Da ISTOÉ
A violência marca as eleições de 2016, as primeiras após o
impeachment de Dilma Rousseff. Em Itumbiara (GO), o candidato a prefeito Zé
Gomes (PTB) foi assassinado na quarta-feira 28 numa carreata, dois dias depois
de o candidato a vereador e presidente da Portela, Marcos Vieira de Souza (PP),
ser morto em seu comitê, no Rio de Janeiro. No País que sediou os memoráveis
Jogos Olímpicos 2016, ao menos 20 pessoas foram eliminadas das campanhas
eleitorais na base da bala, desde agosto. Em São Gonçalo (RJ), homens armados
impediram a circulação do jornal Extra, que trazia denúncias contra um
candidato a vereador pelo PMDB.
As motivações desses crimes bárbaros contra a vida e a
democracia ainda precisam ser esclarecidas, mas é evidente que eles simbolizam
o lamentável faroeste em que se tornou a política brasileira. Em muitas
cidades, sobram acusações de corrupção, incompetência e improbidade administrativa
entre os principais candidatos e faltam propostas concretas e factíveis para
melhorar a vida dos cidadãos. São eles que sofrem na pele as balas certeiras
dos escândalos dos governos municipais, estaduais e federal nos últimos anos:
recessão, desemprego, precariedade na saúde, na educação e nos transportes. São
eles que têm dúvidas sobre quais candidatos estão do lado da lei e do povo e
quais são meros criminosos prontos para roubar o dinheiro público por mais
quatro anos. Muitos eleitores indignados, ao exercerem o poder das urnas em 2
de outubro, votarão em novatos na política somente por isso, como se a
experiência fosse um mal a ser expurgado, em vez de valorizado.
A Operação Lava Jato, nesse aspecto, contribui para a
moralização da política no País ao desmontar esquemas de corrupção e
financiamento eleitoral e prender políticos, empresários e gestores públicos que
saquearam a Petrobras. Mas quantos escaparão da Justiça e seguirão impunes?
Onde está a justiça num País que rasga a Constituição ao fatiar a sentença do
impeachment para preservar os direitos eleitorais de alguns políticos acusados
de crimes? Onde está a justiça num País em que seguem livres os policiais
militares condenados pelo massacre dos 111 presos do Carandiru, há 24 anos? Com
o perdão da comparação, candidatos de vários partidos que assassinaram a ética
sofrerão uma chacina nas urnas nesse final de semana. E outros suspeitos serão
eleitos. Restará a dúvida: fez-se justiça?
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