sexta-feira, 29 de julho de 2016

MUDAR É PRECISO

Artigo de Marta Suplicy, Folha de S.Paulo
A vida é mudança. Eu mudei a vida toda. Meu pai e minha mãe são de família de industriais. Estudei em escola de freiras francesas. Na minha juventude, mulher não tinha voz. O que eu fiz? Ajudei a construir um partido para defender quem não tinha vez. E fui falar de sexo na televisão.
Hoje, olhando para trás, acho que acertei mais do que errei. E por uma razão simples: consegui realizar boa parte das coisas que sempre sonhei.
Tive três filhos, consegui me formar em psicologia, estudei fora do Brasil, fiz mestrado e pós-graduação. Ao todo, cinco anos, nos quais aprendi muito e adquiri uma visão cosmopolita para sempre. Num país de poucas oportunidades para muitos, aproveitei todas que a vida me deu.
Na vida pública, a missão que abracei há cerca de três décadas, dei um passo atrás do outro. Fui deputada federal, prefeita da minha cidade, ministra duas vezes, senadora e primeira vice-presidente mulher do Senado da República. E preciso confessar: eu olho para trás e sinto muito orgulho do caminho que segui.
E o que isso tudo tem a ver com mudança? Tudo e nada – ao mesmo tempo. Acho que fiz coisas importantes, que mudaram a vida de muita gente: Bilhete Único, os CEUs, os corredores de ônibus, os uniformes de excelente qualidade para estudantes marcados para se contentar com quase nada.
Mas, com o tempo, a gente aprende que as conquistas do passado são apenas memórias boas. O que muda a nossa própria vida, de verdade, não é o acerto. É o erro. Não é o passo certo. É o tropeço. Não é a linha reta. É a curva que não foi prevista. É difícil admitir erros e pedir desculpas pela decisão errada ou indelicadeza. No meio de muitos defeitos sei escutar, reconsiderar uma certeza e mudar de opinião.
Na vida fui muito impulsiva e ainda tenho que melhorar na paciência.
Quando fui prefeita, criei uma taxa que a cidade não poderia pagar. Ministra do Turismo, disse uma frase que eu jamais poderia ter dito. Fui mais intolerante do que deveria. E, às vezes, tolerei muito mais do que gostaria. Paguei um preço alto para amadurecer.
Mas errar pode ensinar a rever crenças, atitudes, pensar, tentar fazer melhor, mudar e ter força para começar de novo. Tanto na vida pessoal como na profissional. E começar de novo não tem preço. É a garantia de que estamos vivos e uma nova chance de não repetir os velhos erros.
Espero que lembrem mais dos acertos e me desculpem pelos erros.
Sou a Marta. Eu erro e acerto. Mas quando eu erro, eu tenho coragem para mudar.
PS: por falar em mudança, escrevo hoje a minha última coluna. Sentirei saudades. Agradeço à Folha pela oportunidade de estar próxima de vocês.
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MARTA SUPLICY deixa de escrever nesta coluna porque vai disputar a Prefeitura de São Paulo.
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