sexta-feira, 28 de outubro de 2016

DÓRIA E O PROSECCO DERRAMADO

Ricardo Soares, DOM TOTAL
No dia primeiro de janeiro de 2017 muita gente acredita de verdade que vai começar um admirável mundo novo em muitas prefeituras do Brasil quando na verdade na maioria delas tudo  será como antes. Os mesmos velhos desmandos, os mesmos maus hábitos, as mesmas trocas de favores, o mesmo clientelismo , o mesmo toma lá, dá cá.
Mesmo em São Paulo, a maior de nossas cidades, tem gente que crê de verdade que a chegada de João Dória ao poder mudará os trilhos da história municipal quando na verdade o futuro prefeito é apenas a mais completa tradução da contradição onde se elege como "novo" aquilo que tem de mais velho. Mais uma gargalhada da história para aqueles que não conhecem história.
Na sua aristocracia rural depois convertida em urbana e industrial  São Paulo deu ao país muita gente boa mas aberrações politicas como Jânio, Ademar de Barros  e outras figuras exóticas e bizarras como o recém todo poderoso Gilberto Kassab, o falso anódino. Isso sem falar no abominável poeta e empreiteiro de mesóclises Michel Temer, aquele que é sem nunca ter sido.
Antes de achar graça na ironia dos fatos que se repetem como paulistano da gema me intriga muito essa mania dos meus conterrâneos em se considerar a vanguarda da nação quando escolhemos sempre variações sobre o mesmo tema para nos desgovernar. Senão no municipio no Estado como vemos há muito tempo com os tucanos que  ocupam a gaiola do Palácio dos Bandeirantes e sujam todos os poleiros.  João Dória, nesse contexto, é a nova "avis rara" saída dessa estufa de maldades e não vem para brincar não. Vem com sede, posando de democrata, para desconstruir tudo aquilo que seu antecessor conseguiu fazer.
Não adianta lamentar o prosecco derramado. Dória veio e tem planos de ficar muito mais. Tem caras ambições manipulando as emoções baratas dos pobres de direita que pululam nas periferias. Encontra um país em mau estado e promete ( mesmo que não o faça explicitamente) consertar o Brasil a partir do "exemplo" paulistano.  Não dou um real furado por esse discurso do novo prefeito e desejo de coração que ele não erre tão feio assim o alvo ao prometer ser o Messias que todos sabemos que ele não poderá ser. Os amigos certos de Dória, aqueles a quem ele sempre bajulou e pelos quais intercedeu, estarão aí firmes e fortes a sorrir dentes lindos para as fotos ao lado do nosso novo alcaide. Resta saber em quanto tempo vão cariar ainda mais a arcada da urbe paulistana tão maltratada pela desigualdade que nem de longe Dória parece preocupado em consertar.
Ricardo Soares é escritor e jornalista. Publicou 7 livros e dirigiu 12 documentários. Escreve às segundas e quintas no DOM TOTAL. É autor do blog Todo Prosa
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