que põe medo?!  
Na verdade mesmo sem essa finalidade concretizada, o horror já foi concebido por estes, cada um contribuindo a sua maneira para o pior dos governos, para a pior das campanhas eleitorais, para a pior das situações no Brasil.
Dilma não só não conseguiu cumprir com a meta de responsabilidade fiscal, como teve que chantagear o Congresso com nosso dinheiro para livrar seu topete (como se nossos congressistas já não ganhassem o bastante) e gentilmente nos entrega o maior déficit em 18 anos, um rombo de 17 bilhões que vão para a nossa conta (para o bem dos pobres é claro) e 3 ajustes em menos de dois meses (PARA MAIS) dos impostos que pagamos, talvez seja para a Dilmãe custear seus inúmeros ministérios e manter a companheirada unida, ter mais tempo de tv, e fazer do planalto seu balcão de negócios.
Pensa que é só? Para fortalecer o novo slogan do governo "Pátria educadora" ela corta bilhões da educação, é mesmo muito amor a Pátria. Mas calma, o terror vem em propostas arrojadas também, que tal a "Regulamentação da mídia" e a "Reforma política" calcada nos conselhos populares que como MST e CUT devem existir apenas para fortalecer a malandragem institucionalizada desta exemplar esquerda (centro-esquerda, falsa esquerda ou hipócrita esquerda) brasileira.
Escolha de ministros honestíssimos, união as raposas políticas e a explicita política do toma lá da cá compõem esse novo-velho governo que com a graça de Graça, o olhar clínico de Cerveró, a idoneidade de Lula e o sorriso maroto de Dilma nos espera na escuridão dos apagões.
Ah! E não podemos nos esquecer de Kátia Abreu, musa defensora de uma agricultura "Com muito agrotóxico sim", segundo ela o pobre precisa, pois produtos com agrotóxico são mais produtivos e portanto saem mais barato para o consumidor. Resumindo, pagamos os maiores impostos pelos piores serviços e nossa comida ainda é cheia de veneno.
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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

RECORDE DE GASTOS

O Brasil gastou mais do que arrecadou em 2014, mostram números divulgados pelo governo nesta quinta-feira (29). Esta é a primeira vez, desde o início do Plano Real, em 1994, que o país tem deficit primário. Foram R$ 17,2 bilhões pegos emprestados no mercado para preencher o rombo ao Tesouro Nacional.
Em meio à disputa eleitoral, o ano de 2014 foi de altos gastos. A receita do Brasil também subiu, foi para R$ 1,014 trilhão. No entanto, ficou abaixo das despesas, na casa dos R$ 1,031 trilhão.
Reportagem da Folha indica causas e consequências para a atual situação. A fragilidade econômica, somada à baixa arrecadação tributária, podem explicar em partes o cenário, que faz com que a dívida pública aumente ainda mais.
Com as medidas de reajuste fiscal anunciadas pelo novo governo, a tendência é que esses números não se deteriorem em 2015. Para a nova equipe econômica, os aumentos nas tributações e as limitações em benefícios sociais podem levar o Brasil a um superavit primário de cerca de R$ 66 bilhões.
Da Época
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TENHO MEDO DO PT

Já tem tucano pensando em reeditar o slogan da campanha de 2002, dito pela atriz Regina Duarte: "Tenho medo do PT".
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HOMENAGEM A VISCONDE DE SABUGOSA

Dilma esteve sumida desde sua posse, em 1º de janeiro,  reapareceu recentemente para tentar justificar o injustificável saco de maldades que seu governo presenteou os brasileiros.
Dentre tantos assuntos importantes e de urgência, a presidente Dilma deu mais importância a posse do presidente da Bolívia, Evo Morales e sancionar leis fúteis para o país.
Nesta semana, Dilma sancionou o Dia Nacional do Milho. É algo de tão suma relevância para o Brasil, que fico pensando cá com meus botões, como é que o passemos tanto tempo sem uma data comemorativa dessa.
Mas a presidente Dilma não está sozinha neste vale de datas sem importância, ano passado o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, sancionou lei que cria no estado o Dia do Ovo.
Com essa singela sanção presidencial, Dilma faz uma homenagem – mesmo que indireta  - ao grande personagem de Monteiro Lobato, o Visconde de Sabugosa. Esse a ministra Nilma Gomes não quer banir.
Datas comemorativas desse tipo, tempo muito mais para ser sancionadas pelos governantes.
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GRETA GARBO, QUEM DIRIA...

Artigo de Fernando Gabeira
Na última semana fui a Santa Catarina para documentário sobre a morte do surfista Ricardo dos Santos, foi assassinado com dois tiros nas costas por um soldado da PM embriagado. Constatei que o soldado respondeu a quatro inquéritos, um por tortura. O Ministério Público pediu sua retirada das ruas. Ele não só continuava trabalhando normalmente, como usava a arma oficial, uma ponto 40. Tentei falar com o governador Raimundo Colombo e com o comandante da PM, eles se esquivaram. Não foram ao enterro, não viram a família, só se eclipsaram.
Por que as pessoas do governo não dão as caras nessas circunstâncias? Ao fazer essa pergunta, lembrei-me de Dilma, que também se refugiou no Palácio do Planalto e não apareceu para falar francamente das medidas econômicas e da crise hídrica que já atinge 45 milhões de brasileiros. Nem mesmo para nos consolar pela situação energética (é uma especialista) e dizer quais são os rumos do País nesse campo. Dilma, na sua fase Greta Garbo, quem diria, acabou no Planalto Central.
Não me estou referindo a essas aparições programadas, com blindagem à prova de perguntas elementares. Com os ministros, foi como se aparecesse de chapéu e óculos escuros, se escondendo. Era preciso não apresentar como sua a nova política econômica. Era preciso explicar por que não a mencionou na campanha. Ao contrário, atribuiu as medidas de austeridade aos adversários, caracterizando-as como um saco de maldades.
Sabe-se ainda que o governo pretendia mudar as regras de seguro-desemprego e pensões de viúvas antes das eleições. Mas não teve coragem de mencioná-las. De novo, atribuiu aos adversários conservadores e neoliberais que não gostam dos pobres.
Ainda na Guarda do Embaú, no pé da Serra do Tabuleiro, navegando no Rio da Madre, tentei me colocar a pergunta essencial para mim: por que a esfera da política se descolou da sociedade e os governantes não se sentem responsáveis em reconhecer erros, apontar rumos?
À noite vi pela TV o ministro de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, numa mesa-redonda em Davos defender a política de Dilma. Segundo ele, o País retomou o caminho do meio, entre consumo e investimento, é um movimento normal. O que acontece, na verdade, é o fracasso de uma política econômica que, em certos casos, como o da energia, estimulou o aumento de consumo de forma equivocada, econômica e socialmente.
É no processo eleitoral que encontramos algumas respostas para o descolamento da esfera do governo, permitindo que a presidente paire no limbo dos corredores do palácio enquanto o País espera respostas urgentes. Numa campanha comandada pelo marketing, o governo criou uma novela de quinta categoria em que a heroína, Coração Valente, enfrentava banqueiros que tiravam a comida da mesa dos pobres. Em 2018, criam outro script e, assim, esperam, vencem as eleições de novo. A propósito: o roteirista que imaginou Lula vestido de laranja na frente da Petrobrás deveria ser mandado para a Sibéria.
É simplesmente impossível que Dilma não apareça para comentar a questão da água. Vamos passar tempos difíceis, precisamos de uma política, de curto e de longo prazos, para equacionar o uso desse recurso, muitas vezes mais valioso que o petróleo. Isso se não nos detivermos só no preço do litro, embora em muitos pontos do País o litro da água mineral bata o petróleo também nesse quesito.
É possível que Dilma esteja esperando o fim da temporada das chuvas. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que contava com Deus, que é brasileiro. Deus está vivo e bem em São Gabriel da Cachoeira, usa barba, camisa vermelha e aceita uma graninha. Vamos pôr Deus entre parênteses e enfrentar sozinhos o desafio pela frente. O mundo moderno é precisamente marcado por esta realidade: estamos sós e somos nós os responsáveis pelo nosso caminho. Também por isso os radicais islâmicos nos combatem.
De que adianta argumentar se as esferas se descolaram, o universo da política se tornou opaco e inalcançável? A única saída é recolher as evidências que possam ser um antídoto para o enredo da próxima novela, em 2018.
Nas eleições de 2008 já era um tema importante o registro no tribunal eleitoral do programa de governo. Por esse processo era possível qualificar o estelionato eleitoral. O problema é que os candidatos registram qualquer coisa, às vezes nem registram com antecedência, o que impossibilita o debate.
Uma grande fonte de financiamento, os desvios na Petrobrás, deve secar. Certamente a corrupção vai buscar novas brechas, mas a tendência é um enxugamento das campanhas milionárias. É apenas mais uma das chances que o Brasil tem de se livrar da presença calamitosa do PT, evitar que as campanhas políticas se transformem em panfletos de quinta categoria.
Segunda-feira a oposição volta do recesso. É um verão quente, mas ela devia ter-se reunido mais, falado mais, cobrado mais. Enfim, tudo mais, como nos versos da canção popular. Ainda tem uma chance de desmontar peça por peça a novela marqueteira. Isso será pedagógico.
Por que a Coração Valente apareceu para os ministros, e não para nós, pagadores de impostos, desempregados, os que têm pouca ou nenhuma água, os que acendem vela nos apagões? Dilma prometeu que não haveria mais apagões. Mas já houve um na energia. Há outro, pois o modelo Greta Garbo é, na verdade, um apagão no diálogo com a sociedade.
Tudo isso ocorre num processo crescente de violência nas grandes e médias cidades e até em balneários para descanso e relaxamento. Onde está mesmo aquele plano de integração dos órgãos de segurança, todos conectados, todos online, sabendo até a cor do sapato do assaltante? No Rio, 14 pessoas foram alvejadas por balas perdidas, duas crianças morreram. Todo esse aparato foi comprado para Copa do Mundo e Olimpíada. Por que não funciona, por que a insistência na desconexão, diante de um cenário tão complexo?
Governantes são de Marte. O pouco que sei dos habitantes desse planeta: costumam ser sensíveis ao cheiro de fumaça e acionam o instinto de sobrevivência, desde que devidamente estimulados.
Fernando Gabeira, jornalista, escritor e ex-deputado federal.
Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo em 30/01/2015
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E COVARDES SOMOS NÓS, SUBSECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO DE SP ?

Artigo de Cilene Victor, publicado no site Comunique-se
Há tempo não lia um texto verdadeiramente pueril, pobre em argumentação e amparado em um vocabulário comum às gangues coléricas que se reproduzem por segundos pelas mídias sociais.
Nesta manhã, o subsecretário estadual de Comunicação do governo de São Paulo, Marcio Aith, deu a esperada demonstração do despreparo das autoridades locais para gerenciar a crise hídrica.
Publicado hoje na página ‘A3’ da Folha, o artigo de Aith mais parece uma redação de estagiário, com todo o respeito aos jovens talentosos que tenho tido o privilégio de conhecer fora e dentro da sala de aula.
Para dizer que o governo fez a lição de casa, Aith recorre ao passado recente e passa a citar os “comerciais veiculados pela Sabesp”. Talvez ele não tenha ninguém da área de comunicação de riscos ou de crise para dizer que neste cenário não se faz comercial, isso seria para vender água. No contexto de crise, ou de risco de abastecimento, usamos a expressão “campanhas de comunicação, de educação ou conscientização”. E isso não é apenas uma questão de nomenclatura, mas engloba o tipo de mensagem, o seu propósito, o público-alvo e, claro, tudo adaptado ao contexto.
E ele continua: “em maio [2014], um novo comercial, acompanhado de um esforço didático sobre o uso racional da água, redobrava o alerta”.
Na passagem acima, observa-se que o subsecretário é arrogante o suficiente para não buscar ajuda, por exemplo, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), sua vizinha, inclusive. Vamos tentar entender: material didático dentro de um comercial que tem o propósito de servir de alerta? Como assim? No contexto da crise?
Comercial vende água, material didático é uma ferramenta preciosa da gestão de risco (antes da crise) e alerta, ah, sim, alerta é o que o Estado já deveria ter feito.
Com um terço de página em um nobre espaço na Folha, o subsecretário, mais uma vez, desperdiçou a oportunidade de reparar os erros da sua pasta e, assim, preferiu ofender a imprensa: “o argumento deriva de certa covardia jornalística, de grande cinismo, e não resiste de fatos”.  Texto escrito na frente de um espelho, claro!
Agora, alguém precisa dizer a esse subsecretário que estamos todos aguardando um pronunciamento formal do governador. Em cenários de desastres, de crises, de catástrofes, cabe à autoridade local informar e esclarecer a população.
Precisamos de um plano de contingência. Não é possível aguardar 60 dias para que, em abril, sejamos forçados a viver dois dias com água e cinco sem.
No entanto, nada disso foi formalmente divulgado ou assumido pelas autoridades competentes. Há uma série de rumores, informações que preenchem os espaços vazios deixados pela Comunicação do Estado.  Isso sim é covardia e cinismo, principalmente se lembrarmos das famílias que não têm dinheiro para comprar e, tampouco, estocar água.
Não adianta ofender a imprensa, fomentar a tensão PSDB x PT, mostrar outros problemas (apagão) para amenizar a situação. Também não adianta fazer uso de frases de efeito, cínicas como a que o subsecretário recorreu para fechar sua redação escolar, ops, seu artigo: “o governo do Estado de São Paulo adotou desde janeiro de 2014, e continuará adotando, as medidas que forem necessárias em defesa de sua população”.
Que conversa mais fiada, subsecretário!
Por que não consigo fazer um café ou um arroz com a água que sai da torneira da minha casa? Por que tenho de comprar água mineral? Qual a verdadeira qualidade da água que está sendo servida? Qual a segurança para a população? Por que estou angustiada para saber como será o nosso ano letivo, se teremos aulas? Como fica a situação das famílias mais pobres, das crianças, dos idosos e dos enfermos em um rodízio (que expressão absurda!) 5 x 2?
Se a Subsecretaria de Comunicação soubesse o que é, de fato, comunicação de riscos e de crise, tenho certeza, não usaria o espaço no jornal de maior circulação do país para ofender jornalistas.
Comunicação de riscos reduz ansiedade, inibe a propagação de rumores, responde as dúvidas acima e é amparada no respeito, na transparência e na coragem política para assumir o tamanho, a dimensão e as envergaduras do problema.
Marcio Aith, faça o seu trabalho e convença o governador a fazer um pronunciamento público, sem vergonha, sem constrangimento, pois agora não cabe buscar culpados, precisamos, juntos, sobreviver à crise.
Visite a Defesa Civil do seu Estado, peça ajuda a esses profissionais treinados para situações como esta, talvez este já seja um bom começo.
Cilene Victor, professora dos cursos de comunicação da Faculdade Cásper Líbero.
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CALOTE NA ONU

GENEBRA – O Brasil perdeu seus direitos no Tribunal Penal Internacional (TPI), após acumular mais de US$ 6 milhões em dívidas com a entidade sediada em Haia. A diplomacia brasileira vive uma saia-justa, com a segunda maior dívida de um país nas Nações Unidas. Mas, no caso da Corte, a suspensão é a primeira sofrida pelo Itamaraty desde que os cortes orçamentários começaram no órgão que comanda a política externa do País.
“O Artigo 112(8) do Estatuto de Roma dispõe que o Estado em atraso no pagamento de sua contribuição financeira não poderá votar, se o total de suas contribuições em atraso igualar ou exceder a soma das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores completos por ele devidos”, explicou o Ministério das Relações Exteriores, em nota.
“Em razão do dispositivo acima, desde 1.º/1/2015, o Brasil perdeu temporariamente o direito de voto na Assembleia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional (TPI)”, confirmou.
Hoje, apesar da mudança na chefia do ministério e a nomeação de um novo chanceler para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, nada mudou no que se refere aos atrasos do Brasil com a ONU. Conforme revelado com exclusividade pelo Estado, a dívida do Planalto com o orçamento regular da ONU superava em 2014 pela primeira vez a marca de US$ 100 milhões e apenas os EUA mantinham um buraco superior.
Constrangimento após constrangimento, o governo decidiu enviar um cheque para demonstrar uma boa vontade e o Palácio do Planalto liberou US$ 36 milhões, uma semana antes do discurso de Dilma na Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque.
A ONU agradeceu, mas avisou: mesmo com o pagamento, o Brasil ainda deve quase meio bilhão de reais à ONU.
Documentos da ONU que indicam que, até 3 de dezembro, o Brasil devia US$ 170 milhões à entidade. Isso sem contar com outra dívida de US$ 14 milhões (R$ 36,7 milhões) para a Unesco, que deu o título ao Brasil de segundo maior devedor da entidade cultural da ONU, além de outros US$ 87,3 milhões para as operações de paz dos capacetes azuis.
No caso do TPI, o Brasil é um dos membros fundadores da entidade que representou o maior avanço no direito internacional desde o fim da Guerra Fria.
Na prática, a suspensão impede o Brasil a votar, por exemplo, na escolha de novos juízes. Uma reunião da entidade está sendo planejada para o fim do semestre e outra em novembro.
Mas é o constrangimento político que mais afeta o País que, em diversas ocasiões, usa o discurso do multilateralismo para insistir que apenas dentro do quadro da lei e da ONU é que conflitos podem ser superados.
Do site R7Neews
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O VERÃO QUE DERRETE O BRASIL

Da Época
No Carnaval de 1954, os cariocas foram às ruas fazer troça com os problemas que afligiam a cidade – e a marchinha “Vagalume” resumia bem o espírito daquele momento: Cidade que nos seduz/de dia falta água/de noite falta luz. A marchinha soa atual – e disputará os salões com outras. É o Cerveró/Por favor seja bem-vindo/Sua casa é o xilindró, canta o bloco carnavalesco carioca Lima É o Tio Meu. O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, acusado de corrupção, parece ter-se tornado o símbolo do festival de más notícias que assola o país. Fabricadas aos milhares, máscaras de Cerveró deverão inundar os bailes e blocos do Carnaval de 2015 (Baixe aqui a máscara).
A escolha dos foliões não deixa de ter sua lógica, pois o enredo da corrupção continua em alta. Nos últimos dias, enquanto os reservatórios de água secavam, uma nova enxurrada de denúncias envolveu o ex-ministro José Dirceu no petrolão, escândalo do qual Cerveró é um dos pivôs. Com base nas investigações da Operação Lava Jato, a Justiça quebrou o sigilo da JD Consultoria, empresa de Dirceu. Foram identificados, segundo as investigações, cerca de R$ 4 milhões em depósitos de três empreiteiras denunciadas: R$ 2,3 milhões da UTC,  R$ 725 mil da Galvão Engenharia e uma quantia similar da OAS. Os depósitos em favor de Dirceu reforçam as suspeitas de ligação entre o petrolão e o mensalão. Se a tese se confirmar, ficará claro que empreiteiras e políticos há tempos sambam em harmonia, como mestre-sala e porta-bandeira.
E as más notícias vão desfilando a nossa frente, no verão mais quente dos últimos anos. O aumento da gasolina deverá ser a primeira consequência do ajuste nas contas do governo. A prestação da casa própria também deverá subir. O racionamento de água é uma realidade, e a crise energética mostrou a cara no apagão da segunda-feira, dia 19. A ditar o ritmo, como no enredo de um carnavalesco sádico, está a batucada da corrupção, que não sai do noticiário. Por isso, Cerveró merece a homenagem. Se não quiser comprar a máscara, recorte a ilustração da página ao lado.
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A VERDADE (DE MARTA) DÓI

A revelação mais importante da senadora Marta Suplicy, em sua entrevista ao Estado, é que o ex-presidente Lula queria, sim, e autorizou, sim, o movimento “Volta, Lula” para disputar a Presidência da República no lugar da pupila Dilma Rousseff.
Até por isso, Marta se reuniu com ele “uma, duas, três, quatro vezes”. Não foi para falar de flores. Nem foi para falar bem de Dilma. Muito menos para avalizar o “fracasso” (nas palavras da senadora) da política econômica.
Por delicadeza, ou lealdade, Marta insistiu várias vezes que Lula nunca disse, cabalmente, que seria, ou ao menos que queria, puxar o tapete de Dilma e virar candidato. Mass, para bom entendedor, meia palavra basta. Cá para nós, a fala de Marta foi muito mais do que apenas meia palavra.
O Planalto e Dilma calam. O PT e Lula calam. Mas não há viv’alma afirmando que Marta mentiu e/ou que Lula jamais, em nenhum momento, ficou assanhado com a possibilidade de subir a rampa de novo, nos braços do povo.
O que ocorreu foi mais ou menos uma repetição daquele vai-não-vai sobre mudar a Constituição para permitir o terceiro mandato consecutivo, num movimento que rapidamente – e com excelentes razoes – foi chamdo de golpismo a la Hugo Chávez.
Lula se encantou agora com a ideia de voltar já em 2014, como ficou inebriado naquela época com a ideia de ir ficando, ficando... Mas o senso de oportunidade, as vozes mais sensatas e sua incrível inteligência política acabaram desaconselhando.
Na alma de Lula, nessas duas ocasiões, passou-se algo assim: “Se colar, colou”. Não colou antes, para a re-reeleição. Não colou agora, para o drible em Dilma. E pode não funcionar, de novo, e definitivamente, em 2018.
De qualquer jeito, a fala de Marta expõe ao digníssimo público leito e eleitor o que dez entre dez petistas, peemedebistas e outros menos cotados sabem: Lula perdeu e Dilma sabe que ele teve a coceira da traição. O trauma fica.
Os dilmistas venceram, ocuparam o Planalto e deixaram os lulistas chupando o dedo. Estes, porém, não estão sozinhos. Quem falou sozinha, um tanto ilhada na própria casa, ou no próprio palácio, foi Dilma Rousseff, que tem agora – para gritar, dar bronca, ouvir, discutir, saudavelmente polemizar e, enfim, tirar conclusões – um grupo exclusivo do PT. Ou melhor, de meio PT. O mais do mesmo, sem contraponto.
Num segundo mandato que começa conturbado na economia e na política, Dilma deveria ter aberto o leque para arejar o debate interno. Ela fez o contrario. Fechou-o. deu uma tarefa para Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini, virou as costas e se trancou com seu “núcleo duro”, todo ele petista dilmista.
Mexer nos impostos? Que gastos cortar? Aumento de conta de luz? Evitar Eduardo Cunha na Presidência da Câmara? Ir a Davos ou a  La Paz? A palavra final da presidente em todos esses temas essenciais será dada depois de reunir-se com Mercadante, Miguel Rossetto, José Eduardo Cardozo. Vá lá, com Ricardo Berzoini e Jaques Wagner. Haja diversidade! Viva a controvérsia!
Do lado de fora, ruminando sua ração rala (Portos, Avião Civil, Pesca...), ficaram não só os lulistas ressentidos, mas as feras do PMDB, que, depois das decisões, vão ter de enfrentar os touros e a oposição – a unha.
Repetindo aqui uma das muitas frases de Marta que ainda vai dar muito o que falar, “Lula está totalmente fora”. Pois é... Lula, os lulistas, o PMDB, enquanto a equipe econômica nem está dentro nem está fora. Digamos que esteja na antessala, em fase de teste.
Há muitas verdades na fala de Marta Suplicy. E nenhuma mentira.
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A DISTÂNCIA ENTRE A CANDIDATA E A PRESIDENTE

Artigo de Marina Silva
Tenho divulgado comparações entre as posições da candidata Dilma Rousseff com as decisões, bem diferentes, que ela vem tomando como presidente depois de reeleita. É a distância entre o marketing eleitoral e a realidade. Além disso, tenho usado a expressão “marketing selvagem” para referir-me à campanha caluniosa que se articulava em dois níveis: nos meios de comunicação, formulavam-se as acusações de que queríamos acabar com os programas sociais, entregar o país aos banqueiros, acabar com o pré-sal e vários outros absurdos; na internet, nos carros de som em cidades do interior e até no balcão de atendimento de alguns órgãos públicos, reproduziam-se as acusações sob a forma de boatos ainda mais grotescas, descambando para a perda total de qualquer filtro ético.
Os “desmandamentos” de Dilma podem ser verificados, estão documentados em textos e imagens da candidata. Quanto ao marketing selvagem, esse continua. Ao mesmo tempo em que tenta fazer crer que a campanha foi um primor de delicadeza, com bem-educadas críticas políticas e programáticas, ainda mantém-se remunerado e mobilizado o batalhão de “militantes” e comentaristas na internet, nos meios de comunicação e até nas instituições. E na segunda-feira, em reunião com seus 39 ministros, a presidente Dilma pediu que “travem a batalha da comunicação”, insistindo na divulgação de uma versão oficial para cada posição contrária. Ora, mas a realidade não é a versão mais divulgada. Insistir na mentira não a transforma em verdade. E o fato é o que se faz, não o que se diz. É lamentável ver que o marketing selvagem continua sendo convocado e conta com o apoio institucional para permanecer combatendo adversários e criando uma “realidade” paralela.
Não há problema algum com o debate político, é legítima a defesa de posições e a crítica leal às contradições e equívocos dos outros. Mas a calúnia envenena, aprofunda as divisões, agrava os conflitos e isso só leva ao desastre. De maldade, todo mundo já está cansado. A sociedade civil quer se mobilizar em torno de uma agenda estratégica para o país, a comunidade científica oferece sua contribuição, a população está disposta a participar e seguir orientações que forem debatidas de forma aberta e democrática. O marketing deve ser usado como recurso de informação e mobilização para a ação solidária. Mas sem dourar a pílula, e sem mentira.
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O GOVERNO É UM CORAL DESAFINADO

Da IstoÉ
Autor de 60 livros editados no Brasil e no exterior, entre eles o “Mosca Azul”, que faz uma análise dos primeiros anos do governo Lula, e “Batismo de Sangue”, sobre a ditadura militar e o qual lhe garantiu o Prêmio Jabuti em 1982, Frei Betto é amigo do ex-presidente Lula (PT) há mais de 30 anos e foi assessor especial durante seu mandato, quando coordenava o programa Fome Zero. Quando o projeto foi descontinuado, Frei Betto ficou desanimado e deixou o governo. “Hoje sou um feliz indivíduo não governamental”, diz ele. Combatente da ditadura militar e a favor da luta armada contra o regime, o dominicano ficou preso durante quatro anos, entre 1969 e 1973.
Na sua luta pela democracia, Frei Betto foi um dos maiores entusiastas da criação do PT. Espalhou Comunidades Eclesiais de Base por todo o País estimulando a participação política dos católicos. Hoje, está desiludido com o partido. Frei Betto recebeu a reportagem da ISTOÉ na sexta-feira 9, no Convento Santo Alberto Magno, em Perdizes, onde mora. Frade Dominicano e adepto da Teologia da Libertação, Frei Betto falou sobre o novo Ministério de Dilma e o classificou como “um coral desafinado”. Ele também fez uma análise dos 12 anos do governo do PT e relatou as suas decepções com o partido. “O PT tinha um projeto que se baseava em três pilares: ser o partido dos mais pobres, ser o partido da ética na política e ser o partido das reformas estruturais que conduziriam o Brasil a uma sociedade socialista. Os três pilares foram abandonados”, lamentou.
ISTOÉ - A presidente Dilma Rousseff surpreendeu ao indicar ministros com pouco ou quase nenhuma afinidade ideológica com o PT, como Kátia Abreu para a Agricultura, George Hilton para o Esporte e Joaquim Levy para a Fazenda. Qual a opinião do sr. sobre o novo ministério?
FREI BETTO - É um coral desafinado. De um lado se tem uma equipe econômica que entra com tesoura na mão e prometendo aumento de impostos, sem especificar esses impostos. Vão onerar quem? A maioria da população? Vamos continuar com o mesmo sistema tributário que onera o consumidor e não o rentista e o produtor? Enfim, o Brasil precisa de uma reforma tributária urgente, que seja progressiva, quem ganha mais que pague mais.
ISTOÉ - Por que o sr. acredita que o governo é um coral desafinado?
FREI BETTO - Desse coral desafinado, os desafinamentos partem da Kátia Abreu (Agricultura) e do Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário). Em seguida, vem o ministro do Esporte, George Hilton, que diz que pode não entender profundamente de esporte, mas entende de gente. Então ele está no lugar errado, deveria estar no setor de psicologia do Ministério da Saúde ou no cerimonial do Itamaraty, que sempre exige pessoas que entendam de gente para poder, mais ou menos, agradar a todos. Outra dissonância é que o governo Dilma acaba de receber oficialmente o relatório da Comissão da Verdade, nomeado por ela, e o ministro Jaques Wagner, da Defesa, vem declarar que não assume o governo com lanterna voltada para o passado. Ora, se há uma coisa que o Brasil precisa, e urgentemente, é jogar muita luz sobre o seu passado.  
ISTOÉ - Fora esses ministros citados, o sr. observa alguma harmonia no novo ministério?
FREI BETTO - A única harmonia que eu sinto no ministério é justamente entre a equipe econômica e a Casa Civil. Principalmente quando a Casa Civil, antes da posse, anunciou cortes que vão prejudicar, sobretudo, os mais pobres. O seguro-desemprego, o seguro do pescador, o auxílio desemprego e a pensão morte. Espero que a presidente Dilma dê continuidade aos programas sociais, cumpra suas promessas de campanha, mas é difícil a gente ter muito otimismo quando se recebe a notícia de que já foram cortados R$ 7 bilhões da educação. Então, a pátria educativa proposta no seu discurso de posse já entra um pouco manca com esse corte considerável numa das três ou quatro prioridades brasileiras.
ISTOÉ - As indicações da presidente Dilma não constituem novidade em se tratando dos anos do PT no poder. Sempre foram feitas concessões aos aliados.
FREI BETTO - Escrevi dois livros para analisar o início do governo do PT: “Mosca Azul” e o “Calendário do Poder”, os dois publicados e editados pela Rocco. Eu creio que o PT fez uma escolha de governabilidade equivocada: depender do Congresso. Com esses partidos, com o mau-caratismo de muitos desses partidos, o PT hoje é refém desse Congresso conservador, retrógrado e elitista.
ISTOÉ - Qual seria o outro caminho?
FREI BETTO - Na minha modesta opinião, o PT deveria ter feito o caminho do Evo Morales. Ele não tinha apoio do Congresso e buscou apoio dos movimentos sociais. Os movimentos sociais que elegeram o Lula e que elegeram a Dilma. As quatro eleições dessas figuras públicas dependeram, sobretudo, da mobilização dos movimentos sociais. E a história do PT é resultado dos movimentos sociais. Mas os movimentos sociais foram escanteados. O PT vai pagar um preço muito alto por essa ambiguidade que carrega, de ser expressão dos movimentos populares, mas querer assegurar a governabilidade exclusivamente pelas alianças partidárias. Nós sabemos que essas alianças têm um preço. Muitas delas são espúrias e daí a maculação do partido na questão ética.  
ISTOÉ - O sr. acredita que o segundo mandato da presidente Dilma vai ser diferente do primeiro em que sentido?  
FREI BETTO - Diria que o primeiro mandato teve avanços muito significativos, como as políticas sociais e o programa Mais Médicos. Espero que a presidente Dilma aprimore o seu primeiro mandato nesse segundo. Vejo, pela constituição do ministério, pelos cortes e pela dificuldade de crescimento, que teremos anos turbulentos pela frente. Sem dúvida nenhuma serão anos de greves, de manifestações, de reivindicações e de governo tentando um equilíbrio entre as forças antagônicas da nação, porque é curioso que não falta dinheiro para o pagamento da dívida pública, mas falta dinheiro para uma série de necessidades prioritárias como a questão da educação e da saúde. Faço votos que a presidente Dilma tenha suficiente coragem e lucidez para dar prioridade ao social e não ao mercado.
ISTOÉ - O sr. chegou a afirmar que o programa Fome Zero, no qual trabalhou, era emancipatório e que o Bolsa Família, apesar de ser bom, teria caráter compensatório. Algumas pessoas falam que o PT usa o Bolsa Família como troca de voto. A sua opinião sobre o programa é a mesma?
FREI BETTO - É uma acusação infundada. Qualquer governo que fizesse uma política social receberia a mesma acusação de seus opositores. Evidentemente todo governo espera que os benefícios que ele presta à população sejam revertidos em votos para o seu partido, para a sua linha, para a sua continuidade no poder. Ninguém quer largar o poder. O Bolsa Família é muito bom, mas o Fome Zero era ótimo. No Fome Zero as famílias estariam, em três ou quatro anos, emancipadas de qualquer dependência do governo federal, em condições de produzirem a própria renda. No Bolsa Família, não, elas se perenizam na dependência oficial. São raras aquelas que devolvem o cartão e conseguem emancipação. O Fome Zero supunha uma cesta de 60 atividades importantes na estrutura social brasileira, entre elas a reforma agrária. Já o Bolsa Família não implica essas reformas.  
ISTOÉ - Por que o Fome Zero não deu certo?
FREI BETTO - Primeiro porque propunha uma reforma na estrutura do Brasil. Até o PT, que historicamente sempre propôs fazer reformas, a começar pela agrária, que a meu ver é a mais importante e urgente, não fez nenhuma delas, nem a tributária nem a política. E o Fome Zero ameaçava uma reforma. Uma reforma que toca no agronegócio, no latifúndio, que é a reforma agrária. Segundo, o dinheiro não passava pelas prefeituras. O dinheiro ia diretamente para as famílias, que eram selecionadas pelos comitês gestores eleitos em cada município brasileiro pelos movimentos sociais. Os prefeitos se rebelaram. Foram ao Palácio do Planalto e disseram à Casa Civil: “Se não formos nós quem controlamos o cadastro,  vamos sabotar o governo”. E o governo cedeu. Destruiu 2.500 comitês gestores. As pessoas ficaram muito revoltadas, porque havia sido todo um processo pedagógico de educação política para eleger esses representantes que não tinham vínculos com A ou B ou partidos. E hoje o prefeito pode perfeitamente usar como moeda eleitoreira a inclusão ou a exclusão do cadastro.
ISTOÉ - O sr. denunciou isso?
FREI BETTO - Briguei até o limite das minhas forças, mas chegou a um ponto em que eu entreguei o boné. E hoje sou um feliz ING, um indivíduo não governamental.
ISTOÉ - O senhor chegou a dizer: “Penso que o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder.”
FREI BETTO - Continuo dizendo isso. O PT tinha um projeto que se baseava em três pilares: ser o partido dos mais pobres, da ética e organizador das classes trabalhadores. Isso está nos documentos fundadores do PT. Ser o partido da ética na política e das reformas estruturais que conduziriam o Brasil a uma sociedade socialista. Os três pilares foram abandonados.
ISTOÉ - E qual a avaliação, então, que o sr. faz sobre os 12 anos de PT no poder federal?
FREI BETTO - O PT faz um governo bom, tanto que eu votei no Lula, votei na Dilma e votaria de novo, por uma razão simples. O meu critério de avaliação de qualquer político ou política é em que medida isso beneficia ou não os mais pobres. Esse é o meu critério que tirei do Evangelho de Jesus. O meu termômetro é como está a vida dos mais pobres e, no Brasil, a vida dos mais pobres melhorou muito nos últimos 12 anos. Está havendo uma descamarotização do acesso ao consumo. E talvez um dos equívocos que o PT tenha cometido seja justamente esse. Ele permitiu, e isso foi bom, um acesso ao consumo de bens pessoais. Agora, cadê os bens sociais? A saúde, a educação, a segurança, o transporte público? O governo está devendo os bens sociais. E daí as manifestações de 2013 e 2014.
ISTOÉ - Mas sr. começou o livro “Mosca Azul” agradecendo por seu pai não estar aqui para ver o governo do PT.
FREI BETTO - A minha esperança era muito maior. Apesar disso eu acho que o PT é muito melhor do que qualquer alternativa apresentada até agora. Mas falta muito. Falta mexer nas estruturas brasileiras. E falta ter um projeto a longo prazo de emancipação do nosso país.
ISTOÉ - O sr. é amigo do ex-presidente Lula há mais de 30 anos. Como funciona essa relação hoje?
FREI BETTO - Nós temos um pacto: não falar de relações pessoais. Nós somos amigos, sempre fomos, mas não falo sobre isso.
ISTOÉ - O Lula pode vir a se candidatar novamente em 2018. O sr. mesmo chegou a dizer isso. E também disse que o Lula sempre terá o seu voto. Isso permanece?
FREI BETTO - Desde que ele esteja a favor dos mais pobres. Se amanhã ele falar que volta para atender exclusivamente ao mercado, não terá o meu voto. Em 2018, Lula só não será candidato se acontecer a desgraça de ele morrer antes. E se isso acontecer haveria uma grande briga interna para saber quem seria o candidato. Bem, é certo que os próximos quatro anos são da presidente Dilma e tudo indica que os outros próximos oito anos serão do presidente Lula. Será o primeiro político a governar o Brasil 16 anos.
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

ABALANDO O MERCADO

"Se estão [o setor] com medo, vão ficar com mais medo ainda". Com essa frase o ministro da Educação, Cid Gomes, fez tremer o melhor setor da Bolsa no ano passado. O tom forte adotado pelo ministro provocou uma queda de até 20% das ações das educacionais nesta quinta-feira (22) e "tirou" R$ 3,223 bilhões em valor de mercado das companhias, segundo cotação das 16h16 (horário de Brasília).
Para o ministro, é melhor adotar uma linha dura do que de deixar a qualidade escapar por mais acesso às faculdades, conforme ressaltou, em reportagem do Valor. Ele defende que os ajustes no Fies, anunciados no fim do ano passado e que tem sido um pesadelo para as empresas do setor, não é um "passo para trás", é uma medida pensando para frente e em qualidade.
Não foi para menos as ações da Estácio e Kroton lideram as perdas do Ibovespa com quedas de 15,15% e 9,60%, a R$ 16,46 e R$ 12,33, respectivamente, segundo cotações das 16h16 (horário de Brasília). Fora do índice, os papéis da Ser Educacional (SEER3) e Anima (ANIM3) caíam 16,42% e 12,91%, a R$ 15,17 e R$ 21,51. Na mínima do dia, as ações da Estácio - que mais recuaram hoje - atingiram perdas de 19,07%, a R$ 15,70.
O ministro defendeu ainda a elevação da nota de corte para o acesso aos recursos do Fies. "Só vou aceitar financiar matrícula nos cursos bons, que tenham conceito excelente". Conforme apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, os presidentes das maiores companhias do setor não foram recebidos pelo Ministro da Educação ontem, mas falaram com técnicos do ministério.
Em meio às falas do ministro, os representantes das grandes companhias tentam contornar a situação. Enquanto um grupo de grandes companhias de ensino superior ainda negocia com o MEC sobre as novas regras do Fies, outra entidade que representa empresas de ensino privado entrou com um processo na Justiça contra mudanças no Fies. A Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) protocolou um mandado de segurança coletivo contra o Ministério.
Via Ceará  News, com informações da InfoMoney.
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UM GOVERNADOR BEM PAGO

O estado do Paraná passa por problemas para pagar funcionários e fornecedores neste começo de ano, mas o salário do governador não vai ser atingido pela crise. Desde o dia 1º de janeiro o novo salário do chefe do Executivo paranaense passou de R$ 29,4 mil para R$ 33,7 mil. Com isso, os salários da vice governadora e dos secretários também serão reajustados.
 Segundo a legislação, Cida Borghetti (Pros) deve receber 95% dos vencimentos do governador, o equivalente a pouco mais de 32 mil reais. Já os secretários passam a ganhar 23 mil e 600 reais mensais, o equivalente a 70% dos vencimentos de Richa. Entre os secretários estão a esposa do governador, Fernanda Richa, secretária da Família, e o irmão, Pepe Richa, secretário de Infraestrutura e Logística.
Uma Lei estadual de 2007 determina que o governador do Paraná deve receber o mesmo salário dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, o teto do funcionalismo público. Com isso, o chefe do executivo paranaense é o governador mais bem pago de todo o Brasil.
Os governadores da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB) já vetaram o aumento dos próprios salários. No entanto, o mesmo não deve acontecer no Paraná. De acordo com a assessoria de imprensa do governo do estado, a Lei de 2007, ou seja, anterior ao governo Richa, determina o pagamento dos vencimentos desta forma e os dirigentes do executivo não devem abrir mão do benefício. A assessoria informou ainda que Richa “doa parte do salário para instituições beneficentes”, mas não revelou o valor nem a instituição.
Do site da rádio Band News FM, Curitiba
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REEMBOLSO INDEVIDO

O vereador paulistano, o comunista  Netinho de Paula (PCdoB), usou verba a que tem direito como parlamentar para custear parte das despesas que assumiu nas eleições passadas, quando foi candidato a deputado federal.
De acordo com a prestação de contas realizadas por ele, ao menos R$ 27, mil foram repassado à empresa PN Mídia, em 2014 para pagar serviços de criação e elaboração do site da campanha.
Sem o menor constrangimento, Netinho enviou à Câmara pedido de reembolso pelos gastos que teve com a PN Mídia.
Leia mais.
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Ô PROMESSA SEM JEITO !

O projeto da Refinaria Premium II, no Ceará, teve seu futuro investimento descontinuado pela Petrobras. O anúncio veio por meio do balanço do terceiro trimestre divulgado na madrugada desta quarta-feira (28). Prometido pelo ex-governador Cid Gomes e confirmado pelo ex-presidente Lula durante discurso no próprio estado em 2008, o projeto foi anunciado como uma redenção para a economia local, mas não vai sair do papel.
Na época, o governo do Estado, então chefiado por Cid, havia investido pelo menos R$ 600 milhões para viabilizar o projeto. O Porto do Pecém, na Região Metropolitana de Fortaleza, recebeu investimentos, a água foi garantida, uma comunidade indígena seria reassentada, uma rodovia foi construída e um terreno de dois mil hectares foi comprado.
Para confirmar o sonho, o então presidente Lula até voltou ao Ceará no fim de seu mandato, em 2010, para lançar o que seria a pedra fundamental, mas depois de sete anos de espera, a Petrobras anunciou a descontinuidade do projeto da refinaria. A suspensão é resultado do cenário econômico e, também, da crise de recursos e de corrupção que assola a estatal.
Prejuízos
A descontinuidade do projeto é uma péssima notícia para a economia local. Principalmente para o setor industrial, provavelmente a área da economia que mais seria beneficiada com a refinaria. Prejuízos também para a educação, pois um curso de Engenharia de Petróleo foi criado no Ceará após o anúncio da Premium II. A primeira turma se forma neste ano.
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FIM DO SEGURO DESEMPREGO ?

Em meio a um ajuste fiscal já estimado em R$ 45,8 bilhões, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o modelo do seguro-desemprego está "completamente ultrapassado". A afirmação foi dada em entrevista ao jornal britânico Financial Times durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Levy utilizou o benefício como exemplo para defender a necessidade de cortes e reformas em diversas áreas. Entretanto, ele fez questão de reforçar que o Bolsa Família não será atingido.
 "O mundo está mudando e é hora do Brasil mudar", afirmou o ministro, acrescentando que as políticas anticíclicas têm limite, "especialmente quando você vê que as duas maiores economias do mundo (EUA e China) estão também mudando sua postura".
 Para Levy, o País precisa de reformas estruturais mais do que de estímulos: "Assim que pusermos a casa em ordem, a reação será positiva", defendeu. Em março, novas regras para a obtenção do seguro-desemprego passam a valer e podem restringir o acesso de mais de 2 milhões de trabalhadores, segundo cálculo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O jornal ainda destaca que há dúvidas se o ministro da Fazenda receberá apoio inequívoco da presidente Dilma Rousseff, conhecida por seu perfil intervencionista. Levy rebateu a afirmação: "a presidente Dilma é uma pessoa muito decidida e entende as escolhas".
Ele acrescentou dizendo que "não está sozinho no governo."
Fonte: Jornal News
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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O DIRETOR SUMIU

Artigo de Marta Suplicy, publicado na Folha de S.Paulo
Tenho pensado muito sobre a delicadeza e a importância da transparência nos dias de hoje. Temos vivido crises de todos os tipos: crise econômica, política, moral, ética, hídrica, energética e institucional. Todas elas foram gestadas pela ausência de transparência, de confiança e de credibilidade.
Se tivesse havido transparência na condução da economia no governo Dilma, dificilmente a presidente teria aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação de descalabro. Não estaríamos agora tendo de viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento de impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir.
Assim que a presidenta foi eleita, seu discurso de posse acompanhou o otimismo e reiterou os compromissos da campanha eleitoral: "Nem que a vaca tussa!".
Havia uma grande expectativa a respeito do perfil da equipe econômica que a presidenta Dilma Rousseff escolheria. Sem nenhuma explicação, nomeia-se um ministro da Fazenda que agradaria ao mercado e à oposição. O simpatizante do PT não entende o porquê. Se tudo ia bem, era necessário alguém para implementar ajustes e medidas tão duras e negadas na campanha? Nenhuma explicação.
Imagina-se que a presidenta apoie o ministro da Fazenda e os demais integrantes da equipe econômica. É óbvio que ela sabe o tamanho das maldades que estão sendo implementadas para consertar a situação que, na realidade, não é nada rósea como foi apresentada na eleição. Mas não se tem certeza. Ela logo desautoriza a primeira fala de um membro da equipe. Depois silencia. A situação persiste sem clareza sobre o que pensa a presidenta.
Iniciam-se medidas de um processo doloroso de recuperação de um Brasil em crise. Até onde ela se propõe a ir? Até onde vai o apoio à equipe econômica?
Para desestabilizar mais um pouco a situação, a Fundação Perseu Abramo, do PT, critica as medidas anunciadas, o partido não apoia as decisões do governo e alguns deputados petistas vociferam contra elas. Parte da oposição, por receio de se identificar com a dureza das medidas, perde o rumo criticando o que antes preconizou.
O PT vive situação complexa, pois embarcou no circo de malabarismos econômicos, prometeu, durante a campanha, um futuro sem agruras, omitiu-se na apresentação de um projeto de nação para o país, mas agora está atarantado sob sérias denúncias de corrupção.
Nada foi explicado ao povo brasileiro, que já sente e sofre as consequências e acompanha atônito um estado de total ausência de transparência, absoluta incoerência entre a fala e o fazer, o que leva à falta de credibilidade e confiança.
É o que o mercado tem vivido e, por isso, não investe. O empresariado percebe a situação e começa a desempregar. O povo, que não é bobo, desconfia e gasta menos para ver se entende para onde vai o Brasil e seu futuro.
Acrescentem-se a esse quadro a falta de energia e de água, o trânsito congestionado, os ônibus e metrôs entupidos, as ameaças de desemprego na família, a queda do poder aquisitivo, a violência crescente, o acesso à saúde longe de vista e as obrigações financeiras de começo de ano e o palco está pronto.
A peça se desenrola com enredo atrapalhado e incompreensível. O diretor sumiu.
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DINDIM PARA CÁ, DINDIM PARA LÁ

Da Época
No começo de 2013, o empresário Walter Faria, dono da Cervejaria Itaipava, a segunda maior do país, queria expandir seus negócios ao Nordeste. A primeira parte do plano envolvia a construção de fábricas na região. Ele optou por erguer a primeira em Alagoinhas, na Bahia, em razão de generosos incentivos fiscais. Faltava o dinheiro para a obra, e conseguir crédito não seria uma missão fácil. Faria e seu Grupo Petrópolis, que controla a Itaipava, tinham nome sujo na praça – e uma extensa ficha policial. Deviam R$ 400 milhões à Receita, em impostos atrasados e multas por usar laranjas, além de notas fiscais. Em 2005, Faria fora preso pela Polícia Federal, acusado de sonegação fiscal. Ficou dez dias na carceragem da PF. Três anos depois, em outra operação da PF, Faria acabou denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção ativa, formação de quadrilha e por denúncias caluniosas. Segundo as investigações, Faria armara um esquema para retaliar os fiscais da Receita que haviam autuado sua cervejaria anos antes. Iria difamá-los. Contratara para o serviço ninguém menos que o operador do mensalão, Marcos Valério Fernandes de Souza. A PF encontrou R$ 1 milhão na sede da Itaipava em São Paulo – dinheiro que, segundo a acusação, serviria para pagar chantagistas. Valério foi preso. Mas Faria perseverou.
Diante dessa ficha, qual banco toparia emprestar dinheiro para Faria e suas empresas? O Banco do Nordeste, o BNB, criado no governo de Getúlio Vargas para ajudar no desenvolvimento econômico da região – mas que, desde então, é usado com alarmante frequência para ajudar no desenvolvimento econômico dos políticos que mandam nele. Desde que o PT chegou ao poder, em 2003, o BNB, custeado com R$ 13 bilhões em dinheiro público, vem sendo aparelhado pelo partido. As previsíveis consequências transcorreram com regularidade desde então. Escândalos, escândalos e mais escândalos. O último deles, em 2012, revelado por ÉPOCA, derrubou a cúpula do banco após a PF entrar no caso – e deflagrou uma cascata de investigações dos órgãos oficiais, como a Receita, o Tribunal de Contas da União e o MP. Apesar disso, o aparelhamento petista no BNB perseverou, como Faria perseverara. Ambos perseveraram porque partidos como o PT precisam de empresários como Walter Faria, e empresários como Walter Faria precisam de partidos como o PT.
No segundo mandato de Lula, Faria, segundo fontes do PT e no BNB, tornou-se próximo dos líderes do partido, como o ex-presidente da República e o tesoureiro informal da legenda, João Vaccari. E manteve essas boas relações. Pelas leis da política, a história que se narra a seguir – fundamentada em documentos internos do BNB, relatórios do TCU e entrevistas com os envolvidos – era inevitável. Ainda no começo de 2013, Faria conseguiu obter do BNB um empréstimo de R$ 375 milhões para construir a fábrica na Bahia. Naquele momento, a nova cúpula do BNB, sob o trauma recente do escândalo que derrubara a diretoria anterior, relutava em fazer negócio com Faria. O então presidente do banco, Ary Joel Lanzarin, fez questão de que Faria apresentasse garantias sólidas para o empréstimo. Exigiu uma garantia conhecida como carta-fiança, em que outro banco garante cobrir o valor devido em caso de calote. Para quem empresta, como o BNB, é um ótimo negócio – praticamente zera o risco de calote. Para quem recebe o dinheiro, nem tanto. Uma carta-fiança tem um custo anual, que varia entre 0,5% e 3% do total do empréstimo.
Durante as tratativas, Faria reclamava. Dizia que perderia muito dinheiro com a carta-fiança. Mas capitulou. Ao fim, obteve dois empréstimos, ambos sob as mesmas condições. O de R$ 375 milhões seria destinado à construção da fábrica em Alagoinhas. Outro, fechado depois, em abril de 2014, no valor de R$ 452 milhões, serviria para construir outra fábrica da Itaipava, em Pernambuco. No total, portanto, Faria obteve quase R$ 830 milhões do BNB. Cada empréstimo tinha como principal garantia uma carta-fiança, que cobria integralmente o valor emprestado pelo BNB. Faria teria juros baixos, 11 anos para pagar e dois anos de carência para começar a devolver o dinheiro. Os técnicos do BNB classificaram a operação como segura, em virtude da carta-fiança.
Em conversas com os diretores do BNB, no entanto, Faria não desistia de rever a garantia da carta-fiança. Queria porque queria que o banco abdicasse dela, topando ter como principal garantia as fábricas construídas com o dinheiro emprestado. Faria dizia, nesses encontros, que a exigência da fiança lhe custava o equivalente a 2% do valor dos empréstimos – o equivalente a quase R$ 17 milhões ao ano. Para o BNB, era um pedido aparentemente impossível de atender, como seria para qualquer banco privado. Ainda mais porque, pelo contrato de empréstimo, os juros eram pré-fixados. Ou seja: o BNB não poderia compensar a garantia pior com um aumento nos juros do empréstimo. Segundo as regras do Banco Central e três especialistas de três grandes bancos, se o BNB aceitasse as condições de Faria, teria de rebaixar internamente a classificação de qualidade do empréstimo. Essa medida é obrigatória e forçaria o BNB a reservar dinheiro próprio para pagar ao menos parte da dívida de Faria, caso ele desse calote. No jargão do mercado, isso se chama “provisionamento”. Nenhum banco toparia fazer isso. É um péssimo negócio. “Nunca vi alguém aceitar algo parecido”, diz um economista que trabalha com esse tipo de operação para um grande banco brasileiro.
Mas o impossível é sempre uma possibilidade na política brasileira. Ainda em abril de 2014, Ary Lanzarin, o presidente que tentava moralizar o BNB, deixou o cargo. O PT pressionava para voltar ao comando absoluto do banco. A presidente Dilma Rousseff aceitou. As diretorias do BNB foram entregues novamente a afilhados de políticos petistas, como o ministro da Defesa, Jaques Wagner. Procurado por ÉPOCA, Wagner preferiu não comentar o assunto. O jogo mudara.
Meses depois, no auge da campanha à reeleição de Dilma e dos esforços de arrecadação dos petistas, Faria conseguiu o impossível. No dia 10 de setembro, protocolou o pedido de dispensa da fiança do empréstimo da fábrica na Bahia. Uma semana depois, o pedido foi analisado – numa velocidade espantosa para os padrões de um banco tão lento e burocrático quanto o BNB. Num intervalo de pouco mais de 24 horas, o pedido passou por cinco instâncias do BNB e foi aprovado pelo Conselho de Administração do banco, segundo os documentos obtidos por ÉPOCA. Estava no papel: o BNB aceitara, em tempo recorde, abdicar de uma garantia 100% segura por outras mequetrefes, se comparadas à carta-fiança. De quebra, teve de reservar R$ 3,6 milhões no balanço – o tal “provisionamento” – para cobrir o mau negócio que fechara.
Alguns técnicos do banco não gostaram da solução encontrada. Para demonstrar insatisfação, deixaram claro que a dispensa da fiança não seria inócua para o BNB. Em um documento interno obtido por ÉPOCA, funcionários afirmaram: “O nível de risco atualmente corresponde a 8,75 (AA), quando considerada a fiança bancária. Quando considerada a garantia hipotecária do complexo industrial, passa a ser 6,05 (B)” (leia abaixo). Fica claro que a substituição da fiança só interessava mesmo a Faria. A decisão do BNB também contrariou frontalmente uma das principais cláusulas que permitiram a assinatura do contrato: “Outras instituições financeiras de primeira linha estarão comprometidas com o projeto durante o prazo de 11 anos, visto que a fiança que comporá a garantia da operação terá vigência por todo o período do financiamento”.
No dia 29 de setembro, apenas 12 dias após seu Grupo Petrópolis obter o impossível no BNB, Faria depositou R$ 5 milhões na conta da campanha de Dilma. Até o dia 3 de outubro, a campanha dela receberia outros R$ 12,5 milhões. No total, Faria doou R$ 17,5 milhões. Tornou-se, assim, o quarto maior doador da campanha da presidente. É aproximadamente esse valor que Faria gastaria com as fianças anuais dos dois empréstimos. O pedido para que o segundo empréstimo, o da fábrica em Pernambuco, também seja dispensado da carta-fiança será feito em breve. Segundo fontes na cúpula do BNB, está encaminhado para ser aprovado.
Procurado por ÉPOCA, o Grupo Petrópolis afirmou, por meio de nota, que a dispensa da fiança gerou economia para a empresa, mas não disse quanto. Afirmou ainda que a fiança foi substituída por outras garantias com “valores até maiores”. Ainda de acordo com a nota, Faria conhece Vaccari, mas negou ter pedido ajuda a ele ou a qualquer pessoa para que a fiança usada no empréstimo do BNB fosse dispensada. Disse, ainda, que todas as doações à campanha da presidente Dilma cumpriram as regras eleitorais. Também por meio de nota, Vaccari disse jamais ter tratado do interesse de qualquer empresa com o BNB. O presidente do BNB, Nelson de Souza, afirmou que a substituição da fiança está prevista nas regras do banco e que nunca esteve com o empresário Walter Faria. Disse, no entanto, que o empresário já esteve com dirigentes do banco para tratar assuntos do interesse dele.
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NASCER PARA A LIBERDADE

Artigo de Fernando Gabeira
O atentado ao “Charlie Hebdo” me colheu num trabalho no Maranhão. Tive tempo ainda de escrever um artigo geral sobre o tema. Deixei para domingo, dia mais ameno, algumas reflexões pessoais. Bruscas mudanças no mundo, às vezes, nos levam a examinar nosso lugar nele. Minha família veio do Líbano, um país com histórico de conflitos religiosos. Eram cristãos, minha avó tinha cruzes tatuadas na testa e no braço. Isso sempre me impressionou e, ao longo dos anos, novos conflitos religiosos me parecem uma tristeza que não tem fim.
Por várias razões criei uma certa resistência em estudar o Islã. Cheguei a discursar sobre o perigo do Islã político, porque, mesmo sem estudá-lo a fundo, sinto que a fusão do estado com a religião sempre termina em prisão, tortura e morte. Ainda mais com visão tão estreita sobre mulher e sexualidade. Agora vejo, de todos os lados, uma advertência para dissociar o Islã da violência, sob o perigo de parecer racista e islamofóbico.
Essa advertência se articula com outra, sutil: a de que as religiões não devem ser criticadas, que elas devem ficar fora do raio de alcance da liberdade de expressão. Esse é o problema. Vivemos num mundo democrático em que a blasfêmia não é um crime. O “Charlie Hebdo”, de uma certa forma, mostrava onde o terrorismo se nutria no Islã. Num dos desenhos na porta do paraíso, Maomé advertia: parem com as bombas, estamos em falta de virgens.
É uma maneira de enfatizar como a visão do martírio e suas recompensas inspiram homens-bomba. De todos os discursos, o que mais mexeu com minha intuição foi o do presidente do Egito, que não só denunciou as interpretações do Islã, mas afirmou que era necessária uma revolução religiosa para integrá-lo na pluralidade do mundo moderno. A capacidade do Islã de se rever no mundo, algo que os católicos fazem, sem traumas, com o Papa Francisco, pode ser uma luz no fim desse longo túnel.
Alguns sinais animadores existem tanto na Europa como nos Estados Unidos, onde parte da comunidade islâmica define o terrorismo como inimigo comum. O combate direto ao Estado Islâmico é dado por muçulmanos que arriscam suas vidas. O número de mortos em atentados é muito maior na região do que no Ocidente. Mesmo com a derrota do terrorismo ainda ficaria no ar um ponto em que é difícil separar o islamismo da violência. O total enlace do estado com a religião tende a transformar os infiéis em criminosos.
A fatwa, pena de morte para o escritor Salman Rushdie, foi decretada por autoridades religiosas. Na Arábia Saudita, o blogueiro Ralf Badawi foi condenado a mil chibatadas. Minha hipótese sobre o Islã é a mesma que tenho sobre o marxismo. Muita gente diz que o marxismo é perfeito, mas os equívocos foram obra do socialismo realmente existente. Não havia nada errado com o texto, mas sim com os intérpretes. Como textos corretos podem levar a interpretações tão violentas e autoritárias? Não haverá alguma coisa neles que, de certa forma, estimula massacres?
No passado, concordava com Sartre na sua benevolência com as ações terroristas na Argélia. E rejeitava a posição de Camus. Hoje, compreendo que errei. O próprio Camus, em “Os justos”, mostra que os terroristas que iam matar o arquiduque Francisco Ferdinando, há um século, adiaram o ataque porque havia crianças na carruagem. Agora, estamos diante de terroristas que não se importam com a presença de crianças, sob o argumento de que crianças são mortas no Oriente Médio.
Jornais americanos não publicaram os desenhos do “Charlie Hebdo”. Dizem que seu estilo é outro, não publicam material contra religião. Mas, depois do atentado, é um erro jornalístico. Aqui no Brasil, mesmo com a clavícula quebrada, saí exibindo o filme “Je vous salue, Marie”. Não gostava tanto do filme, no final estava até meio cansado dele. O que estava em jogo não era minha afinidade com o filme de Godard. Claro que uma coisa é o contexto de “Je vous salue, Marie”, Sarney e Igreja Católica. Outra, Maomé e os radicais islâmicos. Nesse sentido, tive sorte quando minha avó com a cruz na testa fez a mala e veio para o Brasil. Mas o Brasil, através do seu governo, me desaponta nesse drama de alcance mundial. Quando Dilma propôs um dialogo com o Estado Islâmico, na ONU, percebi que o governo vive numa outra época. A nota formal de condenação do atentado parece o exercício de um dever burocrático.
A família veio para o país certo, apesar do governo. Quantas vezes com o Minc e Sirkis fizemos manifestações pela paz com judeus e árabes juntos no Saara? Isso não quer dizer que não exista intolerância religiosa no âmbito nacional. Nem tentativas de associar o Estado à religião, o que enfatizei em artigo sobre as eleições no Rio. Olhando para trás, no momento de barbárie, vejo como a ideia da liberdade individual, livre de doutrinas políticas ou religiosas, é uma trincheira a se defender com todos os riscos. Embora os riscos não sejam tão altos aqui nos trópicos.
Artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 18/01/2015
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