quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A DISTÂNCIA ENTRE A CANDIDATA E A PRESIDENTE

Artigo de Marina Silva
Tenho divulgado comparações entre as posições da candidata Dilma Rousseff com as decisões, bem diferentes, que ela vem tomando como presidente depois de reeleita. É a distância entre o marketing eleitoral e a realidade. Além disso, tenho usado a expressão “marketing selvagem” para referir-me à campanha caluniosa que se articulava em dois níveis: nos meios de comunicação, formulavam-se as acusações de que queríamos acabar com os programas sociais, entregar o país aos banqueiros, acabar com o pré-sal e vários outros absurdos; na internet, nos carros de som em cidades do interior e até no balcão de atendimento de alguns órgãos públicos, reproduziam-se as acusações sob a forma de boatos ainda mais grotescas, descambando para a perda total de qualquer filtro ético.
Os “desmandamentos” de Dilma podem ser verificados, estão documentados em textos e imagens da candidata. Quanto ao marketing selvagem, esse continua. Ao mesmo tempo em que tenta fazer crer que a campanha foi um primor de delicadeza, com bem-educadas críticas políticas e programáticas, ainda mantém-se remunerado e mobilizado o batalhão de “militantes” e comentaristas na internet, nos meios de comunicação e até nas instituições. E na segunda-feira, em reunião com seus 39 ministros, a presidente Dilma pediu que “travem a batalha da comunicação”, insistindo na divulgação de uma versão oficial para cada posição contrária. Ora, mas a realidade não é a versão mais divulgada. Insistir na mentira não a transforma em verdade. E o fato é o que se faz, não o que se diz. É lamentável ver que o marketing selvagem continua sendo convocado e conta com o apoio institucional para permanecer combatendo adversários e criando uma “realidade” paralela.
Não há problema algum com o debate político, é legítima a defesa de posições e a crítica leal às contradições e equívocos dos outros. Mas a calúnia envenena, aprofunda as divisões, agrava os conflitos e isso só leva ao desastre. De maldade, todo mundo já está cansado. A sociedade civil quer se mobilizar em torno de uma agenda estratégica para o país, a comunidade científica oferece sua contribuição, a população está disposta a participar e seguir orientações que forem debatidas de forma aberta e democrática. O marketing deve ser usado como recurso de informação e mobilização para a ação solidária. Mas sem dourar a pílula, e sem mentira.
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