No momento em que escrevo, o impeachment ainda não foi
concluído no Senado. Porém, existem poucas dúvidas sobre a cassação da
presidente Dilma Rousseff, principalmente pelo fato de que, desde que foi
afastada, ela nada fez para reverter a situação. Parece inacreditável que Dilma
tenha tido 79% de aprovação, segundo o Ibope, em março de 2013. Inacreditável
porque, naquela época, muitos dos erros que acabaram com sua carreira política
já estavam postos. A aprovação popular recorde só agravava a sensação de poder
ilimitado e a sensação de egocentrismo, ambas mortais para políticos incompetentes.
Os erros já eram mais do que visíveis. As mágicas contábeis
do ano anterior feriram de morte a credibilidade fiscal do País. As regras de
concessões, endurecidas pelo multiministro Arno Augustin, afastavam
investidores. A manipulação dos preços de energia e combustível iniciava a
destruição dos respectivos setores e trazia desconfiança sobre a condução da
política econômica. Juros eram reduzidos no porrete, sem a devida cautela. Já
no segundo ano do governo, o diálogo político era precário. O Palácio do
Planalto se encastelava e considerava que o “hiperpresidencialismo” autoritário
daria conta do Brasil. Com o passar do tempo, apesar das recomendações do
ex-presidente Lula, o que era precário passou a ser inexistente.
Em julho de 2013, Dilma e seu governo receberam uma wake-up
call com as manifestações de rua. Os protestos mostravam uma mobilização que
passava ao largo dos mecanismos tradicionais de ação política que eram
monopólio do PT e de seus satélites. De nada serviu, mesmo com os alertas repetidos
de Lula de que a política e a economia tinham que mudar. A campanha de
reeleição à Presidência foi difícil. Mas, na base da chantagem emocional e
devido a erros grotescos da oposição, Dilma se reelegeu. Ainda que, para tal,
tenha promovido um festival de traições entre os aliados. Tudo para ter tempo
de televisão.
Reeleita, quando deveria promover a união de sua base
política, uma das maiores da história do País, e se ajoelhar ao pé da cruz para
agradecer a incompetência da oposição, prosseguiu distante, autoritária e
absolutamente incapaz de fazer uma leitura correta da situação. E, pior: além
de seus erros, Dilma tinha a Operação Lava-Jato nos calcanhares.
Melancolicamente, a era Dilma chega ao fim sem deixar saudade. Deixará é raiva
em muitos – em especial, entre seus aliados, pela perda da máquina pública que
eles levaram décadas para conquistar. Ao contrário de Getúlio Vargas, que ela
tanto admira, junto com Brizola, Dilma sai da vida pública para a
insignificância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário