A lição vem de Luis Carlos Prestes, que por sua vez a tirou
de Lenin: um grupo intelectualizado, com conhecimentos profundos de política,
economia, História, sociologia e congêneres,
forma um partido e imprime nele
diretrizes sólidas capazes de sensibilizar e
conduzir o proletariado. Aos poucos,
esse grupo vai traduzindo e
repassando para a militância as noções básicas de seus objetivos. O
proletariado percebe serem aqueles
os seus sentimentos e anseios.
Esforça-se para compreender o
máximo da teoria que lhe é oferecida. Deve
estudar. Absorver os ensinamentos, acoplá-los à sua vida e, aos
poucos, assume a direção do partido,
exprimindo, pela ação, a busca
da igualdade e do bem comum que
representa, maioria que é.
O singular está em que o PT começou mais ou menos assim,
trinta anos atrás. Um núcleo de
intelectuais, inclusive da Igreja, envolveu lideranças proletárias, inclusive
a maior delas, o Lula. Imaginaram
aproveitar o potencial humano do metalúrgico e de seus companheiros, repassando
a eles conhecimento e deles recebendo
lições práticas de suas necessidades e de sua capacidade de luta e de
resistência. Assim formou-se o PT, entusiasmando a juventude e assustando as elites.
O diabo é que concluímos, hoje, que o Partido dos Trabalhadores deixou de ter
trabalhadores e cansou de ser partido. Ao conquistar o poder,
transformou-se num aglomerado de burocratas empenhados em afastar-se do
proletariado, sem falar nos aproveitadores que se aproximam dos cofres
públicos. Com o passar do tempo das lutas, os intelectuais foram saindo de mansinho, depois da Igreja. Ganha uma viagem a Cuba quem citar um
pensador de renome, um intelectual do tipo Florestan Fernandes orientando o PT. Hoje, o ideal dos companheiros é alçar-se à
classe média ou chegar acima dela, de preferência
como funcionário público e dirigente de uma empresa estatal. O próprio Lula aburguesou-se. Encontram-se nas bancadas do partido uns poucos ex-sindicalistas, mas nenhum
operário eleito nessa condição.
Quem quiser explicar o sufoco porque passa o governo Dilma
deve buscar as origens na metamorfose
petista. Aliás, ela nunca foi do PT, até o dia em que precisou tratar de sua
carreira política. Era brizolista. Por isso faz caretas sempre que telefona
alguém do PT.
Ainda agora, quando a presidente da República propôs ao
Congresso a redução do salário-desemprego ou a extinção de pensões para viúvas
abaixo dos 45 anos, onde se encontrava o partido? Qual a proposta que seus ministros, seus deputados e senadores apresentaram nos
últimos doze anos para ampliar direitos sociais? Fica-se apenas no programa de
renda mínima do isolado Eduardo Suplicy. O resto é assistencialismo, do tipo
bolsa-família, porque conquistas, mesmo, sobram as implantadas por Getúlio
Vargas, muitas suprimidas ao longo das últimas décadas.
Nada como o tempo para passar, já dizia o poeta. O sonho da
fundação do PT desfez-se de forma
melancólica. Tornou-se um partido
igual aos outros. O proletariado dá-se por feliz se mantiver o trabalho de ridícula remuneração. O operário não acredita
quando o avô lembra que já houve estabilidade no emprego.
Assistimos a um novo surto de maldades, entre os sucessivos praticados com regularidade pelas
elites e pelos governos. Nos tempos recentes, Eurico Dutra congelou por cinco
anos o salário-mínimo. Depois Castello
Branco suprimiu a estabilidade e o salário-família. Fernando Henrique optou por
criar empregos no estrangeiro e
demissões no Brasil. Pois não é que agora, em pleno governo do PT, Dilma ameaça
direitos do trabalhador? Adota o mesmo modelo neoliberal do mundo desenvolvido,
ou seja, para os subdesenvolvidos
superarem suas crises, nada como demissões em massa, supressão de
direitos sociais, cortes de gastos públicos, endividamento externo, aumento de
impostos e de preços de combustíveis, transportes, luz e
gás.
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