terça-feira, 28 de junho de 2016

DESVIO MILIONÁRIO

César Galvão, Jornal Hoje
A Polícia Federal prendeu, nesta terça-feira (28), 14 pessoas, suspeitas de desviar quase R$ 180 milhões da Lei Rouanet, de incentivo à cultura. As investigações da Operação Boca Livre indicaram que o dinheiro foi usado para financiar até festa de casamento.
Um casamento chique, na praia de Jurerê Internacional em maio. Segundo a Polícia Federal, tudo foi pago com dinheiro que o Ministério da Cultura liberou para pagar uma apresentação pública de uma orquestra sinfônica. O noivo é filho de um casal, preso nesta terça-feira (28), na Operação Boca Livre.
A polícia amanheceu no apartamento de Antonio Carlos Belini Amorim e Tânia Guertas. Eles são promotores de eventos. Os agentes fizeram buscas no escritório, nos quartos e armários. Livros produzidos para divulgar festas foram apreendidos.
A Polícia Federal cumpriu 14 mandados de prisão e 37 de busca e apreensão. Outro preso foi o produtor cultural Fábio Ralston. Agentes fizeram buscas em indústrias, uma montadora, escritórios de advocacia e até no Ministério da Cultura, em Brasília.
O inquérito policial foi instaurado em 2014, depois que a Polícia Federal recebeu da Controladoria-Geral da União uma documentação sobre os desvios de recursos relacionados a projetos aprovados com o benefício fiscal. Segundo a investigação, as empresas conseguiam dinheiro por meio da Lei Rouanet.
A lei, aprovada há 25 anos, permite que empresas e pessoas físicas repassem dinheiro a iniciativas culturais e descontem do imposto de renda.
“ Às vezes tinha projeto de R$ 1 milhão, teria uma dedução desse valor, só que serviço que seria prestado, era com valor muito aquém do que projeto foi aprovado. Essa demonstração da comprovação de valores era feita com notas fiscais fictícias por serviços que não foram prestados”, fala o delegado regional de Combate e Investigação ao Crime Organizado, Rodrigo de Campos Costa.
O desvio de recursos acontecia na execução dos projetos. A investigação da Polícia Federal descobriu que uma empresa recebeu recursos pela Lei Rouanet para realizar um evento para uma comunidade carente. Usou só uma pequena parte do dinheiro para isso. A fatia maior financiou uma festa para funcionários da própria empresa.
“Existem casos em que nem aconteceu de fato, não houve reversão do evento para quem deveria. Foi completamente revertido para festas privadas, eventos privados”, diz o chefe da Controladoria-Geral da União do estado de São Paulo, Roberto Viegas.
“A questão é que elas ganhavam duplamente. Na medida em que eram beneficiadas com dedução do ir - além disso existia contrapartida que era condição para que patrocinassem o projeto”, fala a promotora Karen Khan.
Esta foi a primeira investigação em que a Polícia Federal usou o lab, um laboratório criado para ajudar no cruzamento de informações sobre lavagem de dinheiro.
O Jornal Hoje não conseguiu contato com a defesa do casal preso. O filho deles, o noivo, também foi preso hoje. O site da empresa, na internet, está fora do ar. O Jornal Hoje também não conseguiu falar com a defesa do produtor cultural, preso nesta terça-feira (28).
Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário