Ao traçarem as projeções para as próximas eleições, líderes
do Partido dos Trabalhadores vislumbram um cenário de hecatombe. A equação
“impeachment, corrupção e crise econômica” compromete o futuro do partido. O PT
passou de queridinho para rejeitado em quatro anos. Os apoios do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ou da sucessora Dilma Rousseff não são mais
disputados. Pelo contrário. Eles se tornaram espécies de âncoras que levaram a
uma diáspora petista. Cerca de um quarto dos 632 prefeitos deixaram o partido.
Procuram, como Luciano Cartaxo em João Pessoa, desvencilhar-se da mácula da
corrupção. Sabem a dificuldade que é convencer eleitores ou outros partidos a
apoiarem um petista. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, por exemplo,
perdeu metade das legendas que ajudaram a elegê-lo e amarga 9% nas pesquisas,
com 76% de reprovação. Ele até tentou esconder os símbolos petistas em uma
estrategia que virou moda dentro da legenda. A estrela vermelha ostentada em
outros tempos desapareceu dos materiais de campanha de outras cidades
consideradas berço do partido, como São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e
Diadema. Pudera. A associação à imagem petista tem prejudicado candidatos até
em cidades onde tradicionalmente o PT possui boas votações. Luizianne Lins com
18% das intenções de voto em Fortaleza e Reginaldo Lopes com 3% em Belo
Horizonte sabem bem disto. Patinam para conseguir votos.
A crise do PT se evidencia na disputa pelas prefeituras das
26 capitais do País. Desde 2004, o número só cai. Passaram de nove para quatro
na disputa de 2012 e foram a três com a saída do prefeito de João Pessoa,
Luciano Cartaxo, para o PSD em 2015. “Não queremos e não vamos perder mais
nenhum minuto sequer com explicações sobre erros que outras lideranças tenham,
eventualmente, cometido”, disse Cartaxo ao abandonar a legenda. “O partido não
pode ser um empecilho, um dificultador, para o projeto que está desenvolvendo
com tanto êxito na nossa cidade. Deveria ser o oposto, um elemento motivador,
agregador e incentivador”, complementou. A decisão se mostrou politicamente
acertada. Fora do partido, ele lidera com folga o pleito à reeleição. Venceria
no primeiro turno com 52%, segundo o Instituto Ibope. E, para desespero da
direção do PT, cerca de outros 150 prefeitos também bateram em retirada.
Enfrentarão antigos correligionários nas urnas.
Ao depender das pesquisas de intenção de votos, aqueles que
ficaram no partido enfrentam uma perspectiva sombria. O PT perderá duas das
três capitais que administra. Deve permanecer apenas à frente de Rio Branco. Lá
Marcus Alexandre aparece como franco favorito à reeleição. Em Goiânia, a
candidatura da deputada estadual Adriana Accorsi, apoiada pelo prefeito Paulo
Garcia, não deslancha. Ela aparece em quarto lugar com 8% e enfrenta a segunda
maior rejeição: 18% dos eleitores dizem que não votariam nela de jeito nenhum.
Um cenário tão ruim quanto o enfrentado por Fernando Haddad na capital
paulista. O petista divide o terceiro lugar com João Doria (PSDB) e Luiza
Erundina (PSOL) e aparece um dígito atrás de Marta Suplicy (PMDB) e do líder
Celso Russomanno (PRB). Mais de sete em cada dez paulistanos são críticos a sua
administração e 52% se negam a votar nele. O desespero de Haddad se tornou
tamanho que ele tenta vender uma gestão inexistente para a população. Recorre a
números inventados para maquiar o caos instaurado na saúde e na educação
pública durante seu governo. Em um debate, chegou a falar que a maior parte dos
paulistanos aprova a saúde pública oferecida pelo município. Nada disto.
Levantamentos mostram que, se a população tivesse de avaliá-lo neste quesito,
Haddad repetiria de ano. Teria uma nota vermelha de 4,5. Está abaixo do
antecessor e atual ministro das Comunicações, Gilberto Kassab (PSD).
“O desespero de Haddad se tornou tamanho que ele tenta
vender uma gestão inexistente.
Recorre a números inventados para maquiar o caos instaurado
na saúde e na educação”
Para fugir da insatisfação popular com o PT, o prefeito de
São Paulo, Fernando Haddad, tentou aderir a uma nova moda entre os candidatos
do partido. Escondeu símbolos do partido na campanha. Não quer ser associado
aos escândalos de corrupção, à crise econômica ou ao impeachment. A estrela
petista, empunhada com orgulho em outros tempos, foi reduzida a tamanhos
praticamente invisíveis nos primeiros panfletos. A decisão criou uma discussão
interna. Lideranças não aceitaram a estratégia e o convenceram a aumentar as
menções ao PT. Parecem não reconhecer as consequências do antipetismo. Até na
única capital em que aparece como favorito a voltar ao poder, o petista sofre
os efeitos da imagem arranhada da legenda. Líder nas intenções de voto, o
ex-prefeito de Recife João Paulo enfrenta dificuldades para trazer aliados para
sua coligação. Tem o apoio apenas do PTB, do PRB e de outros dois partidos
nanicos. Um isolamento que se reflete no horário eleitoral. O petista terá 2
minutos e 33 segundos para mostrar as suas ideias nos programas de rádio e
tevê. Um ponto atrás nas pesquisas, o atual prefeito Geraldo Julio (PSB)
contará com praticamente o dobro do tempo. Graças a uma aliança com 20 partidos
terá 4 minutos e 48 segundos de exposição. Lá nem o PC do B quer o PT.
“A falta de competitividade fez diretórios municipais
petistas desistirem de lançar candidatos na disputa eleitoral”
Sem candidatos
A falta de competitividade fez diretórios municipais petistas
desistirem de lançar candidatos na disputa eleitoral. Em 2016, o PT terá o
menor número de postulantes ao cargo de prefeito em cerca de vinte anos. Serão
992, cerca de 800 a menos do que há quatro anos. A queda é maior entre os
candidatos a vereador pelo País. Foram de 40.960 para 21.629, uma redução de
47,19%. Uma das saídas encontradas pelo partido foi a de apoiar nomes das
poucas legendas que permaneceram ao lado do PT após o afastamento da presidente
Dilma Rousseff, como PDT e PC do B. No Estado da Bahia, comandado há três
gestões pela sigla, o PT apostará em uma aliança com os comunistas para a
prefeitura de Salvador. Mas abrirá mão da cabeça da chapa. Indicou o vice da
deputada federal Alice Portugal (PC do B). As chances de vencer são remotas. Ela
possui 8% dos votos. O atual prefeito, ACM Neto (DEM), deverá ganhar no
primeiro turno com 68% dos votos. É mais um retrato do fim da organização
partidária condenada ao ostracismo.
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