O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, durante
fala de mais de uma hora em reunião do diretório nacional do PT nesta
quinta-feira, 29, que a mudança de discurso do governo da presidente Dilma
Rousseff após as eleições é um dos motivos que faz a atual crise política se
arrastar por muito mais tempo. Outro aspecto, acrescentou, é a dificuldade na
construção da coalizão política.
"Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a
eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso
discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer", afirmou.
Segundo ele, a construção de uma coalização ampla com vários partidos que, no
espectro ideológico são considerados conservadores ou de direita, também contribuiu
para prolongar a crise.
"É com essa gente que temos que governar. E são esses
companheiros que têm que participar do governo para a gente construir não só a
nossa governança, mas a nossa maioria dentro do Congresso", afirmou o
ex-presidente, reconhecendo que o "ponto ideal" seria ter ganhado as
eleições apenas com partidos de esquerda, "só com companheiros que pensam
igual a gente".
Para além da coalizão e da mudança de discurso, o
enfraquecimento dos partidos também tem aprofundado a crise política. Na
avaliação deles, as direções e os líderes partidários já não têm mais o poder
que tinham antes. "Líderes de partidos da Câmara já não conseguem mais
liderar sua bancada. Quem está negociando sabe que está muito mais difícil
fazer acordo com a direção de partidos ou com os líderes", afirmou o
petista.
De acordo com Lula, os partidos funcionam hoje baseados em
grupos de interesse. Ele afirmou que "os companheiros" só aceitam
acordos após o atendimento a reivindicações, "às vezes uma reivindicação
que não é importante". "Lamentavelmente é assim a vida política do
País num regime de coalizão", afirmou.
O ex-presidente acrescentou que, nesse contexto, há ainda um
"elemento novo", que é a força da influência do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre os deputados. "Verdade ou mentira (a força
do peemedebista), o dado concreto é que estamos vivendo uma situação de certa
estranheza de comportamento no Congresso", afirmou. "E obviamente o
PT virou uma espécie de sapinho feio, ou seja, a coisa rejeitada".
Da Agência Estado, via Diário do Poder
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