segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

DECISÃO TOMADA

Da coluna Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deve deixar pasta nesta semana. Interlocutores da equipe de Dilma Rousseff dizem que ele já tomou a decisão.
Afirmam ainda que, embora a presidente preferisse que ele continuasse onde está, desta vez Cardozo, que já ameaçou pedir demissão em outras oportunidades, não deve voltar atrás.
Os dois já teriam inclusive conversado sobre a eventual demissão. Não está descartada a possibilidade de ele ser aproveitado em outro cargo.
A saída do titular da Justiça, se efetivada, ocorrerá em um dos momentos mais delicados do governo Dilma: bombardeada por denúncias que podem envolver a sua campanha eleitoral, em especial depois da prisão do marqueteiro petista João Santana, a presidente está cada vez mais isolada e distante até mesmo do PT, partido que a elegeu e ao qual é ainda filiada.
Cardozo deixa o cargo também em uma semana conturbada, em que novas delações premiadas podem ocorrer na Operação Lava Jato e em meio a rumores de que estariam sendo preparadas buscas e apreensões em propriedades ligadas ao ex-presidente Lula e a seus familiares.
Nas últimas semanas, a pressão sobre Cardozo, vinda do PT, de partidos da base do governo e de representantes de setores empresariais, chegou a limites "intoleráveis", segundo revelam amigos próximos do ministro.
Ele estaria sofrendo críticas "injustas tanto da direita quanto da esquerda".
E teria concluído que "ajuda mais saindo do governo do que permanecendo no cargo", afirma um desses interlocutores à Folha.
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TROCA-TROCA PARTIDÁRIO

A primeira semana da temporada de troca-troca partidário na Câmara dos Deputados registra mais de 40 migrações de deputados entre as legendas, já confirmadas ou em estado final de negociação. Em várias delas, o principal atrativo é a oferta ao deputado do controle de fatia do fundo partidário, a verba pública que será daqui em diante a principal fonte de recursos das campanhas eleitorais.
A maior parte das mudanças até agora tem como personagens membros do chamado baixo clero, o grupo majoritário de deputados com pouquíssima expressão política nacional. Entre os mais conhecidos está o presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (BA), que deixa o PSD para ir para o PR.
O convite partiu do presidente do partido, Alfredo Nascimento, que prometeu o diretório regional da Bahia. Araújo garante que estava bem no PSD, mas diz que, como dirigente partidário, ganha mais "autonomia" e "prestígio". "Há de convir que dirigir o partido é muito melhor", disse o deputado.
No comando do PR da Bahia, Araújo não só terá liberdade para nomear correligionários nos diretórios do Estado, como também caberá a ele comandar a divisão do fundo partidário. O parlamentar nega que essas tenham sido suas motivações.
Outra figura conhecida é o polêmico deputado Jair Bolsonaro (RJ), que sai do PP e se filia na semana que vem ao PSC, em evento num dos maiores salões da Câmara, o Nereu Ramos.
As mudanças são pulverizadas entre as siglas e, até agora, não têm impactado a correlação de forças governo-oposição. Nem têm sido suficientes para mudanças relevantes nas grandes siglas.
A janela do troca-troca partidário vai até 19 de março. Emenda à Constituição aprovada pelo Congresso no ano passado permite que nesse período qualquer um dos 513 deputados federais troque de legenda sem risco de perder o mandato por infidelidade.
Tendo migrado do PSC para o PT do B antes da janela –devido a uma divergência com seu ex-partido na composição da comissão do impeachment–, o deputado Silvio Costa (PE) diz que a tendência é de que os nanicos PT do B e PTN reúnam mais de duas dezenas de deputados, o que permitirá a essas legendas ter estrutura na Câmara e voz nas negociações legislativas e com o Executivo.
Ele nega que o PT do B tenha oferecido verba do fundo para os deputados que vão entrar na sigla –até agora Macedo (CE), ex-PSL, e Uldurico Pinto (BA), ex-PTC–, mas diz que a prática é corrente. "Soube que está havendo esse tipo de negociação, e pesada."
O fundo partidário será a principal fonte de receita das campanhas devido à decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir empresas de financiar candidatos. O fundo distribuiu R$ 868 milhões a 35 partidos em 2015.
A emenda da janela estabelece que, ao mudar de partido, o deputado não leva para a nova legenda a respectiva verba resultante de sua eleição – o fundo é distribuído entre os partidos com base nos votos que seus candidatos a deputado federal tiveram nas últimas eleições.
As siglas, contudo, dizem que irão no Supremo para tentar alterar essa regra. Até o final da janela partidária, a tendência é que o troca-troca supere a marca de 10% das 513 cadeiras da Câmara.
A migração de políticos entre as siglas existiu sem amarras até 2007, quando o Tribunal Superior Eleitoral editou regras de fidelidade para tentar barrar a prática. As brechas na lei e a morosidade da Justiça, porém, fizeram com que a medida nunca tenha tido eficácia completa.
Em 2015, o próprio STF afrouxou essas regras ao liberar trocas para cargos majoritários –presidente, governadores, senadores e prefeitos.
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AS DESVENTURAS DO GOEBBELS BRASILEIRO

Editorial, IstoÉ
O marqueteiro João Santana atuou nos últimos anos como um ministro da propaganda dos governos petistas de Dilma e Lula. Foi ele quem na ultima eleição presidencial em 2014 conseguiu com enganosas peças de campanha ludibriar a opinião pública. Vendeu promessas de um futuro dourado. Escamoteou as falcatruas e deslizes grosseiros do Governo. Apelou para táticas de terror contra os adversários de Dilma.
Construiu enfim o clima de guerra eleitoral maculando impiedosamente a reputação daqueles que se interpunham ao projeto de perpetuação no poder do Partido dos Trabalhadores. Foi uma espécie de Joseph Goebbels, o dirigente das comunicações de Hitler que ajudou a difundir a ideologia nazista e seus falsos anseios de prosperidade para a Alemanha.
Aqui no Brasil Santana fez o diabo, como pediram seus chefes! E saiu regiamente pago pela tarefa. Somente na disputa de 2014 embolsou extraordinários R$ 88,9 milhões e conseguiu recolocar sua pupila no Planalto para um segundo mandato. Desde então Santana foi tratado como o principal estrategista, o “cérebro” por trás da imagem de Dilma e conselheiro-mor do restrito círculo de confiança da presidente.
Na semana passada, Santana e sua mulher, Mônica Moura, foram parar atrás das grades, acusados de receberem irregularmente cerca de US$ 7,5 milhões em contas no exterior. A polícia suspeita que o dinheiro tenha saído diretamente do caixa da Petrobras, numa triangulação que pode confirmar as graves irregularidades no financiamento da campanha presidencial de Dilma. Em sua defesa o casal admitiu o crime de caixa dois, mas tentou desvincular tal receita dos trabalhos de marketing executados aqui para o Partido.
Documentos da força-tarefa da Lava-Jato mostram, no entanto, que ao menos nove depósitos do operador de propinas da Petrobrás, Zwi Skornicki, foram feitos na conta do marqueteiro. Três desses repasses – cada um da ordem de US$ 500 mil – teriam sido realizados entre julho e novembro de 2014, em plena disputa presidencial. Procuradores da justiça dizem que nunca haviam conseguido provas tão contundentes quanto às dessa fase das investigações.
Anotações dos envolvidos que falam em liberar dinheiro para “Feira” (codinome do baiano João Santana, dada a sua origem na cidade de Feira de Santana) e que “a conta na Suíça pode chegar a ela” (numa referência direta a presidente), engrossam o caldo de documentos que pode levar a cassação do mandato. O juiz Sergio Moro já havia encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral um relatório demonstrando o uso de dinheiro desviado da Petrobras para financiar as campanhas petistas.
As criminosas movimentações financeiras de Santana entram nesse contexto como mais um elo da cadeia. Com ele, a Operação Lava Jato sobe em definitivo a rampa do Planalto, apontando o uso de recursos ilícitos para a eleição de Dilma. Mais grave: coloca o TSE na incômoda situação de ter, à revelia, servido de “lavanderia” a recursos superfaturados do petrolão - cujas sobras iam diretamente para o pagamento de gastos “legais” de campanha como a do marqueteiro.
Inúmeros governadores e prefeitos já perderam seus mandatos por bem menos. Ignorar as evidências de abuso de poder econômico justamente na campanha presidencial de 2014 – e deixar de punir exemplarmente os beneficiários -, pode arranhar de maneira irreparável a credibilidade do Tribunal.
O marqueteiro e sua mulher, Mônica Moura, repetiram agora os mesmos métodos do antecessor Duda Mendonça, que admitiu ter recebido via caixa dois, também em conta no exterior, o pagamento pelos serviços prestados na primeira eleição do ex-presidente Lula.
A crônica e sistemática propensão a práticas criminosas por parte desses senhores, ao longo dos anos de gestão petista, só pode ser explicada por uma forte sensação de impunidade que se alastra no Partido. O sorriso escrachado da senhora Mônica, ao ser presa, como a zombar de todos os brasileiros, é o retrato perfeito desse sentimento. Nem Goebbels faria melhor!
A sociedade só espera que nunca mais o Brasil seja saqueado pelo Partido dos Trabalhadores, como acontece há mais de uma década, quando tesoureiros, marqueteiros, presidentes da sigla e candidatos eleitos transformaram a agremiação num bando de larápios sedentos por destruir o estado, as estatais e a dignidade da Nação. 
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HISTÓRIA DE INSPIRAÇÃO

Uma catarinense filha de uma escrava liberta começa aos poucos a ser "redescoberta" nacionalmente como ícone do movimento de mulheres negras. Antonieta de Barros foi a primeira parlamentar negra brasileira, eleita em 1934.
Educadora, jornalista e política, Antonieta junta em sua trajetória, na primeira metade do século 20, três bandeiras caras ao Brasil do século 21: educação para todos, valorização da cultura negra e emancipação feminina.
A história de Antonieta inspira movimentos negros e de mulheres em Santa Catarina, onde nasceu, mas aos poucos chega a outros cantos do país.
O documentário Antonieta, da cineasta paulista Flávia Person, lançado no fim de 2015 em Florianópolis, tem previstas várias exibições em março, quando se comemora o mês da mulher. E leva o nome de Antonieta de Barros o prêmio nacional para jovens comunicadores negros criado pela Secretaria da Igualdade Racial do governo federal.
Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta foi a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina e é reconhecida como a primeira negra brasileira a assumir um mandato popular.
Sua mãe, escrava liberta, trabalhou como doméstica na casa do político Vidal Ramos, pai de Nereu Ramos, que viria a ser vice-presidente do Senado e chegou a assumir por dois meses a Presidência da República.
Por intermédio dos Ramos, Antonieta entrou na política e foi eleita para a Assembleia catarinense em 1934, dois anos depois de o voto feminino ser permitido no país - acontecimento que acaba de completar 84 anos.
Antes da política, a educação foi sua grande bandeira.
Graças ao esforço da mãe, ela e a irmã, Leonor, concluíram o que então era conhecido como "curso normal", que formava professoras.
Antonieta se formou em 1921 e, no ano seguinte, fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para alfabetização da população carente e dirigido por ela até sua morte, em 1952.
Ela foi professora de Português e Literatura, e diretora do atual Instituto de Educação.
Criou, ainda, o jornal A Semana e dirigiu o periódico Vida Ilhoa, em Florianópolis. Também assinava crônicas com o nome de Maria da Ilha.
Nunca se casou.
Referência
"Quando vim morar em Florianópolis, tinha uma imagem do Sul como uma região branca, que valorizava as influências italiana, alemã e açoriana. Mas descobri essa mulher negra incrível e quis contar a história dela", diz a cineasta Flávia Person.
Ela foi aos poucos descobrindo quem era a mulher cujo nome aparecia em vários pontos da capital catarinense, de um túnel a uma escola estadual.
Antonieta, o filme, foi selecionado num edital do governo catarinense e ganhou um financiamento de R$ 60 mil.
É todo feito com imagens que Flávia localizou em acervos variados, como os da Casa da Memória de Florianópolis e do Museu da Escola Catarinense, além do baú de fotos da família, cedidas pelo sobrinho-neto de Antonieta, Diógenes de Oliveira.
O documentário conta a vida de Antonieta e algumas de suas batalhas. Numa delas, na Assembleia catarinense, um opositor acusou-a de estar fazendo "intriga de senzala" - ela respondeu assumindo sua condição de mulher e educadora negra.
Hoje o auditório da Assembleia leva seu nome, bem como uma comenda oferecida pela Câmara Municipal de Florianópolis.
A escola Antonieta de Barros está fechada desde 2007, segundo a Secretaria de Educação estadual, devido a problemas estruturais - o prédio é tombado pelo patrimônio histórico.
Segundo a pasta, há um projeto de restauração para transformá-lo em um espaço com biblioteca, local para exposições e salas de aula.
Invisibilidade histórica
"No Sul do Brasil, negros sempre tiveram situação de invisibilidade histórica, e personagens como Antonieta ajudam a reduzir essa invisibilidade", afirma Alexandra Alencar, doutora em Antropologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e criadora do projeto "Outras Antonietas", voltado para professoras negras.
A iniciativa, financiada graças a um edital da Fundação Palmares, órgão do governo federal, pesquisa experiências de professoras negras no estado, reúne trabalhos acadêmicos e debate a condição da mulher negra na educação.
"Professoras negras relatam vivências muito variadas. Muitas se sentem uma ilha dentro de sua escola. Outras contam que qualquer assunto entendido como 'coisa de negro' é encaminhado a elas, como se a história negra fosse um interesse pessoal delas, e não um tema que deveria ser tratado pela escola como um todo", relata.
Fora de Santa Catarina, outros projetos e coletivos voltados para a cultura negra, como o Afreaka, de São Paulo, valorizam a figura de Antonieta de Barros.
"Antonieta foi protagonista em uma época em que as mulheres, ainda mais as mulheres negras, eram relegadas à total submissão e desempenhavam papel coadjuvante na sociedade", afirma Gisele Falcari, professora de Literatura numa escola técnica de São Paulo e colaboradora do Afreaka.
Na avaliação dela, Antonieta rompeu os estereótipos ligados ao gênero, à etnia e à classe social, mas ainda não tem, assim como outras mulheres negras, o reconhecimento merecido - embora a professora admita que isso está mudando.
Reconhecimento
Desse esforço de resgate do nome de Antonieta de Barros faz parte o prêmio criado pela Secretaria da Igualdade Social e batizado em homenagem a ela, voltado para jovens comunicadores negros e negras.
O edital foi lançado no ano passado, mas, por problemas técnicos, acabou cancelado e será relançado este ano.
A secretaria federal afirma que Antonieta, além de ter sido a primeira mulher negra a assumir um mandado popular, teve ações de comunicação, educação e política importantes.
Há um texto sobre ela no livro Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica, financiado pelo órgão.
Ao ver essas iniciativas Valdeonira Silva dos Anjos, de 80 anos, diz que se sente em um processo de reencontro com uma velha conhecida.
Professora negra aposentada, Valdeonira estudou na escola dirigida por Antonieta de Barros e graduou-se em História. Também foi uma das fundadoras do grupo que deu origem à Amab (Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros).
"Antonieta é um exemplo. Como mulher negra, foi pioneira em várias áreas e nunca se omitiu", lembra.
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domingo, 28 de fevereiro de 2016

PERDAS DE HOMENAGENS

Sarney, Murad, Castelo e Lobão são nomes comuns em prédios públicos de escolas e outras áreas do Estado do Maranhão. Porém, essa realidade vai mudar.
Em 2015, ao assumir o governo, Flávio Dino (PCdoB) proibiu que o patrimônio estadual receba o "batismo" de pessoas vivas e também vetou que os bens públicos sejam nomeados em homenagem a pessoas responsabilizadas por violações aos Direitos Humanos durante o regime militar.
Esta foi uma das primeiras medidas anunciadas pelo governador em 1º de janeiro do ano passado.
Um ano depois, Flávio Dino por meio do decreto 31.4690, assinado no dia 4 de janeiro e publicado no Diário Oficial do Estado de 14 de janeiro, trocou as denominações de 37 estabelecimentos da rede estadual de ensino que homenageavam pessoas vivas e deu a eles nomes de personalidades que já morreram - professores, religiosos, políticos (como os ex-deputados João Evangelista e Júlio Monteles) e até mesmo o cientista alemão Albert Einstein.
O campeão em perdas de homenagens foi o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que exerceu também os cargos de governador do Maranhão, deputado federal, senador da República e presidente do Congresso Nacional - Sarney também é membro das academias de letras do Brasil (ABL) e do Maranhão (AML).
No total, o ex-presidente do Senado perdeu sete homenagens em diferentes municípios maranhenses. Sarney não foi o único a perder as homenagens.
Os ex-governadores Edison Lobão - atual senador e ex-ministro de Minas e Energia - (três), Roseana Sarney (três), João Alberto de Souza (duas) e João Castelo (uma) também tiveram seus nomes trocados, assim como a ex-secretária de Educação Leda Tajra (cinco), o ex-deputado federal e ex-proprietário da Rádio e TV Difusora Magno Bacelar, o ex-vice-presidente da República e ex-governador de Pernambuco Marco Maciel.
Além dos políticos, também perdeu a homenagem o poeta Ferreira Gullar, membro da Academia Brasileira de Letras.
Militares
Em março de 2015, Flávio Dino, alegando não haver motivos para se homenagear "ditadores", tirou os nomes dos ex-presidentes militares de vários estabelecimentos de ensino. Na oportunidade, os ex-presidentes Castelo Branco, Emílio Garrastazu Médici e Arthur Costa e Silva perderam as homenagens conferidas em dez escolas e cidades diferentes.
O governador justifica em seu decreto que promoveu as mudanças em obediência aos os incisos III e V do Art. 64 da Constituição Estadual. Segundo o governo, a medida também pretende regular algo que é constitucionalmente previsto e que deveria ser cumprido conforme a Lei Federal n.º 6.454, de 1977.
Via UOL, as informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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É O FIM DO CAMINHO

Artigo de Fernando Gabeira
“A liberdade é vermelha”, escreve num post de Paris Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana. É uma alusão a uma trilogia de filmes inspirados nas cores da bandeira francesa. O primeiro deles se chamou “A liberdade é azul”. É compreensível que Mônica Moura tenha escolhido o vermelho entre as cores da bandeira. E que tenha escolhido a liberdade do lema da Revolução Francesa, que também conta com fraternidade e igualdade.
João Santana e Mônica ficaram milionários levantando a bandeira vermelha, no Brasil, na Venezuela, com as campanhas agressivas do PT e do chavismo. Com os bolsos entupidos de dólares, a liberdade é vermelha, pois à custa da manipulação dos eleitores latino-americanos, João Santana e Mônica Moura podem viajar pelo mundo com um padrão de vida milionário.
Mas chega o momento em que a cadeia é vermelha, e Mônica Moura não percebeu essa inversão. Nas celas da Polícia Federal e do presídio em Curitiba, o vermelho predomina. José Dirceu, Vaccari, o PT é vermelho. Marcelo Odebrecht, a Odebrecht é vermelha, basta olhar seus cartazes.
Uma vez entrei na Papuda e filmei uma cela vermelha com o número 13. Os condenados do mensalão estavam a ocupar o presídio. A divulgação da imagem foi um Deus nos acuda, insultos: as pessoas não têm muita paciência para símbolos. Mônica Moura fala esta linguagem. Se tivesse visto o take de seis segundos da cela vermelha, ela iria buscar outra cor para a liberdade.
A situação de Dilma e a do chavismo convergem para um mesmo ponto: tanto lá quanto aqui a aspiração majoritária é derrubá-los do poder. João Santana, num país onde se valoriza a esperteza, foi considerado um gênio. Gênio da propaganda enganosa, dos melodramas, dos ataques sórdidos contra adversários. O único critério usado é a eficácia eleitoral avaliada em milhões de dólares, certamente com taxa extra para os postes, Dilma e Haddad.
Sua obra continental se espelha também no resultado dos governos que ajudou a eleger: Dilma e Maduro são rejeitados pela maioria em seus países. O que aconteceu na semana passada é simplesmente o fim do caminho. Com abundantes documentos, cooperação dos Estados Unidos e da Suíça, não há espaço para truque de marqueteiros.
O dinheiro de Santana não veio de fora. Saiu do Brasil. Saiu de uma empresa que tinha negócios com a Petrobras, foi mandado para o exterior por seu lobista Zwi Skornicki. E saiu também pela Odebrecht.
A Lava-Jato demonstrou que a campanha de Dilma foi feita com dinheiro roubado da Petrobras. E agora? Não é uma tese política, mas um fato, com transações documentadas.
Na semana passada ouvi os panelaços por causa do programa do PT. O programa foi ao ar um dia depois da prisão de João Santana. Mas o tom era o mesmo, uma mistificação para levantar os ânimos. E um pedido de Lula: parem de falar da crise que as coisas melhoram.
Em que mundo eles estão? Em 2003, já afirmei numa entrevista que o PT estava morto como proposta renovadora. Um pouco adiante, com o mensalão, escrevi “Flores para los muertos”, mostrando como uma experiência que se dizia histórica terminou na porta da delegacia.
Na semana passada, escrevi “O processo de morrer”. Não tenho mais saída exceto apelar para “O livro tibetano dos mortos”, que dá conselhos aos que já não estão entre nós. O conselho é seguir em frente, não se apegar, não ficar rondando o mundo que deixaram.
Experimentei aquele panelaço como uma cerimônia de exorcismo: as pessoas saíam às janelas e varandas para espantar fantasmas que ainda estavam rondando as casas. Poc, poc, poc. Na noite escura, o silêncio, um grito ao longe: fora PT. E o PT na tela convidando para entrar nas fantasias paradisíacas tipo João Santana, já trancafiado numa cela da PF em Curitiba.
Simplesmente não dá para continuar mais neste pesadelo de um país em crise, epidemia de zika, desemprego, desastres ambientais, é preciso desatar o nó, encontrar um governo provisório que nos leve a 2018.
De todas as frentes da crise, a que mais depende da vontade das pessoas é a política. Se o Congresso apoiado por um movimento popular não resolver, o TSE acabará resolvendo. Com isso que está aí o Brasil chegará a 2018 como um caco, não só pela exaustão material, mas também por não ter punido um governo que se elegeu com dinheiro do assalto à Petrobras.
É hora de o país pegar o impulso da Lava-Jato: carro limpo, governo derrubado, de novo na estrada. É uma estrada dura, contenções, recuperação da credibilidade, quebradeira nos estados e cidades. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
A semana, com a prisão do marqueteiro do PT e os dados sobre as transações financeiras, trouxe mais claramente o sentido de urgência. E a esperança de sair desta maré.
Artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 28/02/2016
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PARCERIA ESDRÚXULA

Da Exame
São Paulo – A ex-representante do grupo feminista Femen Sara Winter revelou através de sua página no Facebook que está se reunindo com membros da família de deputados Bolsonaro para discutir planos políticos.
Antes inimiga ferrenha da bancada conservadora, Sara agora se descreve sua ação como uma "luta contra a inversão de valores na sociedade provocada por movimentos sociais de esquerda tais como: feminismo, movimento negro, movimento LGBT e combatente ferrenha da ideologia de gênero."
Em vídeo postado nesta tarde (25), ela abre espaço a um discurso do deputado federal Jair Bolsonaro — que a chama de "curada", por ter abandonado o grupo — para que os espectadores "pensem" sobre como minorias servem para jogar os brasileiros uns contra os outros, quando o Brasil deveria se unir num momento como o atual de crise.
"Não adianta falar que é tu feminista, que é LGBT, que tu é machão, está todo mundo em uma situação incontrolável", diz Bolsonaro, em vídeo. "O Brasil está acima das nossas vontades, dos nossos comportamentos, (...) senão vai estar todo mundo na miséria, na desgraça."
"Pensa sobre isso", resume Sara, ainda no vídeo.
Em outro post na página, ela finaliza: "Todo e qualquer cidadão de bem deve se envolver de corpo e alma na política do nosso país. Temos que fazer pressão pras coisas mudarem."
Segundo a coluna Radar On-Line, da revista VEJA, Sara está negociando seu ingresso no PSC, partido para onde o próprio Bolsonaro deve migrar, e quer o "apoio do deputado para sua estreia na política".
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PROPAGANDA ENGANOSA

Charge do Sinfrônio
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

PT, 36 ANOS

Artigo de Ruy Fabiano
O PT, fulminado por uma avalanche de escândalos que não consegue explicar – e que, a rigor, dispensam explicações -, socorre-se num argumento único: é vítima de uma sórdida campanha da mídia para criminalizá-lo.
Ora, se há uma instância em que o partido, que celebra este fim de semana seus 36 anos, ainda encontra defensores é exatamente na mídia - impressa, falada, televisada e digitalizada (esta sustentada com dinheiro público).
A mídia não criminalizou o PT – e, sim, o PT criminalizou a política. Mais: indiferente às falcatruas fiscais do governo Dilma e às denúncias de que sua reeleição foi nutrida com dinheiro roubado da Petrobras, alega que a tentativa de depô-la, via impeachment ou via TSE – ou seja, dentro das normas do Estado democrático de direito -, tem como fundamento evitar a eleição de Lula em 2018.
O partido já foi mais inteligente em seus argumentos. Antes de mais nada, o Ibope acaba de constatar, em pesquisa, que confirma as anteriores, que 61% dos brasileiros asseguram que, em hipótese alguma, votariam em Lula. Ainda que todos os demais votassem – e não é o caso -, não teria como se eleger.
O panelaço de terça-feira, em que Lula falou em rede de TV, demonstra que o Ibope não errou – foi até moderado.
Nenhum partido e nenhum presidente da República foram mais festejados pela imprensa que PT e Lula, não obstante terem chegado ao poder não exatamente imaculados.
O prontuário começou bem antes da chegada ao Planalto, com o assassinato dos prefeitos Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT (Campinas), em setembro de 2001, e de Celso Daniel (Santo André), em janeiro de 2002, casos ainda hoje à espera de desfecho. Em ambos, são nítidas as digitais do PT.
Dois meses depois de Lula assumir a presidência da república, em março de 2003, estourou o escândalo Waldomiro Diniz. Era o subchefe da Casa Civil, homem de confiança de José Dirceu, que desempenhava a função de “articulador parlamentar”. Foi flagrado pedindo propina ao bicheiro Carlos Cachoeira.
Na sequência, vieram o Mensalão e o Petrolão, que, a rigor, compõem um só enredo: a rapina ao Estado, em parceria com um pool de empresários delinquentes. Corrupção sistêmica, algo inédito mesmo para os podres padrões da república brasileira.
Há ainda diversas caixas-pretas a serem abertas: Eletrobrás (que o STF tirou das mãos do juiz Sérgio Moro), BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, fundos de pensão etc.
Em cada uma dessas instâncias, o governo se move para impedir qualquer hipótese de investigação, o que já é em si uma confissão antecipada de que oculta falcatruas.
O PT inaugurou o roubo do bem. Seria diferente dos convencionais, pois teria destinação social. Se sobrou um troco para um tríplex ou um sítio, é bobagem, mera gorjeta para quem, afinal, colocou “30 milhões de pobres na classe média”. Pouco importa se eles - se é que lá estiveram - já fizeram a viagem de volta.
A depressão econômica está acabando com a própria classe média, mas a culpa, claro, é da crise internacional (que antes era apenas “uma marolinha”), não do governo.
Não só o povo não viaja mais de avião, mas também o personagem criado pelo PT, o burguês que “não gosta de sentar ao lado do povo”. Nisso, a crise é democrática: liquida a ambos.
Coerência é palavra ausente do glossário petista. Depois de arrombarem a Petrobras, indignam-se com os que a querem salvar. É o caso do projeto do senador José Serra, aprovado esta semana pelo Senado, que estabelece que, a critério do governo, a empresa se desobriga de participar das prospecções do pré-sal.
O projeto salva a Petrobras, mas os seus algozes, a pretexto de defendê-la, alegam o contrário, fazendo o papel do verdugo que se abraça ao cadáver que acabou de produzir.
Graças ao PT, a Petrobras deve mais do que vale e suas ações estão cotadas ao preço de um guaraná. Lula, às voltas com o Código Penal, acha, no entanto, que o país, hoje, “inspira mais confiança”. Os especialistas preveem que a Petrobras levará mais ou menos uma década para retornar ao lugar que já ocupou – ela e o país. E isso, claro, se o ambiente político mudar radicalmente.
Vai mudar, não há dúvida. O quer não se sabe é a que preço. A resistência do governo em reconhecer os estragos e, mais que isso, a ausência de remédios para os males que perpetrou, torna o processo mais penoso e preocupante.
A melhor saída seria a sugerida pelo ministro Marco Aurélio, do STF: renúncia dos presidentes da república, da Câmara e do Senado e convocação imediata de eleições. Mas falta grandeza aos protagonistas – ou coragem para responder judicialmente a seus erros sem o guarda-chuva do poder. Aguardemos.
Artigo de Ruy Fabiano, via Blog do Noblat – charge do Sinfrônio
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ACARAJÉ QUENTE

Da Época
Sobranceiro, ele fez sete presidentes. Bruxo, começou logo pelo que parecia impossível: reeleger, em 2006, um Lula que sobrevivera por pouco ao mensalão. Parecia feitiçaria, e o feitiço ganhou o mundo. Não exatamente o mundo. De acordo com a nova linha de investigação da Lava Jato, ganhou os países onde a Odebrecht tinha interesses econômicos e Lula influência política. À eleição do petista, seguiram-se os presidentes amigos do lulismo e da empreiteira. Maurício Funes em El Salvador. Danilo Medina na República Dominicana. José Eduardo dos Santos em Angola. Chávez e Maduro na Venezuela. Enquanto fazia presidentes aqui e ali, cá e acolá, nas Américas e na África, o bruxo aperfeiçoou seu domínio das artes ocultas do marketing político e – abracadabra – elegeu uma desconhecida para o Palácio do Planalto. E, assim, o marqueteiro João Santana e a presidente Dilma Rousseff chegaram ao topo. E lá se mantiveram mesmo depois das eleições de 2014, sobranceiros. Ela, presidindo. Ele, aconselhando.
A prisão do bruxo na segunda-feira da semana passada, acusado de receber dinheiro do petrolão em contas secretas, desfez abruptamente o feitiço do poder. Esvaiu-se a última esperança no PT de que a força incontrolável da Lava Jato não adentraria o Palácio do Planalto. O bruxo está enrascado. Com ele, Dilma e Lula. Acima deles, a Odebrecht, cujo chefe, Marcelo Odebrecht, que faz companhia a João Santana na carceragem de Curitiba, comandava, segundo os investigadores, um esquema internacional de pagamento de propinas. É nesse grupo que a Lava Jato avança agora. Avança em meio aos destroços políticos das prisões, rumo às provas de que o marqueteiro, a empreiteira e o ex-presidente agiam juntos, aqui e lá fora. Segundo a suspeita do Ministério Público, a Odebrecht bancava o marqueteiro que elegia os presidentes amigos. A força-tarefa investigará também as gestões do ex-presidente Lula junto a esses mesmos presidentes amigos, que liberaram à Odebrecht dinheiro de contratos financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Vai investigar também as conexões entre todos esses fatos.
A feitiçaria era perfeita como o melhor marketing político: funcionava sem ninguém perceber. Não mais. Abracadabra.
Leia à íntegra da reportagem em Época desta semana que já está nas bancas.
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SAIU MUITO MAIS CARO

Da Veja
No começo de 2015, Dilma Rousseff recebeu, no Palácio do Planalto, o petista Fernando Pimentel. Ela acabara de conquistar a reeleição. Ele, o governo de Minas Gerais. Amigos e confidentes há mais de quarenta anos, os dois tinham motivos para comemorar, mas trataram de um assunto espinhoso, capaz de tisnar os resultados obtidos por ambos nas urnas. Pimentel trazia um recado de Emílio Odebrecht, dono da maior empreiteira do país, para a presidente da República. O empresário a advertia do risco de que os pagamentos feitos pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana, no exterior, fossem descobertos caso a Operação Lava-Jato atingisse a construtora. Emílio exigia blindagem, principalmente para evitar a prisão do filho Marcelo Odebrecht, sob pena de revelar às autoridades detalhes do esquema ilegal de financiamento da campanha à reeleição. Diante da ameaça de retaliação, Dilma cobrou explicações de seus assessores. Deu-se, então, o ritual de negação encenado com frequência em seu governo. Como no caso da economia, cujo desmantelo foi rechaçado durante meses a fio, os auxiliares disseram que a petista havia conquistado o segundo mandato com dinheiro limpo e declarado. Tudo dentro da lei. A "faxineira ética", portanto, não teria com o que se preocupar.
Esse discurso se manteve de pé até a semana passada, quando o juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato na primeira instância, determinou a prisão de João Santana, o criador dos figurinos de exaltação à honestidade da presidente, e da esposa dele, Monica Moura. O casal recebeu numa conta na Suíça, não declarada à Receita brasileira, 3 milhões de dólares da Odebrecht, acusada formalmente de participar do cartel que assaltou os cofres da Petrobras, e 4,5 milhões de dólares de Zwi Skornicki, um dos operadores do petrolão, o maior esquema de corrupção da história do país. Os detalhes da investigação sobre o marqueteiro foram revelados por VEJA em janeiro passado. A decisão de Moro confirmou as tenebrosas transações descritas por Pimentel a mando de Emílio Odebrecht e fez recrudescer a discussão política e jurídica sobre a cassação da presidente. Pela letra fria da lei, utilizar-se de dinheiro sujo em campanha eleitoral é fator determinante para a perda do mandato. A Polícia Federal e o Ministério Público suspeitam que isso tenha ocorrido na última sucessão presidencial. Delegados e procuradores dizem ter encontrado fortes indícios de que os recursos depositados para Santana na Suíça têm origem nas propinas desviadas da Petrobras. Afirmam também que o marqueteiro embolsou a dinheirama como pagamento por serviços prestados a candidatos do PT.
Dois dados em especial chamaram a atenção dos investigadores. Em 2014, quando Dilma disputava a reeleição sob a batuta de João Santana, Skornicki fez depósitos na conta do marqueteiro na Suíça. Em outubro e novembro de 2014, entre o primeiro turno e a comemoração do novo mandato de Dilma, a Odebrecht também teria repassado outros 4 milhões de reais para Santana - dessa vez no Brasil, segundo indicações de uma planilha da empreiteira apreendida pela polícia. Todos esses valores, insistem as autoridades, têm origem no petrolão e podem ter bancado a reeleição da presidente. Os funcionários da Odebrecht chamavam propina de "acarajé". Em depoimentos na semana passada, Santana e Monica livraram Dilma de envolvimento em qualquer irregularidade. Eles alegaram que receberam os "acarajés" na Suíça como pagamento por serviços prestados em campanhas eleitorais, mas campanhas em outros países. Tudo não passaria de um caso internacional de caixa dois, considerado um crime menor. No Brasil, o trabalho de marketing teria sido realizado como manda a legislação. A reeleição de Dilma, portanto, não carregaria a mácula do esquema de corrupção. A polícia não acreditou. Na sexta-feira, o juiz Sergio Moro prorrogou a prisão do casal.
Primeira a depor, Monica declarou que parte dos pagamentos se referia a serviços prestados na campanha eleitoral em Angola, governada por aliados do PT. Aliados antigos e generosos, como ressaltou o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Em seu acordo de delação premiada, Cerveró contou que a Petrobras fechou um contrato milionário com a estatal angolana de petróleo e que, em retribuição, voltaram ao Brasil de 40 milhões a 50 milhões de reais para financiar ilegalmente a campanha de Lula em 2006. Depois da prisão de seu marqueteiro, Dilma convocou os auxiliares de sempre para uma reunião no Planalto e cobrou esclarecimentos do ministro Edinho Silva (Comunicação Social), tesoureiro de sua última campanha presidencial. Ele garantiu a lisura das contas eleitorais da presidente e disse que os pagamentos a João Santana no exterior diziam respeito a dívidas antigas do PT com o marqueteiro, relativas a campanhas de outros candidatos e à produção da propaganda partidária. Ou seja: eram esqueletos do ex-tesoureiro do PT João Vaccari, que nada tinham a ver com a reeleição da chefe.
Apesar do tradicional ritual de negação, sobram indícios e depoimentos que dão conta de que Dilma se beneficiou, no terreno eleitoral, do dinheiro sujo do petrolão. As primeiras evidências foram encontradas em anotações no telefone do próprio Marcelo Odebrecht, confirmando o que o pai relatara antes a Fernando Pimentel: "Liberar para o Feira (...). Dizer do risco cta suíça chegar na campanha dela". O vínculo da conta na Suíça com o marqueteiro já foi descoberto. "Feira", de acordo com os agentes, era o codinome de Monica Moura. Em outra anotação, Marcelo ressaltou a necessidade de articular com o governo uma estratégia conjunta de defesa. "Ter contato ágil/permanente entre o grupo de crise do governo e nós para que informações sejam passadas e ações coordenadas. Quem?" A estratégia também se confirmou. O ex-presidente Lula defendeu a necessidade de combinar com as empreiteiras um discurso de defesa. Coube ao então líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), externar essa proposta a Dilma. "Presidente, a prisão (de Marcelo Odebrecht) também é um problema seu, porque a Odebrecht pagou no exterior pelos serviços prestados por João Santana à campanha", disse o senador. Não deu em nada. Convencida por Edinho e pelo então chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante, ela manteve a fé cega na legalidade de sua campanha.
Leia à íntegra da reportagem na edição de Veja desta semana que já está nas bancas.
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O IMPEACHMENT REACENDE

Da IstoÉ
Na segunda-feira 22, horas depois de expedido o mandado de prisão do marqueteiro da campanha e conselheiro de Dilma, João Santana, com base na mais bem documentada operação da Polícia Federal até agora, o ex-presidente Lula sacou o telefone e ligou para o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. “Ela (Dilma) sabia que ia dar m...Que isso tudo chegaria na campanha”, esbravejou o petista. Impregnado de fúria, Lula reavivou em Wagner uma conversa mantida no Palácio do Planalto entre o senador Delcídio do Amaral (PT) e a presidente Dilma Rousseff, em junho, na esteira da prisão de executivos das principais empreiteiras do País. Durante uma reunião, o senador petista advertiu a chefe do Executivo: “Presidente, a sra. sabe que foi uma dessas empreiteiras implicadas na Lava Jato que bancaram sua campanha e pagaram ao publicitário João Santana”. Ao que Dilma respondeu: “Isso é problema do Lula. Ele que resolva”. Delcídio então rebateu: “Não, a campanha era sua. É sua a responsabilidade”.
“Pois é, agora chegou nela”, concluiu Lula no telefonema ao ministro baiano. O tom do diálogo traduz a atmosfera de pânico reinante no PT e no Planalto, a partir da deflagração da Operação Acarajé, pela Lava Jato, na última semana.
Foram 67 dias de alívio para o governo, desde a decisão do STF de alterar o rito do afastamento da presidente Dilma no Congresso. Na segunda-feira 22, o acarajé azedou e a calmaria cedeu lugar à tormenta. Para a presidente, a prisão daquele que era considerado o 40o ministro do governo, tamanha era a influência exercida por ele, constitui-se no desenlace mais grave da Operação Lava Jato até agora. Os fortes indicativos de que dinheiro desviado da Petrobras serviu para bancar João Santana, principal mentor e estrategista das campanhas petistas, colocaram o impeachment novamente na ordem do dia – tanto do Congresso, como das ruas. Com algumas diferenças fundamentais, em relação ao ano passado, que fazem com que o processo capaz de apear Dilma do poder retorne ainda com mais vigor e mais robusto do ponto de vista político. Desta vez, não há qualquer vestígio das digitais do impopular presidente da Câmara, Eduardo Cunha, responsável por avalizar o pedido anterior. Ao contrário do ano passado, Dilma também não pode se escorar no ex-presidente Lula. Enrolado com os casos do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, reformados com dinheiro da OAS, empreiteira envolvida no Petrolão, o morubixaba petista não empolga nem conduz mais as massas como em outrora. Pelo contrário. Ele nunca esteve tão fragilizado e com uma imagem tão arranhada perante a população, haja vista o panelaço do qual foi alvo na última terça-feira 23 – indiscutivelmente o mais estrepitoso entre todos até agora.
Na ausência de um inimigo número um para atribuir as ações perpetradas contra ela no Congresso, papel este exercido por Cunha em 2015, e com o seu principal mentor – Lula – a manquitolar nas cordas, Dilma volta a depender de dois partidos que se revelaram nada confiáveis em momentos pretéritos em que a presidente esteve em apuros: o próprio PT e o PMDB. É notório. Os petistas nunca morreram de amores por Dilma. Nem quando ela foi alçada ao Olimpo político em 2010. Hoje, eles se dispõem a sustentá-la tão somente por conta da sobrevivência eleitoral, traduzida na batalha pela manutenção dos mais de 20 mil cargos, em poder da legenda, na Esplanada dos Ministérios. Intramuros, integrantes do partido jogam na conta da presidente a pior crise já experimentada pelo PT, desde a sua fundação – fruto, para eles, da equivocada política econômica responsável por paralisar o País e trazer de volta o desemprego e a recessão.
O principal sintoma do estremecimento da relação entre Dilma e PT é a possível ausência da presidente no evento em comemoração aos 36 anos do partido no Rio. Já o PMDB, que ensaiou o desembarque do governo, mas voltou ao estado de ponto morto depois que o motor do impeachment esfriou no ano passado, retomou as negociações para colocar em marcha o afastamento da presidente. Na última semana, as articulações entre PMDB e PSDB, principal partido de oposição, ganharam intensidade e retornaram ao estágio anterior à decisão do STF de 17 de dezembro, quando os ministros da corte mudaram a regra do jogo com a partida em andamento e jogaram uma ducha de água fria no processo. O PMDB cogita até apresentar um novo pedido de impeachment capaz de alcançar os últimos fatos da Lava Jato, como o dinheiro recebido pelo marqueteiro João Santana no exterior. A assessoria jurídica do partido já trabalha em cima de um parecer nesse sentido. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) mantém a discrição e evita fazer movimentos bruscos, como ocorreu no ano passado, quando foi acusado de jogar abertamente contra o governo. Mas, segundo palavras de um de seus mais próximos aliados, o vice vai deixar “a partida correr solta”.
O PMDB desenvolve um raciocínio bem pragmático para voltar a embarcar na canoa do impeachment. Por que aguardar uma decisão no TSE que pode prejudicar o partido, na hipótese de condenação da chapa Dilma-Temer, se o PMDB pode ser o fiel da balança para afastar a presidente num processo político no Congresso do qual se beneficiaria diretamente, com a ascensão automática do vice-presidente ao poder, caso seja aprovado o impedimento da petista? A seu favor, o partido ainda conta com a possibilidade de a liturgia do impeachment no Congresso ser bem mais célere do que um julgamento no TSE. Numa projeção otimista, o Tribunal Eleitoral só irá conseguir se manifestar sobre as contas eleitorais de Dilma em outubro deste ano, ao passo que um processo de afastamento no Legislativo, se houver condições políticas para levá-lo a cabo, não duraria mais do que três meses.
Por isso, neste momento, as conveniências políticas de PMDB e PSDB voltam a se entrelaçar. Para Dilma o restabelecimento da harmonia entre as duas legendas é o pior dos mundos. A senha para o reinício das tratativas foi a decisão do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, de se engajar de corpo e alma na manifestação marcada para o dia 13 de março cujo mote principal será o “Fora, Dilma”. A decisão foi tomada após reunião com parlamentares da oposição na sede da liderança do partido no Senado. “Estamos distribuindo uma nota de absoluto apoio dos partidos de oposição às manifestações programadas para o próximo dia 13 de março, organizadas por movimentos da sociedade civil. Vamos conclamar nossos companheiros de todas as regiões do País para que se façam presentes nesse momento de profundo agravamento da crise política, econômica, social e moral que vem devastando o Brasil. Vamos botar nossa cara sim e dizer basta a tudo isso que vem acontecendo”, afirmou Aécio Neves. “Pela primeira vez temos provas documentais que vinculam a campanha da presidente Dilma à corrupção na Petrobras”, pontuou o tucano. A nota em apoio à manifestação foi subscrita pelo PSDB, PPS, DEM, PV e Solidariedade. Os oposicionistas anunciaram ainda que os líderes dos partidos na Câmara solicitarão ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski, uma audiência para cobrar rapidez na publicação do acórdão do rito do impeachment.
Para esquentar ainda mais a discussão sobre o afastamento da presidente, as siglas de oposição inauguraram nos últimos dias um comitê pró-impeachment. Com a criação do colegiado, a oposição tentará criar um clima de vigília constante, exercendo uma espécie de marcação cerrada sobre Dilma no rastro da manifestação do dia 13 de março. A intenção é estabelecer um calendário de protestos nas principais capitais do País em prol da saída da petista. Servem de inspiração para o grupo os comícios das Diretas Já. Esportistas e cantores populares já foram contatados para reforçar os palanques e imprimir uma marca suprapartidária aos eventos. O grupo também busca estreitar os laços com o empresariado. Na quarta-feira 24, deputados de cinco partidos se reuniram com Paulo Skaf, porta-voz do setor industrial paulista.
Numa outra trincheira, os parlamentares da oposição prometem se dirigir à ministra Maria Thereza de Assis Moura, relatora de uma das ações movidas pelo PSDB no TSE contra a chapa Dilma-Temer, para reforçar o pedido para que os documentos da nova fase da Lava Jato sejam anexados ao processo. O PSDB pleiteia a análise pela Justiça Eleitoral dos novos documentos da investigação sobre João Santana. As maiores evidências contra Dilma e sua campanha derrubam a versão de Santana, segundo a qual os valores recebidos no exterior – cerca de US$ 7,5 milhões – estavam relacionados a serviços prestados por ele fora do Brasil. A principal delas é um depósito de US$ 1,5 milhão feito na conta do marqueteiro na Suíça entre julho e novembro de 2014, período em que João Santana, como é sabido, se dedicou exclusivamente à campanha à reeleição da petista. Há ainda registros de repasses que somam R$ 4 milhões na mesma época, segundo planilha apreendida na Odebrecht sob o título “Feira-evento 14”. Feira, segundo os investigadores, seria uma referência a Santana (leia mais nas páginas 34 a 38). O surgimento da comprovação de que o marqueteiro de 2014 foi pago com recursos do Petrolão pode vir a ser o Fiat Elba de Dilma – ironicamente, o caso envolvendo o ex-presidente Collor foi desvendado por quem pode derrubá-la agora: João Santana.
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

OPERAÇÃO ACARAJÉ

Charge do Sinfrônio
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AS PERIPÉCIAS DO ÓBVIO

Artigo de Fernando Gabeira
O governo assaltou e arruinou a Petrobras. A tese mais elementar era esta: parte do dinheiro roubado foi desviada para as campanhas de Lula, Dilma e tutti quanti.
No Brasil, o elementar nem sempre se impõe. Almas generosas dizem: não há provas de que os milhões roubados da Petrobrás foram usados em campanha. Todo o dinheiro foi registrado no TRE: contribuições legais. As empresas que doaram são as mesmas do escândalo. O dinheiro da propina foi simplesmente lavado. As almas delicadas não acreditam que tenha havido dinheiro sujo na campanha e não fazem a mínima ideia de para onde voaram milhões de dólares. E consideram que está tudo bem com a lavagem de dinheiro, embora isso seja um crime punido por lei.
Agora a casa caiu. A prisão do marqueteiro João Santana mostra que ele recebeu dinheiro do escândalo do petróleo como pagamento pela sórdida campanha de 2014.
Fechou-se o quadro. Ele já estava desenhado no celular de Marcelo Odebrecht. Numa das anotações falava que as contas na Suíça poderiam atingir a campanha dela. Quem é ela? Se afirmar que é Dilma, as almas generosas vão dizer: há milhões de outras mulheres no Brasil.
Delcídio Amaral já havia advertido Dilma de que a prisão de Marcelo Odebrecht atingiria sua campanha, porque a empresa pagou a João Santana no exterior. Mercadante teria dito: a Odebrecht é problema do Lula. Solidariedade zero entre eles.
Agora, vão dizer que o dinheiro de Santana foi ganho em campanhas no exterior. Ele fez algumas, no universo da esquerda latino-americana. Todas pagas regiamente. Acontece que ele enviou o dinheiro do Brasil. Por que as campanhas lhe pagariam aqui? Acontece que recebeu durante a campanha de Dilma. Por que as campanhas de fora pagariam fora do tempo?
E como se não bastasse: que outras campanhas levaram dinheiro de propina de Keppel Fels, que tem um estaleiro no Brasil, opera com a Petrobrás, e seu lobista Swi Skornicki, destinatário de um bilhete da mulher de João Santana, Mônica, orientando-o a depositar os dólares no exterior?
As descobertas da Lava Jato apenas demonstram com provas uma tese cristalina: roubaram para permanecer no poder e acumular fortunas. Mas, sobretudo, para prosseguir no governo, entupindo as campanhas de dinheiro sujo.
Tecnicamente, a Lava Jato seguiu o caminho real: o dinheiro. É em torno da grana que eles giram como mariposas.
Além da cooperação suíça, as autoridades norte-americanas foram rápidas em enviar seus dados. Os suíços mantiveram sua disposição de colaborar.
Enfim, o cerco se fechou, uma parte considerável do mundo se alia ao povo brasileiro no esforço não só de punir os responsáveis, mas também de recuperar o dinheiro roubado.
E o governo, os políticos, os brasileiros, em tudo isso? O que era apenas uma tese que já balançava Dilma se tornou um fato comprovado com documentos. Aliás, mais documentos do que em outros casos da Lava Jato.
Se fosse uma partida de xadrez, diria que o governo levou um xeque-mate. Antes apenas se falava que a campanha de Dilma foi feita com dinheiro roubado. Agora todos sabem.
Mas o PT não é um jogador de xadrez comum , e não só porque atropela regras. Ele se distancia da própria realidade. Xadrez? Não estou vendo o tabuleiro. Antena no sítio de Atibaia? Lula não usa celular. Prisão do marqueteiro? O PT não tem marqueteiro, é apenas um senhor que nos ajuda.
De qualquer forma, será difícil acordar todas as manhãs, num país mergulhado em crise econômica, e pensarmos que ele está nas mãos de um grupo que roubou para vencer.
E não será apenas uma certeza política. Estarão lá, diante de nós, as contas no exterior, os dólares enviados, as transferências, conversões – enfim, toda a trajetória do fio condutor a que eles estão ligados: a grana.
De qualquer forma, o episódio é um momento de otimismo, na medida em que precipita a queda de Dilma. Como as crises estão entrelaçadas, uma solução política poderia dar algum alento à economia e se um projeto de transição sério fosse levado até 2018.
O PSDB voltou do recesso dizendo que votaria os projetos de interesse do País ao lado do governo. Isso me parece correto, pois sempre fui contra as pautas-bomba que explodem no bolso dos contribuintes. No entanto, não se deve acreditar ser esse o grande problema da oposição. Seu problema é não focar na saída da crise: o impeachment. E não trabalhar com uma ideia mais clara da transição.
Olhando para o futuro próximo, não faz sentido dizer que vota a reforma da Previdência só se o PT votar também. É um tema inescapável na transição.
Orientar-se pela posição do PT é, de uma certa forma, antecipar uma disputa em 2018. Não sabemos direito como será 2018 nem se haverá PT. O problema é achar um rumo para a transição e fazê-la acontecer com a queda de Dilma.
Os acontecimento da semana mostram que o jogo de empurrar com a barriga é apenas um esforço para levar Dilma até 2018, tudo bonitinho, faixa passada. A realidade, por meio de uma investigação competente, com apoio internacional, mostrou mais uma vez que é preciso pegar o touro à unha.
Os que esperam 2018 deveriam considerar apenas como ele será muito pior se nada for feito. Com que cara o Brasil chegará lá, dirigido por um governo corrupto, incompetente, politicamente nulo?
Quem sabe faz a hora ou espera acontecer? Ao contrário da canção, às vezes, acho melhor esperar acontecer. Mas, no caso específico, há um sentido de urgência.
Continuar com esse governo vai desintegrar o País. Uma terrível animação de Hong Kong já mostra a Baía de Guanabara poluída, atletas vomitando, a estátua do Cristo Redentor fazendo toneladas de cocô. É uma peça de humor. Mas se parece muito com o pesadelo que vivemos no Brasil.
Artigo publicado no Estadão em 26/02/2016
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O SUMIÇO DO PASTOR

O pastor Abner Ferreira submergiu desde que a Assembleia de Deus de Madureira foi citada na Lava-Jato, tendo recebido dinheiro de Júlio Camargo como pagamento de parte do valor residual da propina referente às sondas do pré-sal.
Desapareceu do mundo evangélico e das redes sociais.
Da coluna do Lauro Jardim, O Globo
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MILITÂNCIA PAGA

Um líder do PSDB na zona leste, que apoia a pré-candidatura de João Doria a prefeito de São Paulo, diz em gravação obtida pela Folha que o tucano faz pagamentos à militância do partido.
No próximo domingo (28), os filiados tucanos vão às urnas decidir quem será o nome da legenda para concorrer à prefeitura.
Anderson Silva Carvalho, conhecido como Celebridade, afirma no áudio que ninguém quer trabalhar de graça para Doria, que disputa a prévia com o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli.
"Ele [Doria] ajudou sim a militância. Todos que estão com o Doria estão sendo ajudados. Só não posso passar o valor para você, a quantia e que dia cada um recebe porque fica antiético. Mas isso eu falo: todos foram ajudados", afirma Celebridade, para um interlocutor não identificado.
Em nota enviada à reportagem, a campanha do tucano afirma que paga despesas de transporte e alimentação de colaboradores.
Leia a íntegra da reportagem de Thais Arbex, da Folha deS.Paulo
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MARKETING

Charge do Aroeira
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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

ADEUS, LULA

Artigo de Hubert Alquéres
Estava tudo combinado. O encontro comemorativo do 36º aniversário do PT marcaria a ofensiva contra o “cerco e aniquilamento” de Lula, uma fábula existente apenas nas mentes petistas. O resgate da imagem do caudilho tinha um objetivo claro: fazer do seu retorno ao trono presidencial a bandeira de coesão de um projeto de poder que pretendia ser eterno, mas que se encontra em acelerado desmanche.
As crises têm sua dinâmica. Atropelam, indiferentes, todos aqueles que a ignoram. Em poucos dias foi ao chão o cenário desenhado pela cúpula do PT. Em vez de ser o marco na blitzkrieger petista, o encontro da próxima sexta-feira estará mais para muro de lamentações ou para o réquiem do Lula-2018.
Não há a menor condição de ele ser candidato novamente, a menos que esteja disposto a se submeter a um tremendo vexame. Seu telhado de vidro é tamanho que sua candidatura dificilmente resistiria a uma semana de campanha eleitoral na TV. Lula já sairá no lucro se conseguir limpar, nos próximos dois anos, sua ficha corrida, para não entrar para a história pelas portas do fundo, se é que já não entrou.
O adeus Lula tem sua razão de ser, e vai além da prisão do satânico Dr. No, o marqueteiro João Santana. Ele próprio estabeleceu como condição para sua nova candidatura o início da recuperação da economia a partir de junho. Algo para lá de improvável.
No figurino do encontro petista está prevista a pressão das “bases” e do braço esquerdo do lulopetismo, por uma guinada na atual política econômica. Até mesmo petistas de perfil moderado que sentem a água bater no pescoço, como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, passaram a clamar pela volta do “modelo econômico da era Lula”.
Entende-se. É dureza alguém disputar eleição, seja a qual cargo for, pela legenda do PT, mais suja do que as águas do Rio Tietê, e em meio à combinação perversa do binômio recessão-inflação. Sabedor disto, Lula não só insufla as bases, resmunga também contra Nelson Barbosa, acusando-o de ter perdido o brilho e a criatividade. Vejam a celeridade da crise: tido como a grande solução para voltar fazer a economia crescer, o ministro Barbosa entrou na frigideira em tempo recorde.
A realidade insiste em conspirar contra as pretensões de Lula. Já está contratado que o PIB cairá mais 4% em 2016, que a inflação será no mínimo de 8%. Queda de juros neste ano, nem pensar, como afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Sacramentou-se também um déficit público de 1% do PIB, se não ultrapassar esta estimativa.
A crise invadirá 2017, podendo se estender até 2018, como avaliam analistas responsáveis.
Lula seria candidato em um quadro de desemprego alto, inflação em disparada e economia em queda livre?  Inimaginável.  Provavelmente tira seu time de campo e escala outro companheiro para a tarefa ingrata de defender o “legado petista”, na próxima disputa presidencial. A conferir quem estaria disposto a ir para o sacrifício.
Esta hipótese fica mais forte diante da evidência de que marchamos para o pior dos mundos, o da paralisia total na economia, com consequências danosas para a vida dos brasileiros. Espremida pela realidade, a presidente Dilma Rousseff acena com as reformas fiscal e previdenciária, mas sua base, o PT e Lula, não querem nem saber dessa conversa. Sem poder peitar seu criador, Dilma ficará, até o término do seu mandato, com a política rame-rame de hoje. Daí não sairá coelho algum, a crise se agravará.
A última pesquisa Ibope traz um dado revelador: a imagem de Lula derrete-se tal qual gelo no asfalto. Quanto mais a operação Lava-Jato bate a sua porta, quanto mais sai do fundo do palco e vai para o primeiro plano do tablado da corrupção, mais sua queda é vertiginosa. A tendência de sua rejeição de 61% é aumentar. O Lula imbatível, aquele Messias venerado, a versão piorada de pai dos pobres, é agora espécie em extinção.
As investigações da Polícia Federal no sítio de Atibaia, no apartamento tríplex do Guarujá e as pistas que vieram à luz do dia com a Operação Acarajé deixaram o santo nu. Mostraram seus pés de barro.
A essa altura não há muito mais a fazer. Talvez se despedir.
Adeus, Lula.
Hubert Alquéres, é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo
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ELEIÇÕES DO FIM DO MUNDO

As eleições municipais desde ano serão completamente diferentes de tudo o que aconteceu no campo eleitoral nas últimas décadas. Os vetores da mudança são os seguintes: as mudanças de regras, a crise fiscal, a crise econômica e na Operação Lava Jato.   Todas os quatro se relacionam entre si e causam profundo impacto na política nacional e, em especial, nas eleições municipais deste ano.
O primeiro aspecto refere-se às regras. Sem detalhar muito o tema, destaco apenas três. Uma refere-se à janela de transição partidária que está em vigor.  Com ela, por exemplo, os vereadores podem mudar de partido até meados de março.  A outra, anterior à janela, foi a decisão do STF de liberar os detentores de cargos majoritários mudar de partido sem restrições. Consta que o PT, por exemplo, perdeu cerca de 10% de prefeitos que foram eleitos pelo partido em 2012.
A terceira mudança de grande impacto refere-se ao banimento das doações empresariais das campanhas.  Sem recursos privados, as campanhas ficarão pobres. O que não é ruim. Causará um impacto transformador sério. Mas, sem uma fiscalização ativa e preventiva, abrir espaço para os recursos do crime organizado. Imaginem a situação de Fernando Haddad que gastou quase 70 milhões de reais na campanha em 2012. Como fará a campanha de sua reeleição financiado apenas por recursos públicos e doações de pessoas físicas?
Mas as limitações não são apenas as mencionadas. A crise fiscal do governo central impede que ocorram transferências vultosas para municípios. A crise econômica, pelo seu lado, derruba a arrecadação de todos.  Sem dinheiro, como concluir obras que poderiam alavancar as campanhas municipais? Cerca de 60% dos atuais prefeitos são muito mal avaliados. Sem dinheiro e sem obras, como ser competitivo?
Dois outros temas remanescem: a crise econômica e a Operação Lava Jato. A crise econômica "federaliza" as eleições municipais. Principalmente, nas cidades médias e grandes. Desloca o eixo de preocupação do eleitor dos seus problemas locais para as questões nacionais.  O provável agravamento da cena econômica nos próximos meses vai afetar sobremaneira o comportamento do eleitor. Especialmente se o desemprego estiver acima de 10%.
Por fim, temos a novela da Operação Lava Jato prossegue que prossegue destruindo a parca confiança do eleitorado nos políticos e na política. Além disso, a cada nova etapa de investigações, o mundo político fica mais abalado e na defensiva. Temendo o pior. Em um ano eleitoral, já encurtado por conta da disputa, a paralisia do mundo político é uma péssima notícia em tempos de crise.
O que esperar do processo? O cenário que se configura para as eleições é, no mínimo, complexo. Para não dizer dantesco. Um eleitorado descrente dos políticos (como sempre) e irritado (como nunca) deve se manifestar de forma emocional.   As narrativas de mudanças tendem a prevalecer junto ao eleitorado. Já as narrativas de quem está no poder podem ser mais agressivas como estratégia de resistência. Resta-nos torcer para que o ambiente eleitoral seja menos conturbado do que os sinais indicam.
Murilo Aragão, é cientista político – via Blog do Noblat
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PUNIÇÃO SEVERA

Em meio à discussão da possibilidade de aborto legal em casos de microcefalia, o deputado Anderson Ferreira (PR-PE), integrante da chamada “bancada evangélica”, apresentou à Câmara nesta semana um projeto de lei que inclui no Código Penal Brasileiro punição ainda mais severa para a prática quando realizada em casos da má-formação.
A pena para quem realizar aborto sem consentimento da gestante em razão de microcefalia ou anomalia do feto pode chegar a 15 anos de prisão. A grávida que realizar o aborto pode ser condenada a quatro anos e meio de prisão.
Hoje, o Código Penal considera crimes contra a vida o aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (de um a três anos de prisão), o provocado por terceiro, sem consentimento da gestante (de três a dez anos) e aquele feito com o consentimento da gestante (de um a quatro anos).
As exceções se dão em caso de estupro, de feto anencéfalo e em casos em que a vida da mãe está em risco. Há juristas que entendem que a microcefalia não se encaixa porque a má-formação não é incompatível com a vida.
Pela proposta do deputado, as penas aumentam em um terço se a gestante sofrer lesão corporal grave e dobram se ela morrer. Para o aborto cometido em razão de microcefalia ou qualquer outra anomalia do feto, a pena é aumentada em um terço até a metade.
Agência Estado
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O PETRÓLEO É DELES!

Com as galerias fechadas ao público, o Senado aprovou na noite desta quarta (24), por 40 votos a 26, o Projeto de Lei (PL) 131/2015, do senador José Serra (PSDB-SP), que abre às multinacionais estrangeiras a possibilidade de explorar o pré-sal. Foram mais de seis horas de intenso debate, em que a bancada do PT se posicionou unânime ao lado do grupo mais progressista da casa, que defendia a manutenção da maior estatal brasileira como a operadora única do maior tesouro brasileiro.
No final da tarde, porém, um inusitado acordo firmado entre PSDB, PMDB e o governo Dilma Rousseff para a aprovação do projeto proporcionou a vitória da proposta tucana. O teor do acordo foi materializado no substitutivo apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), apresentado como um meio termo entre as regras atuais e a mudança completa proposta por Serra. 
Pelas regras atuais, aprovadas em 2010, a Petrobrás é a exploradora única do pré-sal, com a prerrogativa de deter pelo menos 30% de participação nos consórcios firmados para explorar o petróleo no mar. O texto de Serra propunha a abertura à participação das multinacionais, e previa que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) poderia oferecer ou não à Petrobrás a possibilidade de participar da extração de cada campo.
Já o dito texto de consenso de Jucá, aprovado pela maioria em plenário, mantém a retirada da Petrobrás como operadora única, mas exige que o CNPE ofereça a preferência de exploração à estatal antes de realizar leilões para definir a participação das multinacionais. A postura do governo em aprovar o acordo, porém, foi de encontro ao principal argumento usado pela bancada do PT para rechaçar o projeto:  com o barril de petróleo alcançando um dos preços mais baixos da história, o momento não é de discutir o assunto.
A senadora Gleise Hoffmann (PT-PR) sustentou que o barril petróleo registra hoje o preço mais baixo da história devido a questões geopolíticas. Mais incisivo, Lindberg Farias (PT-RJ) disse que abrir a possibilidade das multinacionais extraírem o pré-sal no atual contexto é entregar o maior patrimônio brasileiro aos gringos a preço de banana.  “Nós estamos querendo entregar o pré-sal a preço de banana para as multinacionais do petróleo. (…) Nós estamos entregando o futuro, o pré-sal”, ressaltou.
Perplexidade e abandono
No final da votação, os senadores que lutaram pela manutenção da Petrobrás como operadora única do pré-sal estavam desolados. Ao lado de Roberto Requião (PMDB-PR), Lindberg Farias (PT-RJ) desabafou. “Nós fizemos aqui o bom combate. No dia de ontem [terça], nós perdemos por dois votos [na votação pela manutenção da urgência do projeto]. Nós estamos aqui meio perplexos, porque nós fomos derrotados por uma aliança do governo com o PSDB”, afirmou o parlamentar.
Farias explicou que esteve durante a manhã daquele mesmo dia no Palácio do Planalto, conversou com o ministro Berzoini e a orientação foi a de que a bancada lutasse para manter a Petrobrás como operadora única do pré-sal e responsável por pelo menos 30% das extrações. Entretanto, a tarde, já durante o debate em plenário, o governo mudou de posição.
“Sinceramente, eu acreditava que nós poderíamos ter ganho essa votação. Nós nos sentimos aqui abandonados em uma matéria estratégica. Eu só quero dizer que nós vamos continuar nossa luta. Nós vamos fazer mobilização nas ruas, vamos para o debate na Câmara e vamos começar uma grande campanha para que a presidenta Dilma, se chegar ao Palácio do Planalto, vete este projeto, porque é um projeto que afronta a soberania nacional”, afirmou.
Exceções petistas
O sentimento de perplexidade e abandono, aliás, dominava toda a bancada do PT, que votou contra o projeto, mesmo em desacordo com a determinação do Planalto. As exceções foram a dos senadores Walter Pinheiro (PT-BA) e Jorge Viana (PT-AC), que não compareceram à sessão. E, também, a do senador Humberto Costa (PE), definido poucas horas antes da votação como o líder do governo na casa, em substituição à Delcídio Amaral (PT-MS), envolvido na operação Lava Jato.
Na votação, Humberto Costa se absteve de tomar posição. Antes disso, em uma demonstração de coerência, repassou à senadora Gleise Hoffmann (PT-SC) a prerrogativa de orientar a bancada do partido, da qual ele também é o líder. A ex-ministra de Dilma que, durante a tarde, chegou a afirmar à Carta Maior, em entrevista, que o governo manifestara posição contrária à matéria, manteve-se fiel ao partido. Orientou o voto não ao PL de Serra.
“O acordo firmado entre o governo, o autor do projeto e o relator da matéria melhora o teor, mas, ainda assim, o PT acha que não é o momento para esta discussão e encaminha voto contrário”,  justificou a senadora que, mais cedo, protagonizou um dos mais belos embates com Serra em defesa da Petrobrás.
O tucano havia contestado a informação repassada ao plenário por Gleise de que a estatal brasileira consegue extrair petróleo do pré-sal ao custo de US$ 8 o barril, enquanto as multinacionais estrangeiras, que não detém a tecnologia de ponta da Petrobrás, o fazem por pelo menos US$ 14. Serra argumentou que o preço médio do barril extraído em terra pela Petrobrás é de U$S 22: portanto, desdenhou a informação de que a extração no pré-sal pudesse ser feita por quase três vezes menos. “Isso deve ser um daqueles números que os petroleiros passam para enganar a sua bancada”, ironizou.
Gleise rebateu de pronto. “Não são números dos petroleiros, senador Serra, mas da empresa. A extração no pré-sal é mais barata na média por causa da alta produtividade do sistema desenvolvido pela Petrobrás”, explicou. Ela também rebateu o argumento do tucano de que o projeto ajudará  Brasil a sair da crise econômica atual. “Mesmo que o leilão seja realizado este ano, a extração só começará depois de 2021. Então, em que isso ajuda?”, questionou.
O maior partido do governo
O PMDB, que até ontem estava dividido em relação ao projeto, atendeu à determinação do Planalto e orientou voto favorável. Mas não sem antes puxar a orelha do PT, que já havia orientado voto contrário. “Este substitutivo não é de autoria do senador Romero Jucá, que sempre foi aqui um brilhante relator, mas do governo federal. E o partido do governo, neste momento, assusta-me, por votar e fazer o encaminhamento, com todo respeito que tenho à senadora Gleisi Hoffmann, contrariamente a um texto que veio do governo”, disse Eunício Oliveira (PMDB-CE), pela liderança do partido.
O posicionamento não foi unânime na legenda. Responsável por um dos mais brilhantes discursos da terça contra o açodamento na mudança na legislação petrolífera, a senadora Simone Tebet (PMDB-MS) desabafou. “O governo já não tinha meu voto. Agora, perdeu também o meu respeito”, afirmou ela, em alusão a mudança repentina de posicionamento que permitiu que o assunto fosse esgotado sem um debate mais aprofundado com a sociedade brasileira.
Requião não comentou o desfecho da votação em plenário, mas já havia deixado sua posição bem clara durante o debate. Para ele, a aprovação do projeto vai gerar desemprego, desindustrialização e ainda colocará em xeque a soberania nacional. “Senador José Serra, dá uma olhada lá para trás e veja quantos lobistas do petróleo estão frequentando o plenário do Senado, onde não podem entrar os trabalhadores da FUP [ Federação Única dos Petroleiros], denunciou, atacando a decisão de Renan Calheiros de fechar as galerias ao público.
Outro peemedebista que surpreendeu no debate foi o ex-ministro das Minas e Energias dos governos Lula e Dilma, senador Edison Lobão (PMDB-MA). Profundo conhecedor do assunto, ele rebateu os argumentos de Serra um a um. Enquanto o tucano dizia que a Petrobrás não tem como explorar o pré-sal porque está quebrada, com dívidas acumuladas de R$ 500 bilhões, Lobão explicava que, pelas regras atuais, a empresa recupera de pronto todos os seus investimentos em extração.
“Em primeiro lugar, a Petrobras fica autorizada e obrigada a participar com 30% na condição de operadora única, mas não vai investir seus recursos 100%. Cada empresa que participa do consórcio vai investir os seus recursos na proporção das ações que possui naquele consórcio. Agora vem o segundo argumento para o qual peço a atenção dos senhores senadores. Que despesas são essas que a Petrobras vai fazer para a exploração do petróleo? Basicamente nenhuma. Por que nenhuma? Porque ela vai investir, sim, o seu dinheiro – e os outros também –, porém, no instante em que encontrar o petróleo, na lei do petróleo atual, na Lei de Partilha, essas empresas serão ressarcidas de todas as despesas que fizerem. (…) O que isso quer dizer? A Petrobras e as outras empresas que tiverem investido no pré-sal, no instante em que o pré-sal começar a jorrar, serão ressarcidas de todas as despesas. Então, como é que a Petrobras não tem condições de enfrentar isso?”, questionou.
A defesa do Pl de Serra
Dentre os favoráveis ao PL de Serra, ninguém foi tão explícito ao falar sobre as reais intenções privatistas do grupo quanto Blairo Maggi (PP-MT). “Se o preço do petróleo não tivesse tão ruim, se a empresa não tivesse tão quebrada, eu proporia até vender a Petrobrás. Ela é mal gerida. E vai continuar mal gerida, porque este é o jeito da coisa pública funcionar”, afirmou, convicto.
Serra e seu grupo preferiram tentar minimizar os efeitos nocivos do projeto, usando firulas e jogos de palavras.  “A única coisa que o projeto faz é tirar a obrigatoriedade de essa empresa ter que investir em cada poço do pré-sal mais ainda, com 30%. Ninguém está entregando nada. Ninguém está levando nada embora. Tudo continua nas mãos do poder público, apenas a Petrobras não é obrigada a investir. Apenas isso. Se ela quiser, em um mês, ela manifesta sua intenção e controlará o poço”, sustentou.
Humberto Costa foi quem desmontou a falácia. Ele disse que, na votação de terça, em que Serra conseguiu manter a urgência do projeto por 33 votos a 31, muitos senadores acompanharam o tucano porque acreditaram no discurso de que a proposta mantinha a preferência da Petrobrás. Entretanto, ele leu o texto em plenário e demonstrou que aquilo não era verdade. “O texto diz que o Conselho Nacional de Política Energética poderá conceder a preferência a Petrobras. Mas isso não está garantido”, destacou.
Aécio Neves (PSDB-MG) chegou a dizer que o projeto funciona como uma espécie de bóia de salvação para a Petrobrás, falida, segundo ele, pela má gestão petista. “Este projeto unicamente tira da Petrobrás um ônus que ela não tem mais como atender e dá a ela o bônus da preferência”, afirmou.  Antes de defender sua posição em plenário, foi visto conversando com o presidente do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, Adriano Pires, reconhecido lobista das petrolíferas internacionais.
O projeto, agora, segue para votação na Câmara.
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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

MARTELO PESADO

Charge do Izânio
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NÃO À EVO

A Bolívia disse não à pretensão do presidente Evo Morales de se candidatar a um quarto mandato presidencial. Após uma apuração que se prolongou por mais de 48 horas, as autoridades eleitorais anunciaram que 51,30% dos bolivianos rejeitaram a reforma constitucional que permitiria a Morales ser candidato novamente em 2019. Com 99,72% das seções contabilizadas, o sim somava 48,70%. Assim, mantém-se a proibição de que o presidente seja reeleito ao final do seu terceiro mandato, que é de cinco anos e foi conquistado com expressiva maioria em 2014. É a primeira vez que Morales é derrotado nas urnas desde que tomou posse, 2006.
A exígua diferença de 135.000 votos entre os partidários de Morales e seus adversários, que já era apontada pelas pesquisas de boca de urna no domingo à noite, evidencia um recrudescimento da polarização na Bolívia, que havia ficado para trás após a segunda reeleição de Morales, há apenas um ano e meio. O resultado reflete que a boa gestão do presidente, que em uma década conseguiu apresentar a maior mudança socioeconômica do país na sua história recente, não é suficiente para contrabalançar a mudança de ânimo de um grande setor da população, que vê com inquietação as denúncias de corrupção que atingiram o governismo ultimamente.
Os casos mais notórios foram os do Fundo Indígena, uma instituição de cooperação com as comunidades rurais, dirigida por líderes sindicais que, segundo cálculos conservadores, desviaram cerca de 30 milhões de dólares (aproximadamente 120 milhões de reais). Mas o aspecto mais nocivo para a imagem do Governo foi a ostentação com que esses dirigentes gastaram o dinheiro apropriado, perante o olhar indignado dos seus filiados pobres.
Além disso, nesta campanha pela primeira vez os escândalos salpicaram o próprio Morales, que precisou admitir que havia mantido um romance e tido um filho (que morreu) com Gabriela Zapata, lobista das empresas chinesas que trabalham para o Estado. O Governo se esforçou em desmentir qualquer tráfico de influência, mas o assunto abalou pela primeira vez de forma direta a imagem de Morales.
Diante das denúncias, o Governo e o próprio presidente iniciaram uma campanha contra o que qualificaram de “guerra suja” da oposição, com suposto apoio dos Estados Unidos. Optar por esse discurso anti-imperialista em vez de insistir nas conquistas já obtidas e nos planos para o futuro foi, para muitos analistas, um dos erros da campanha pelo sim.
Outro motivo de mal-estar é o resfriamento da economia, que, apesar de continuar crescendo, começa a sentir os efeitos da queda do preço internacional do petróleo, já que a Bolívia vive da exportação de gás aos países vizinhos – os preços dos dois produtos são atrelados.
O grande desafio deverá começar agora. Morales ainda tem quatro anos de Governo. O não à reforma constitucional, apesar de corroer seu poder, não implica uma rejeição à manutenção de suas políticas, que tão bons resultados deram à Bolívia até agora. "Presidente, o que o voto dos bolivianos disse é que não há pessoas imprescindíveis, apenas causas imprescindíveis”, tuitou o ex-presidente Carlos Mesa, que lidera, a pedido de Morales, a reivindicação marítima da Bolívia contra o Chile em Haia.
Apesar de o presidente dizer que já tinha um programa de Governo com vistas a 2025, quando terminaria um quarto mandato, o fato é que agora ele precisará se concentrar em realizar os projetos possíveis até 2019. “A vida segue, e a luta continua”, disse o mandatário na segunda-feira.
Além disso, ele terá de cuidar da sucessão dentro do seu Movimento ao Socialismo (MAS), algo que não soube fazer em 10 anos no poder. Como se viu nas últimas eleições locais, em meados do ano passado, quando o partido governista sofreu seu primeiro revés, a Bolívia sempre se mostrou mais evista que masista. “Temos líderes jovens, com discurso, mas pouca experiência. É preciso procurar quem puder ser um fator de unidade. Essa é a questão”, disse o presidente a este jornal no último sábado.
O não à intenção de Morales de modificar a Constituição não traz consigo o sim a uma alternativa ao presidente. A partir de agora, abre-se também a batalha na fragmentada oposição boliviana, que acumula sucessivas derrotas severas nas disputas eleitorais da última década. A única característica que a une é a rejeição à figura do presidente. Não há um bloco homogêneo com uma liderança visível. Nem os mais conservadores, como o ex-presidente Tuto Quiroga ou o três vezes candidato Samuel Doria Medina, nem os progressistas, como o prefeito da capital, Luis Revilla, e o governador do departamento de La Paz, Félix Patzi, souberam galvanizar a oposição. Todos, entretanto, iniciarão a partir de agora o caminho para a eleição presidencial de 2019.
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