Da ISTOÉ
Os fatos revelados nos últimos dias sobre a origem dos
recursos usados nas campanhas presidenciais de Dilma Rousseff desmentem
categoricamente a versão apresentada pela presidente afastada. Desde que a
operação Lava Jato passou a desvendar a corrupção que o PT e seus aliados
institucionalizaram no País, Dilma insiste em se definir como uma pessoa
honesta, alheia a todos os crimes praticados em sua gestão. Agora, a
comprovação de que milhões desviados da Petrobras abasteceram suas campanhas
reforçam as acusações existentes na Justiça Eleitoral e remetem a presidente
afastada para a alçada da justiça criminal. O presidente do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), ministro Gilmar Mendes, já encaminhou para o STF uma série
de documentos e perícias que demonstram a prática de crimes nas campanhas
petistas. Caberá ao ministro Edson Fachin determinar o andamento do processo.
“O que estamos verificando são crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Não
se trata apenas de caixa dois eleitoral”, disse Mendes a interlocutores na
última semana.
“Sem o meu conhecimento”
As novas provas contra Dilma vêm à tona exatamente no
momento em que se aproxima a votação definitiva do impeachment pelo plenário do
Senado, o que praticamente chancela o destino da presidente afastada. Diante
dos fatos concretos apresentados pelos técnicos do TSE e nos contundentes
depoimentos colhidos pela operação Lava Jato, Dilma passou a última semana se
embaralhando em uma sucessão de versões que se modificam a cada dia. Desde o
início das investigações, ela afirma que não houve irregularidades em suas
campanhas. Na sexta-feira 22, depois de o marqueteiro João Santana revelar ter
recebido no Exterior US$ 4,5 milhões de um dos operadores do Petrolão para
saldar dívidas da eleição de Dilma, a presidente afastada mudou o tom do
discurso. “Se houve caixa dois em minha campanha foi sem o meu conhecimento”,
afirmou Dilma, como se fosse possível supor que a titular da disputa eleitoral
nada soubesse sobre os maiores pagamentos feitos a seu staff mais próximo. Na
quarta-feira 27, a presidente afastada apresentou uma terceira versão. Desta
vez jogou a responsabilidade para o PT. “Ele (João Santana) disse que recebeu
em 2013. A campanha foi encerrada em 2010 e a partir do momento em que é
encerrada, tudo o que ficou pendente de pagamento passa a ser responsabilidade
do partido”, disse Dilma. Ela nada comentou sobre o fato de o dinheiro usado
para saldar a dívida com o marqueteiro ter origem em desvios praticados na
Petrobras, durante seu mandato. Também nada afirmou sobre o pagador ser um dos
operadores do Petrolão, já identificado e preso pela Lava Jato. “Quem tratou
essa questão (o pagamento de US$ 4,5 milhões) com ele (João Santana) foi a
tesouraria do PT”, disse Dilma.
Além dos criminosos pagamentos feitos ao marqueteiro, o TSE
encontrou novos indícios de crime na prestação de contas da última campanha de
Dilma. Depois de verificar que as gráficas Focal, VTPB e Red Seg receberam R$
52 milhões por serviços jamais prestados à campanha, como revelado por ISTOÉ,
ficou comprovado, na última semana, que a DCO Informática, de Uberlândia (MG),
recebeu R$ 4,8 milhões também sem realizar serviço algum. Em tese, a empresa
foi contratada para enviar mensagens de apoio a Dilma, via WhatsApp, durante a
disputa eleitoral. As investigações do TSE mostraram que a empresa funciona em
uma residência, não tem identificação na fachada, possui apenas um computador e
três funcionários temporários. Aos investigadores, diretores da DCO disseram ter
repassado a missão para a 2K Comunicações, empresa que pertence a Keffin
Gracher, um ex-assessor do ex-ministro Edinho Silva, que foi o tesoureiro da
campanha petista de 2014. “É evidente que usaram a campanha para lavar dinheiro
desviado do Petrolão e poderá haver punição também na esfera penal”, afirmou o
ministro Gilmar a um colega do TSE.
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