segunda-feira, 22 de maio de 2017

VIRADA ESVAZIADA

A proposta da gestão de João Doria (PSDB) de migrar as atrações principais da Virada Cultural para cinco palcos afastados do centro esvaziou significativamente a edição de 2017 do principal evento cultural da prefeitura –que não revelou número de público até a conclusão desta edição.
Os lugares mais afetados foram os palcos que receberam as principais atrações do evento, que teve início às 18h do sábado (20) e acabou no início da noite de domingo (21).
Anhembi, parque do Carmo, praça do Campo Limpo e Autódromo de Interlagos não chegaram nem perto de ter a quantidade de pessoas que foram aos grandes palcos das edições passadas. A exceção foi o parque Chácara do Jockey, que conseguiu cativar o público com uma curadoria que reunia nomes musicais em ascensão.
Houve shows em que o número de espectadores não chegava a dez. Vencedor do último Grammy Latino de melhor disco de rock em português, Ian Ramil se apresentou para pouco mais de 20 pessoas no tablado da rua 7 de Abril.
Daniela Mercury, destaque da abertura no Anhembi, no sábado, cantou para cerca de 2 a 3 mil pessoas, estimou a Guarda Civil Metropolitana –no Carnaval paulistano, a baiana teve um público de 500 mil pessoas, segundo o patrocinador.
No centro, único local que teve programação 24 horas, o público foi inconstante, mas nenhuma atração lotou, como em anos anteriores.
Apesar de convencido de que o centro "ficou repleto de gente", o secretário municipal de Cultura, André Sturm, afirma que a redução de público foi intencional. "Não queríamos um show com 40 mil pessoas no centro. Foi uma decisão convicta."
Na avaliação de Sturm, a concentração "gerava problemas de segurança, logística e transporte".
A estratégia recebeu elogios de quem foi contemplado com shows perto de suas casas em bairros afastados. Por outro lado, foi criticada pelos que queriam seguir a proposta inicial do evento e aproveitar mais de uma atração em locais diferentes.
FALHAS
O público deparou-se com cancelamentos de shows, atrasos e falhas técnicas neste fim de semana.
Um dos principais nomes da programação descentralizada, Fafá de Belém não cantou para os cerca de 50 fãs que a esperavam na madrugada de domingo (21), no Anhembi. Segundo sua produção, ela teve uma "leve indisposição por conta do frio".
A cantora não deu sorte e repôs a apresentação debaixo de chuva no encerramento do evento, no parque do Carmo, ao lado de Alcione.
O tempo ruim que teria impedido a passagem de som de Mano Brown na sexta também foi o motivo do cancelamento do show que o rapper realizaria no Centro Cultural Palhaço Carequinha, no Grajaú, neste domingo. Edi Rock apresentou-se em seu lugar.
O clima político da semana apareceu na maioria das apresentações acompanhadas pela reportagem; ora do público, ora do palco, vinha o grito de "Fora, Temer".
A chuva não foi o único fator a atrapalhar o evento. Falhas na infraestrutura também afetaram a realização, especialmente na região central.
A prefeitura esqueceu de equipar o tablado onde tocariam, às 18h do sábado, os DJs da festa de soul Talco Bells, no Coreto da Bolsa de Valores, na praça Antônio Prado.
"Viemos com a intenção de fazer uma noite memorável, mas não foi possível", postaram em uma rede social.
A Secretaria Municipal de Cultura afirmou que houve um problema técnico e que a montagem do palco foi concluída às 2h, a tempo da festa Pinga Ni Mim.
Em alguns lugares, a falta de gerador ou de luz inviabilizou as apresentações.
Foi o caso da cantora Iara Rennó. Ela afirma que, ao chegar à rua Aurora, viu o palco apagado por falta do equipamento. "Eu até fiz um pequeno número 'a capella', para diminuir a frustração [dos fãs]". O show foi cancelado.
Outra falha interrompeu a apresentação do Circo Zanni no Anhembi. Uma pane elétrica deixou o palco sem luz por volta das 21h50.
Dispostos a cem metros de distância entre si, os tablados do centro, em sua maioria, sofreram interferência de som de estruturas vizinhas.
O Cabaré Queer, em frente ao Copan, alternava a programação com o Cabaré República, situado do outro lado do mesmo quarteirão. As passagens de som em um se misturavam ao que era tocado no pequeno palco ao lado.
No tablado Instrumental, na praça Dom José Gaspar, era possível ouvir as bandas que tocavam nas redondezas.
A questão irritou o pianista Vitor Araújo, que se apresentou no local às 18h do sábado."Não nos foram dadas as mínimas e mais básicas condições para realizarmos bem o show", escreveu em uma rede social.
A Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo avalia esses casos como pontuais. Segundo o secretário, André Sturm, os erros serão levados em conta para aprimorar a próxima edição.
"A gente começa a fazer essas negociações todas atrasados. Para o ano que vem, não só a gente terá a experiência deste ano como a gente vai poder começar a fazer as contratações muito antes, conseguir preços melhores e empresas mais estruturadas, porque a gente ficou muito na mão dessas licitações que são feitas de última hora, muito limitado com os resultados."
ALTOS E BAIXOS
O que rolou e o que não rolou na Virada
DEU BOM
LIMPEZA
Diferentemente das outras edições, não houve excesso de lixo nas proximidades dos palcos
SEGURANÇA
Com edição mais vazia, as ocorrências policiais diminuíram, nos palcos mais distantes, como os do parque Chácara do Jockey, a sensação era de segurança
ALIMENTAÇÃO
Assim como a segurança, item se beneficiou do público menor; havia pouca fila, mas vendedores reclamam de queda nas vendas
ZONA SUL
Não precisar se deslocar até o centro para acompanhar programação foi ponto positivo apontado por público dos palcos na região
DEU RUIM
CENTRO ESVAZIADO
Com menos atrações e palcos menores, região teve público muito abaixo do das edições anteriores
CANCELAMENTOS
Fafá de Belém, Mano Brown, Talco Bells e Iara Rennó tiveram de cancelar suas apresentações; Fafá cantou, no dia seguinte, com Alcione
MESMO PALCO, DIFERENTE VIBE
De Daniela Mercury para Circo Zanni, público minguou 
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